Por que o governo permitiu que o PCC se tornasse exército e multinacional do crime?

Dois fatos violentos, quase simultâneos, ocorreram no país nos últimos dias. Um deles mereceu das autoridades máximas e da imprensa uma divulgação próxima do paroxismo; o outro ficou praticamente esquecido. Acontece que esse tratamento diferenciado é o que interessa ao Sistema (Deep State, diria Donald Trump) que nos governa, logo, ele prevalece. Mas é o que interessa à sociedade brasileira? Principalmente à parte dela que trabalha com afinco, cuida com sacrifício da educação dos filhos, paga seus impostos em dia, cumpre as leis e não desfruta de benesses públicas? É o que merece o brasileiro simples, de roupas modestas e pouco dinheiro no bolso, mas honesto? É o que tentaremos deduzir. Os dois acontecimentos:

1

No dia 8 deste mês, o empresário Vinicius Gritzbach foi morto a tiros no aeroporto de Guarulhos, numa operação militar de comando executada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

2

No dia 13 passado, o desequilibrado mental Francisco Wanderley Luiz, após destruir seu carro com explosivos, matou-se também com explosivos na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Examinemos os dois acontecidos, do ponto de vista do interesse da sociedade brasileira e não da perspectiva das elites do governo e da imprensa:

— O empresário do ramo imobiliário Gritzbach, que tinha suas ligações com o PCC, se propôs a fazer uma delação premiada, onde indicaria membros da facção criminosa e apontaria operações de lavagem de dinheiro na compra de imóveis, que tinha intermediado. Antes que pudesse fazê-la, foi executado, ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, no dia 8.

Detalhes muito preocupantes do crime: a) Foi precedido de um planejamento onde se usou sofisticado levantamento de inteligência. Os criminosos tinham conhecimento do voo de Gritzbach, com hora de decolagem e de pouso; tinham conhecimento de sua escolta policial e de como neutralizá-la; tinham monitoramento no saguão do aeroporto. b) A execução foi cometida em poucos segundos, numa operação de comando perfeitamente sincronizada, equivalente às cumpridas pelo exército israelense, um dos mais eficientes do mundo; o objetivo foi atingido com segurança (10 tiros de fuzil no empresário); a escolta policial que acompanhava o empresário foi neutralizada sem disparar um tiro; o plano de fuga foi cumprido com perfeição e nenhum criminoso foi preso.

O efeito secundário também foi lamentável — um motorista de aplicativo foi morto no tiroteio. A preocupação com fato tão extraordinário pode ser traduzida em perguntas: como uma organização criminosa conseguiu chegar a esse poderio financeiro que lhe permite além de acumular imóveis como hotéis e administrar empresas como as de transporte coletivo, e montar sofisticada operação militar de comando sem que o Governo reagisse?

Como chegou formar uma milícia armada, como se vê nos filmes que rodam pelas redes sociais e dominar áreas em favelas nas maiores cidades do país, sob o olhar complacente dos governos de esquerda? Como chegou à perfeição militar de executar essa operação no maior aeroporto da América Latina? Teria tido ajuda das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a organização narcoterrorista vizinha, como já se aventou muitas vezes?

Não preocupa ver que alguns elementos do tráfico (como Luciane Barbosa, a “Dama do Tráfico” amazonense) transitam com facilidade por ministérios petistas sem serem incomodados? Não perturba saber que um carro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da escolta do próprio Lula da Silva, foi assaltado e levado, com todos os pertences, por traficantes, às vésperas da última eleição (fato também “esquecido” pela imprensa)?

Em resumo, se há algo que deveria estar preocupando as autoridades dos três poderes, a ponto de fazê-lo se movimentar com energia, é esse assassinato. Se algo deveria explodir na imprensa, traduzir preocupação e gritar por providências, não seria outro evento. Mas o que se vê é uma imprensa calada, um governo ausente, um ministério da Justiça que ignora o que aconteceu. Mas eles fazem de outro fato, bem menos significativo, um cavalo de batalha:

— O maluquinho desesperado Francisco Wanderley detona em Brasília seu carro cheio de explosivos caseiros e de tijolos; suicida-se atabalhoadamente como homem-bomba improvisado que não atinge ninguém além de si próprio; deixa um rastro de sandices gravadas que atestam, sem a menor necessidade de um psiquiatra que se trata de um doido varrido; se algum dia representou algum perigo, já é apenas passado. O que acontece? Uma narrativa (como diria o presidente Lula da Silva).

O estardalhaço que a imprensa não fez no assassinato cinematográfico de Guarulhos, ela fez nesse suicídio patético da Praça dos Três Poderes; ministro da Justiça e ministros do Supremo fazem declarações pomposas sobre os perigos futuros que representa o morto e bem morto Francisco Wanderley; prometem-se inquéritos vários sobre o suicida e tudo que esteja em seu entorno, pois se trata de um “atentado contra a democracia”, embora precisássemos mesmo é desvendar sobre as organizações poderosas, capazes de montar uma operação militar como a que vimos em Guarulhos.

Esse abordar acontecimentos com dois pesos e duas medidas, que tanto interessa politicamente ao governo, interessa ao brasileiro comum? Um demente suicida ameaça mais o leitor que o assaltante armado que rouba o seu celular para comprar a droga ou o traficante que toma seu carro sob a ameaça de uma pistola para trocá-lo também por droga no Paraguai? Quem representa perigo para o trabalhador brasileiro? O desequilibrado que nunca chegaria perto do carro blindado do ministro ou o traficante que assalta, mata ou alicia o jovem na escola para viciá-lo? Quem deve preocupar mais, o tráfico cada vez mais poderoso ou o suicida que já se foi?

O Sistema que nos governa ignora a sociedade de que fazemos parte e está cada vez mais distante dela.

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