Brasil atingiu marca de 672 mil pacientes em tratamento com cannabis

O Brasil atingiu, em 2024, o marco de 672 mil pacientes utilizando cannabis medicinal para tratamento de diversas condições de saúde, um aumento de 56% em comparação ao ano anterior. O dado, divulgado pela Kaya Mind no anuário deste ano, reflete não apenas o crescimento na adesão dos brasileiros a essa terapia, mas também a expansão do mercado, que movimentou R$ 853 milhões. 

Com pacientes em aproximadamente 80% dos municípios do país, a cannabis medicinal se consolida como uma alternativa no campo da saúde.

Nos últimos três anos, o mercado de cannabis medicinal no Brasil experimentou uma ascensão. Em 2021, o segmento movimentou R$ 144 milhões, passando para R$ 364 milhões em 2022 e atingindo os R$ 853 milhões em 2024. Para 2025, a projeção é que o setor supere R$ 1 bilhão, impulsionado por avanços regulatórios e pela crescente aceitação médica e social.

Maria Eugenia Riscala, CEO da Kaya, destacou que há mais de 2.180 produtos à base de cannabis medicinal disponíveis no país. Essa diversidade atende a uma ampla gama de necessidades terapêuticas. “A expansão da cannabis medicinal é visível no Brasil, não apenas em números, mas na forma como a medicina integra essas opções de tratamento à rotina dos pacientes em todo o país”, diz à Agência Brasil.

Importações ainda predominam, mas cenário pode mudar

Apesar do crescimento do mercado interno, 47% dos pacientes ainda dependem da importação de medicamentos à base de cannabis, um processo que pode ser demorado e oneroso. Outros 31% recorrem às farmácias nacionais, enquanto 22% se apoiam em associações, que oferecem ajuda para aqueles que não possuem recursos financeiros para cobrir os custos dos produtos.

A recente decisão da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autorizou a importação de sementes e o cultivo de cânhamo industrial para fins medicinais e industriais, é vista como um marco para o setor. O cultivo regulamentado pelo Estado pode reduzir os custos de produção e ampliar o acesso aos medicamentos, especialmente nas farmácias.

O papel das associações no apoio aos pacientes

As associações continuam sendo fundamentais para ampliar o acesso à cannabis medicinal no Brasil. A TO Ananda, uma organização do Tocantins, exemplifica esse movimento. Em entrevista concedida à Agência Brasil, o vice-presidente da entidade, Jonadabe Oliveira da Silva, diz que mesmo pessoas com visões mais conservadoras têm abandonado preconceitos.

“Estão quebrando [a visão preconceituosa ou de que é tabu] depois de ver pacientes”, destacou Jonadabe. A associação, que surgiu há dois anos, conta com apoio de instituições como a Defensoria Pública e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Para o próximo ano, planejam parcerias com laboratórios e universidades privadas, o que promete ampliar ainda mais o alcance dos serviços oferecidos.

Benefícios terapêuticos amplamente reconhecidos

O avanço da cannabis medicinal no Brasil também está atrelado ao crescente volume de estudos científicos que comprovam sua eficácia no tratamento de diversas condições. Entre os benefícios mais conhecidos estão os efeitos positivos no controle de epilepsia, esclerose múltipla, autismo, doença de Parkinson, fibromialgia e dor crônica.

Além disso, produtos à base de canabidiol (CBD) têm sido indicados para outras condições, como transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático, câncer, Alzheimer, glaucoma e lesões musculares. Com a regulamentação avançando, especialistas preveem que mais doenças poderão ser incluídas na lista de indicações médicas.

Regulamentação como catalisador para o setor

A decisão do STJ e os avanços regulatórios em curso são vistos como catalisadores para a consolidação do mercado brasileiro de cannabis medicinal. Segundo Thiago Cardoso, chefe de Inteligência da Kaya Mind, o Brasil está se posicionando como um mercado competitivo e inovador no cenário global.

“Esse avanço permite que mais pacientes encontrem soluções terapêuticas adequadas às suas necessidades e posiciona o Brasil como um mercado competitivo e inovador no cenário global”, diz Cardoso à Agência Brasil. Em 2024, o país importou produtos de 413 empresas estrangeiras, o que diversificou ainda mais a oferta.

Além disso, a regulamentação do cânhamo industrial, que possui baixos níveis de THC e é utilizado exclusivamente para fins medicinais e industriais, promete baratear a produção de medicamentos como o CBD. Isso se alinha à análise da ministra do STJ, Regina Helena, que destacou como a diferenciação entre uso medicinal e recreativo contribui para desmistificar o tema.

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