“A Câmara alterou muito os mapas de adensamento da cidade e mexeu de forma irresponsável”, alerta especialista sobre danos ambientais em Goiânia

A ausência de estudos regionais sobre os impactos das mudanças climáticas e a falta de políticas públicas eficazes estão tornando as cidades cada vez mais vulneráveis a fenômenos extremos, como enchentes, secas prolongadas e ilhas de calor. Em Goiânia, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) atua como um órgão regulador, mas enfrenta desafios para garantir um planejamento ambiental eficiente. Enquanto a cidade cresce de forma desordenada, a falta de uma gestão integrada e de estudos regionais sobre mudanças climáticas deixa a população cada vez mais vulnerável a eventos extremos.

O presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), e graduado em Comunicação e especialista em Planejamento Urbano e Ambiental, Gerson Neto, explica que a Amma tem um corpo técnico competente, mas seu modelo de atuação é limitado. “Quando o Estado regula, ele não planeja, ele simplesmente fica esperando a sociedade dizer ‘Posso fazer isso?’. E ele diz sim ou não”, afirma. Esse modelo, segundo ele, não é suficiente para enfrentar os desafios ambientais atuais.

Um exemplo dessa limitação é o Plano Diretor de Goiânia, que foi alterado pela Câmara Municipal. “O Plano Diretor acaba adensando demais algumas áreas. E isso não veio da Prefeitura, veio da Câmara Municipal. A Câmara alterou muito o Plano Diretor, ela o refez, na verdade. Nos mapas de adensamento ela mexeu muito, e mexeu de forma irresponsável, sem nenhum conhecimento técnico para fazer isso”, critica Neto. Ele ressalta que, sem um planejamento urbano integrado, a cidade continuará a enfrentar problemas como ilhas de calor, escassez hídrica e trânsito caótico.

Gerson Neto alerta que o poder público tem um papel importante na regulação e no planejamento ambiental, mas muitas vezes falha em cumprir essa função. “Sabemos quais são as vulnerabilidades que estamos sofrendo com as mudanças climáticas, mas não por pesquisas locais (…) É preciso, sim, fazer mais pesquisas. Acredito que tenhamos um déficit local, brasileiro, de acompanhamento dos efeitos das mudanças climáticas”, afirma.

Um exemplo dessa lacuna é o fenômeno das ilhas de calor, que já afeta Goiânia. “Quando o sol bate em uma árvore, a árvore pega a energia solar e a transforma em oxigênio, faz a fotossíntese. Quando o sol bate em um prédio de concreto, por exemplo, esse concreto esquenta e armazena o calor, e vai soltando”, explica Neto. Ele ressalta que o controle da ocupação do solo é essencial para mitigar esses efeitos, mas muitas vezes o poder econômico prevalece sobre as considerações técnicas. “Quando a Prefeitura não autoriza, eles vão à Câmara Municipal e passam seus empreendimentos de lá. Não estão nem aí. É o poder econômico governando”, critica.

Além disso, a falta de políticas públicas robustas para lidar com eventos extremos, como secas e enchentes, deixa a população desprotegida. “Muitas pessoas enchendo hospitais por causa de doenças relacionadas com o calor, por exemplo, cujos números ainda não aparecem de forma expressiva. É preciso, inclusive, estabelecer protocolos de classificação na entrada dessas pessoas no sistema de saúde para poder identificar, até para podermos nos preparar”, sugere Neto. Ele alerta que, sem ações urgentes, os impactos sobre a saúde pública e a infraestrutura urbana serão cada vez mais severos.

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