O planeta aquece, os oceanos sobem, e o único plano global é a inércia

Os oceanos estão subindo mais rápido do que o previsto, e o planeta está enviando sinais claros de que o tempo para agir está se esgotando. Nesta quinta-feira, 13, a Nasa, a agência espacial norte-americana, revelou que o nível global do mar aumentou 0,59 centímetros em 2024, um valor superior à projeção inicial de 0,43 centímetros. Esse aumento, impulsionado principalmente pelo aquecimento dos oceanos, é mais um capítulo em uma história que já deveria ter mobilizado ações concretas e urgentes. No entanto, enquanto a ciência avança com dados cada vez mais alarmantes, a resposta global continua lenta, fragmentada e insuficiente.

“Os dados que coletamos em 2024 demonstram um aumento além do que nossos modelos previram”, explicou Josh Willis, pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa. A elevação do nível do mar é um dos indicadores mais tangíveis das mudanças climáticas, e os números de 2024 são particularmente preocupantes. Tradicionalmente, dois terços desse aumento eram atribuídos ao derretimento de geleiras e camadas de gelo, enquanto um terço resultava da expansão térmica da água oceânica.

No entanto, em 2024, essa proporção se inverteu: dois terços da elevação foram causados pela expansão térmica, um sinal claro de que os oceanos estão absorvendo quantidades crescentes de calor.

“O ano de 2024 registrou as temperaturas mais elevadas já documentadas, e os oceanos do planeta respondem diretamente a esse fenômeno, alcançando seus níveis mais altos em três décadas de monitoramento”, afirmou Nadya Vinogradova Shiffer, responsável pelos programas de oceanografia física da Nasa. Desde 1993, quando os registros por satélite começaram, o nível global do mar subiu aproximadamente 10 centímetros.

Esse aumento, que já dobrou de velocidade nas últimas décadas, está longe de ser um problema distante. Comunidades costeiras em todo o mundo, da Flórida à Indonésia, já enfrentam inundações mais frequentes e severas, um prenúncio do que está por vir.

O fenômeno El Niño, que contribui para o aquecimento das águas do Pacífico, desempenhou um grande papel no salto observado entre 2022 e 2023, quando o nível do mar subiu 0,76 centímetros – quase quatro vezes mais do que no período anterior. “Nos anos de El Niño, grande parte da chuva que normalmente cai sobre a terra acaba no oceano, o que eleva temporariamente o nível do mar”, explicou Josh Willis. No entanto, por trás dessas flutuações naturais, há uma tendência clara e inegável: a ação humana está acelerando o aquecimento global em um ritmo alarmante.

A ciência não deixa dúvidas sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas. Desde o início da era industrial, a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento em larga escala têm liberado quantidades massivas de gases de efeito estufa na atmosfera, aprisionando calor e elevando as temperaturas globais. Os oceanos, que absorvem mais de 90% desse calor adicional, estão literalmente se expandindo.

Mas apesar das evidências esmagadoras, a resposta global tem sido marcada por promessas vazias, metas insuficientes e uma falta gritante de ação concreta. As metas do Acordo de Paris parecem cada vez mais distantes, e as promessas de redução de emissões de carbono continuam sendo tratadas como compromissos vagos.

Os países mais industrializados, responsáveis por uma fatia gigantesca da poluição global, continuam investindo pesadamente na exploração de novas fontes de petróleo e gás, ao invés de acelerar a transição para energias renováveis. Enquanto isso, as nações insulares e as comunidades costeiras sofrem as consequências diretas da inação política e da negligência ambiental. 

E vale o lembrete de que a crise climática não se restringe ao derretimento de geleiras ou ao aumento do nível do mar. O aquecimento global impacta a segurança alimentar, intensifica eventos extremos e torna o planeta um ambiente cada vez mais hostil para milhões de pessoas. Ainda assim, as decisões mais importantes para evitar o pior seguem sendo postergadas. 

“As taxas atuais de aceleração significam que estamos a caminho de adicionar outros 20 centímetros ao nível médio global do mar até 2050”, alertou Nadya Shiffer. Esse aumento, que representaria o dobro das mudanças observadas no século anterior, terá consequências catastróficas. Pesquisas já apontam que cidades como Miami, Mumbai e Xangai podem enfrentar inundações crônicas, enquanto pequenos Estados insulares, como as Maldivas e Tuvalu, correm o risco de desaparecer completamente.

O relógio está correndo, e cada fração de grau de aquecimento importa. A ciência já nos deu as ferramentas e as informações necessárias para agir. O que falta é a coragem de enfrentar os interesses estabelecidos e priorizar o futuro do planeta sobre os lucros de curto prazo. A elevação do nível do mar é um lembrete gritante de que não podemos mais adiar as decisões difíceis.

Enquanto os oceanos continuam a subir, a pergunta que fica é: quantos alertas precisaremos antes de agir? A resposta a essa pergunta determinará não apenas o destino das gerações futuras, mas também o legado que deixaremos como espécie.

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