Goiás é o estado com mais indígenas em área urbana do país, diz IBGE; chefe da Funai explica

O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 53,97% da população indígena brasileira vive em áreas urbanas, totalizando 914.746 pessoas. Esse número representa um aumento de 181,6% em relação a 2010, quando eram registrados 324.834 indígenas em regiões urbanas. O Estado de Goiás, com 95,52%, lidera em proporção de indígenas vivendo em áreas urbanas, conforme apontado pelo instituto.

Haroldo Resende, chefe substituto da Coordenação Técnica Local em Goiânia da Funai, explicou ao Jornal Opção os fatores que contribuíram para esse crescimento. Segundo ele, dois fatores principais explicam o aumento.

“Houve uma campanha de conhecimento prévia muito bem elaborada. Quando o recenseador chegava às comunidades, os indígenas já sabiam da possibilidade de se identificar, inclusive com a etnia pré-cadastrada nos sistemas do IBGE”, disse.

O segundo motivo foi o trabalho da Funai em parceria com o IBGE, que ajudou a alcançar comunidades remotas. “A FUNAI auxiliou na contratação de recenseadores indígenas ou com conhecimento dessas áreas, o que facilitou a chegada aos locais mais afastados”, explicou Haroldo.

Estados

Abaixo de Goiás, Rio de Janeiro (94,59%) e Distrito Federal (91,84%) também lideram em proporção de indígenas vivendo em áreas urbanas. Além desses fatores, a busca por oportunidades melhores também impulsionou a migração indígena para as cidades, especialmente em Goiás e no Distrito Federal.

“Aqui em Goiânia, no Setor Leste Universitário, há muitos indígenas estudando na Universidade Federal de Goiás. Em outras áreas, como a cidade de Goiás e o entorno de Brasília, eles buscam não só educação, mas também trabalho”, destacou.

Já Mato Grosso (82,66%), Maranhão (79,54%) e Tocantins (79,05%) concentram os maiores percentuais de indígenas em áreas rurais.

Já nas áreas rurais, o crescimento foi mais modesto: a população indígena alcançou 780.090 pessoas, um aumento de 36,36% no período. A idade mediana da população indígena urbana é de 32 anos, enquanto a dos indígenas em áreas rurais é de apenas 18 anos.

Outros dados

Em termos de distribuição de gênero, há predominância masculina em áreas rurais (106,65 homens para cada 100 mulheres) e predominância feminina em áreas urbanas fora de Terras Indígenas (89,37 homens para cada 100 mulheres).

“Embora ainda não haja uma conclusão formal, parece haver uma tendência das mulheres priorizarem os estudos e a qualificação antes de entrarem no mercado de trabalho, enquanto os homens buscam trabalho mais cedo”, concluiu Haroldo.

Apesar da redução na taxa de analfabetismo entre indígenas – de 23,4% em 2010 para 15,05% em 2022 – os índices ainda superam a média nacional de 7%. Haroldo ressaltou a necessidade de adequação no sistema educacional para atender às comunidades indígenas.

“A falta de materiais didáticos adaptados às línguas indígenas e de intérpretes em sala de aula são grandes entraves para reduzir o analfabetismo. Em áreas rurais, o cenário melhora porque as escolas são mais voltadas para essa população e têm turmas menores”, explicou.

O saneamento básico continua sendo um desafio: apenas 59,24% dos indígenas em áreas urbanas fora de Terras Indígenas têm acesso a esgoto adequado, frente a 83,05% da população urbana total.

Impactos culturais da migração urbana

A mudança para áreas urbanas também tem efeitos na preservação cultural. Segundo Haroldo, a manutenção de tradições está diretamente ligada à possibilidade de retorno às comunidades de origem.

“Quando o indígena consegue retornar para participar de ritos e festividades, o impacto é menor. Mas aqueles em situação de vulnerabilidade social, sem acesso a essa logística, acabam prejudicados na manutenção de costumes”, pontuou.

Os domicílios indígenas apresentam uma média de 4,63 moradores em áreas rurais dentro de Terras Indígenas, maior do que a média nacional de 2,79. Nas áreas urbanas fora de Terras Indígenas, a média cai para 3,32 moradores por domicílio.

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