Conheça a juíza goiana que atua contra o crime organizado e lavagem de capitais

Nos últimos cinco anos, a Justiça entregou cerca de 100 veículos apreendidos às forças de segurança pública para que reforçassem a estrutura operacional, em Goiás. Os carros “diferentões” integram ações da justiça contra o crime organizado e que voltam ao Estado. Entre os bens estão ainda motos, lanchas, helicópteros e até aviões. 

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O levantamento exclusivo, realizado a pedido do Jornal Opção, aponta ainda um bloqueio efetivo de R$ 40 milhões por ordens judiciais em 2024. Apenas na primeira semana de março foram sequestrados R$ 20 milhões de uma determinada conta bancária. Os valores, assim como imóveis, são usados para quitar parte dos prejuízos provocados pelo crime organizado.

A juíza Placidina Pires, titular da Vara dos Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais de Goiás, é figura central na transição dos veículos, que abrange a Lei de Drogas de 2006. Com competência que abrange todo o estado, a magistrada foi a responsável por destinar, em larga escala, a maior quantidade de bens apreendidos à Polícia Militar (PM), Polícia Civil (PC), Corpo de Bombeiros, Polícia Técnico Científica e Conselho Tutelar. 

O reforço dos bens às forças de segurança pública começou em 2019, mesmo ano em que Placedina assumiu a vara recém-criada. Atualmente, devido a alta demanda, o estado possui duas varas voltadas à organização criminosa e lavagem de dinheiro. 

“Quando assumi me deparei com uma quantidade absurda de bens apreendidos ou sequestrados que estavam parados em pátios de delegacias e no depósito judiciário. Muitos já estavam precários porque estavam parados durante anos e, então, optei por autorizar o uso provisório destes bens. Não tem porque tomá-los para deixar perder. Depois de um tempo não vão ter mais valor econômico e vão ser vendidos como sucata”, explicou.

O processo judicial para emprestar os veículos “dá trabalho” e pode levar até duas semanas, conforme a magistrada. Além do desgaste jurídico para destinar o bem, a força de segurança que irá receber o reforço estrutural também deve se comprometer a dar manutenção, visto que o proprietário pode conseguir reverter a decisão se absolvido. Ou seja, pode conseguir o automóvel ou aeronave, por exemplo, de volta.

O tempo em que o bem pode permanecer sob os cuidados da instituição também é indeterminado, visto que alguns processos podem demorar anos para serem julgados devido à complexidade, de acordo com Placidina. A juíza explica que em alguns casos, a Justiça pode conseguir o bem de forma fixa, a fim de reverter os prejuízos provocados pelo crime organizado com a condenação do réu. 

“A primeira instituição que recebeu os veículos foi a Polícia Militar, que tem um departamento que recebe a frota. Eles se comprometeram a buscar o veículo e dar manutenção, que é algo dispendioso. Em contrapartida, eles não precisam desembolsar dinheiro para alugar um carro e nem para comprar e, por isso, compensa eles darem a manutenção”, disse.

Caminhonete de luxo usada pela Polícia Civil de Goiás| Foto: Divulgação

Avião reforça Corpo de Bombeiros  

Em junho de 2023, a juíza destinou um avião modelo King Air C90 avaliado em R$ 10 milhões ao Corpo de Bombeiros. A aeronave, que era usada no transporte de agrotóxicos, faz parte dos cerca de seis veículos aéreos apreendidos pela Polícia Civil (PC) e Polícia Federal (PF) durante operações contra o contrabando e o tráfico de drogas.

Placidina explica que, caso a corporação desista da aquisição ou queira entregar o veículo por alguma falha mecânica, o bem pode ser vendido de forma imediata em leilões. Em caso de bens de faccionados, o trâmite é mais complexo e, normalmente, os veículos ficam parados no pátio. 

“Temos muitos veículos à disposição do Corpo de Bombeiros. As aeronaves que vão para lá servem para salvar vidas. Os veículos recebem uma numeração nova por parte do Detran, para não ficarem transitando com a placa original, visto que são emprestados”, contou. 

Avião de R$ 10 milhões destinado ao Corpo de Bombeiros | Foto: Divulgação

Riscos e gratificação 

O poder de decisão e as estratégias adotadas para reforçar a segurança e penalizar o crime organizado, também possuem seus males. Além do excesso de trabalho, a magistrada também precisa se preocupar com ações criminosas que podem acontecer contra ela.

Fascinada pela área criminal, a juíza que começou na magistratura logo após se formar em direito, em 1997, diz que se dispôs a assumir a vara mesmo ciente dos riscos. Para ela, ajudar a sociedade é gratificante.

Entretanto, antes de assumir a vara que abrange todo o estado, a juíza passou por outros setores, como eleitoral e da infância e juventude, além de comarcas do interior goiano. 

“Foi um desafio muito grande. São processos muito complexos que envolvem muitos interesses. Quando falamos de crime organizado, pensamos logo em facções criminosas, mas nem sempre as organizações são facções. Há grupos organizados que praticam estelionato, que lavam dinheiro. Há grupos que praticam fraude em licitação, golpes em idosos e até novo cangaço”, afirmou.

Quem é Placidina Pires?

Filha de um lavrador e de uma costureira, Placidina é natural de Inhumas. Ela conta que sempre estudou em escola pública, conseguindo passar em Direito logo no primeiro vestibular prestado após concluir o ensino médio. 

Depois de se formar, em 1997, aos 26 anos, a magistrada ingressou na carreira jurídica no mesmo ano ao conquistar a vaga de juiz de direito. Ela também tinha a opção de se juntar ao Ministério Público (MP) também por meio de concurso. 

A primeira vara em que atuou foi de São Domingos, tendo atuado também nas cidades de Corumbaíba, Caldas Novas e Goiânia. A juíza permaneceu na capital até assumir a Vara dos Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais de Goiás.

“Esse percurso foi bastante positivo, enriquecedor. Ano passado estava na lista de antiguidade para pleitear a vaga de juiz substituto de segundo grau, mas achei que ainda não estava no momento. Acho que ainda não concluí o meu trabalho, não posso me dar por satisfeita”, concluiu. 

Placedina Pires é juíza desde 1997 | Foto: Divulgação

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