74 anos da Vila São Cottolengo: um legado de acolhimento e cuidado

A Vila São Cottolengo, maior instituição filantrópica do Centro-Oeste, celebrou nesta segunda-feira, 24, seus 74 anos de história. Segundo o Irmão Michael Goulart, diretor-presidente da Vila, a instituição surgiu em 1951 para acolher pessoas com deficiência abandonadas em Trindade após a romaria do Divino Pai Eterno. Em 1957, a chegada das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo fortaleceu a instituição, garantindo sua expansão e sustentação ao longo dos anos.

Irmão Michael Goulart ao lado de paciente da unidade l Foto; Hallene Pessoa

Atualmente, a unidade presta assistência integral a 313 pacientes com deficiências múltiplas, realiza cerca de 110 mil atendimentos ambulatoriais e 71 mil procedimentos de reabilitação física, auditiva e intelectual anualmente. A Vila também atua na educação inclusiva, atendendo 389 alunos internos e externos, com apoio do Governo de Goiás.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o Irmão Michael Goulart faz um balanço dos 74 anos da instituição referência no atendimento a pessoas com deficiência em Trindade, Goiás.

Origens e crescimento da Vila

“A Vila São Cottolengo surge em 1951, quando o missionário redentorista, Padre Gabriel Vilela, inicia um trabalho de acolhimento a pessoas com deficiência que eram abandonadas em Trindade”, explica o Irmão Michael.

Atendimento humanizado l Foto: Hallene Pessoa

Ao longo dos anos, a Vila expandiu significativamente seus serviços. Hoje, mais de 300 pacientes internos recebem atendimento integral, e cerca de 2.000 pessoas são assistidas no ambulatório. Além disso, a Vila conta com uma escola inclusiva, que atende diariamente cerca de 380 alunos especiais vindos de Trindade e de outras cidades vizinhas. Vale ressaltar que o quadro de professores pertence à Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc).

“Temos um amplo serviço de atendimento na cidade. A Vila é referência na área da reabilitação, dispensação de órteses e próteses, cadeiras de rodas e muitas outras ações em prol de quem mais precisa”, destaca.

Abandono e a missão de acolhimento

Nos primeiros anos da Vila, muitas pessoas com deficiência eram abandonadas por suas famílias durante as romarias em Trindade. “Naquela época, as famílias não imaginavam como cuidar desses familiares, por falta de conhecimento ou de condições, não apenas financeiras, mas emocionais e estruturais”, explica. “A Vila nasceu para cuidar dessas pessoas e segue com essa missão até hoje.”

Internos praticam musicoterapia l Foto: Hallene Pessoa

Atualmente, não há mais abandono de crianças no local, e as vagas são preenchidas conforme um rigoroso processo de triagem. “Temos 313 vagas para internação de longa permanência e uma longa fila de espera. As vagas só se abrem quando ocorre um óbito, o que felizmente acontece em média seis a oito vezes por ano.”

Sobre a relação dos pacientes com suas famílias, o Irmão Michael esclarece: “Não diria que eles são esquecidos. Algumas famílias visitam regularmente, outras não têm condições de manter esse vínculo. De qualquer forma, a Vila garante um cuidado integral, 24 horas por dia.”

Perfis dos pacientes

A maioria dos pacientes internos nasceu com deficiências severas ou desenvolveu condições ao longo da vida que os tornaram dependentes de cuidados contínuos. “Para ser internado na Vila, a pessoa passa por uma avaliação médica multidisciplinar e precisa ter um diagnóstico específico que justifique a necessidade do atendimento.”

O diretor também destaca casos de pacientes que superaram expectativas de vida. “Temos o exemplo da Emily, que chegou com um prognóstico de apenas dois anos de vida e viveu nove anos aqui. Há também pacientes que estão conosco há mais de 60 anos, como uma senhora de 95 anos que chegou na Vila com pouco mais de 30 anos.”

Profissionais atendem interna l Foto: Hallene Pessoa

Estrutura e financiamento

A Vila São Cottolengo opera em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS) e recebe apoio dos governos estadual e municipal. “Nosso contrato anual com o SUS e a Secretaria Estadual de Saúde gira em torno de R$ 40 milhões. Além disso, temos um convênio com a Secretaria de Educação para manter a escola dentro da Vila.”

