Dores em noite de verão

Eudes Moraes*

Final de tarde!

As ondas do mar batiam nas areias do Pontal Norte e espalhavam acordes sonoros encantadores.

A areia estava multicolorida pelos guarda-sóis. O vai e vem de turistas tomava toda a frente do hotel Marambaia.

Pela ciclovia, lindos patinetes azuis desfilavam garbosamente, muitos deles conduzidos por menores, que imprimiam a velocidade máxima. E, lá iam eles costurando por entre motos elétricas, bicicletas e turistas.

Lindo, tudo muito lindo!

Balneário Camboriú foi inundada por esses patinetes azuis. Essa alternativa de micromobilidade teria o objetivo de facilitar o trânsito de moradores e turistas a diversos pontos da cidade. Teria! Não sou contra os patinetes, mas, o poder concedente, nāo teve o cuidado de regulamentar o uso.

Nessa época do ano, nós moradores, sabemos que sair de carro é um caos, pela quantidade de veículos e sérios problemas na mobilidade urbana da cidade. A bicicleta é minha alternativa. Eu vinha de uma reunião com o novo presidente da Fundação Cultural e estava quase chegando em casa, quando uns meninos bonzinhos disputando corrida de patinetes me atropelaram. Freei, subitamente, a bicicleta e cai. Senti-me um saco de batatas no ar. Com a queda me espatifei no concreto da ciclofaixa. Fui o espetáculo da tarde!

Fiquei ligeiramente desacordado, mas ainda assim percebi que as educadas crianças evadiram-se, sem me prestar socorro. Talvez, subiram ao pódio de coisas malfeitas! Pedidos de desculpas, nem pensar! Ecos do aprendizado nesses novos tempos…

Resumo da ópera: cai de boca no chão, machuquei muito o queixo, o joelho, as mãos e os pulsos. Ah, e a costela frontal! Tudo está inchado e com hematomas. Sai do hospital da Unimed às duas horas da manhā, pois estava lotado. Ouvi do médico que o número de vítimas, desse tipo de ocorrência, tem sido grande. No meu caso, felizmente, não houve fraturas.

As ondas do mar azul continuam encantando as nossas lindas praias e a brisa traz para a minha reclusão, os suaves acordes desse marulhar.

Dentro de mim, há gratidão a Deus porque o estrago poderia ter sido pior, se eu tivesse caído na pista de rolamento. Agradeço aos turistas que me socorreram e devolveram o telefone celular e o óculos de sol.

A cada dor que sinto, soa dentro de mim um palavrão, que deve reverberar nos ouvidos dos irresponsáveis.

Espero providências do poder público, antes que o pior aconteça!

  • Eudes Moraes é da Academia de Letras de Balneário Camboriu e da Academia de Cultura de Curitiba.
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