A ‘Substância’ da vida real: a pedra do etarismo no caminho das mulheres

Protagonizado por Demi Moore e Margaret Qualley, o filme A Substância, de 2024, causou – e causa – rebuliço desde que foi lançado. A produção dirigida por Coralie Fargeat conta a história de Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma celebridade em declínio descartada de forma cruel pela indústria do entretenimento em razão de sua idade, e que decide recorrer a uma misteriosa substância para adquirir “uma versão melhor” de si mesma”.

A obra retrata de forma impiedosa uma realidade tão antiga quanto o próprio tempo: o quanto um profissional pode ser rapidamente escanteado ao atingir uma idade na qual já é considerado “velho e ultrapassado”. E apesar de termos evoluído consideravelmente quando o assunto é compreender e combater o etarismo, para as mulheres, especificamente, o embaraço parece persistir de maneira atemporal.

Conforme uma pesquisa divulgada em 2022 pela EY Brasil, empresa global focada em auditoria, impostos, transações e consultoria, e que ouviu 191 empresas de 13 setores, 32% das mulheres com 50 anos ou mais estavam desempregadas há mais de 1 ano. Para os homens, esse número foi de 20%.

O levamento mostrou também que 21% das mulheres com 50 anos ou mais acabam escolhendo ocupações autônomas e freelancer, enquanto os homens conseguem mais vagas de consultores.

Já um estudo da Harvard Business Review apontou que mulheres enfrentam etarismo no ambiente de trabalho independentemente da idade. De acordo com a pesquisa, elas são consideradas ou jovens demais ou velhas e irrelevantes demais para o cargo que ocupam.

Não importa a bagagem profissional e de conhecimento consolidado por aquela mulher, a experiência e os resultados entregues, os números apontam que ela, no final, será tratada e resumida a isso mesmo: um número.

Em janeiro deste ano, Demi Moore, do alto de seus 62 anos, conquistou o Globo de Ouro na categoria Melhor Atriz em Filme de Comédio ou Musical por sua atuação em A Substância. Em seu discurso, ela disse: “Há 30 anos, um produtor me disse que eu era uma ‘atriz de pipoca,’ e, naquela época, eu interpretei isso como se não tivesse direito a algo assim, que eu podia fazer filmes bem-sucedidos e lucrativos, mas que nunca seria reconhecida. Eu acreditei nisso, comprei essa ideia, e, ao longo do tempo, isso me corroeu, a ponto de eu pensar, há alguns anos, que talvez fosse o fim, que talvez eu já tivesse feito tudo o que deveria fazer”.

A eterna Molly de ‘Ghost – Do Outro Lado da Vida’ usou seu tempo de fala na premiação para lembrar de que ela própria, Demi Moore, mesmo com o talento excepcional comprovado em mais de 45 anos de carreira, foi tachada de ultrapassada e “fora da validade” por muitos. Não poderia haver resposta melhor do que a imagem resplandecente da atriz segurando o prêmio e sendo ovacionada por todos os presentes na cerimônia do Globo de Ouro.

Demi Moore, sua trajetória e seu filme são lembretes de que a experiência, a vivência e o conhecimento acumulado ao longo dos anos não são fraquezas, mas sim pontos fortes. E, ao contrário do que a indústria e o mercado de trabalho pode tentar impor, o valor de uma mulher não está atrelado à sua juventude, mas à sua capacidade de se reinventar e continuar relevante. Demi mostrou, na prática, que o rótulo de “fora de validade” não se aplica a quem ainda tem muito a oferecer.

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