No entanto, os recursos públicos não cobrem todas as despesas. “Temos uma receita de aproximadamente R$ 3 milhões por mês, mas os custos operacionais ultrapassam os R$ 5 milhões. Essa diferença é coberta por doações de pessoas que conhecem e confiam no nosso trabalho”, afirma o Irmão Michael.

A instituição conta com cerca de 1.000 profissionais, entre funcionários CLT, professores e médicos terceirizados. Além disso, possui voluntários que auxiliam em atividades como artesanato e organização de eventos beneficentes.

Expansão e futuro da instituição

A Vila São Cottolengo planeja expandir seus serviços. “Nos próximos anos, queremos levar nosso trabalho para outras regiões, especialmente para o Distrito Federal e o Nordeste, onde os missionários redentoristas já atuam.”

Internos espalham alegria l Foto: Hallene Pessoa

Além disso, a Vila está finalizando a construção do Centro de Reabilitação CER3, que será inaugurado em junho de 2025. “Essa nova unidade permitirá ampliar nosso atendimento em 30%, proporcionando ainda mais suporte às pessoas com deficiência.”

Irmão Michael destaca o orgulho e a responsabilidade de continuar essa missão. “A Vila promove qualidade de vida e dignidade. Celebramos nosso passado com gratidão, mas sempre olhando para o futuro, com o compromisso de ampliar e aperfeiçoar nosso serviço para quem mais precisa.”

Compromisso com a excelência

“Há 74 anos, somos aquecidos pela presença do Divino Pai Eterno. O amor se reflete ao longo do tempo. É um trabalho simples, mas repleto de significado, movido pela compaixão e pela confiança inabalável na providência divina”, ressalta irmão Michael.

Ao longo das décadas, a vila diversificou suas frentes de trabalho para garantir sustentabilidade financeira e melhorar a qualidade do atendimento às pessoas com deficiência. O Centro de Especialidades Médicas SEN, por exemplo, evoluiu de um pequeno ambulatório comunitário para uma unidade moderna e altamente equipada, sendo referência em cirurgias oftalmológicas, consultas ambulatoriais e exames diversos. Atualmente, realiza cerca de 110 mil atendimentos anuais.

Outro destaque é a reabilitação física e intelectual, com serviços que incluem a dispensação de próteses, órteses, meios auxiliares de locomoção e aparelhos auditivos. A vila também foi pioneira na implementação da equoterapia em Goiás, atendendo cerca de 72 mil pessoas anualmente, por meio do SUS e de atendimentos particulares.

Irmão Michael Goulart acompanha internos de perto l Foto: Hallene Pessoa

Educação inclusiva e assistência especializada

Muito antes da inclusão se tornar um conceito amplamente difundido, o Centro de Ensino Especial São Vicente de Paulo já aplicava esse ideal. Atualmente, o centro atende mais de 300 alunos matriculados desde a estimulação precoce até o ensino fundamental e a educação especial de jovens e adultos (EJA). “Cada estudante é tratado em sua singularidade, com um trabalho que transcende a sala de aula. Como dizia São Vicente, ‘o amor é inventivo até o infinito’”, destaca irmão Michael.

Desafios financeiros e apoio da comunidade

Para manter esse nível de assistência, a vila enfrenta desafios financeiros expressivos. Os custos mensais somam R$ 5,5 milhões, incluindo gastos com dietas e suplementação (R$ 130 mil), vestuário (R$ 15 mil), higiene pessoal (R$ 22 mil), fraldas (R$ 66 mil), medicamentos (R$ 2 mil) e materiais hospitalares (R$ 70 mil).

“Cada cuidado dedicado aos nossos pacientes carrega o amor daqueles que escolheram doar não apenas recursos, mas também esperança e dignidade”, enfatiza irmão Michael.

Internos da unidade l Foto: Reprodução

A vila tem sido sustentada por inúmeras pessoas solidárias ao longo de sua história. “Sem os doadores, nada disso seria possível. Esse gesto mantém viva a chama do acolhimento, trazendo dignidade, onde a vida é celebrada dia após dia, com alegria e respeito”, finaliza irmão Michael.

Irmão Michael reforça que a Vila São Cottolengo continua sendo um farol de luz e esperança para os pacientes e todos aqueles que escolhem fazer parte dessa missão de amor e caridade. Ele comunica que a unidade está aberta para visitações individuais e em grupo, todos os dias, das 8h às 16h, sem necessidade de agendamento prévio.

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