Jornalista vai publicar biografia de Zuzu Angel, estilista assassinada pela ditadura

A ditadura civil-militar, que morreu aos 21 anos, mais idosa do que Matusalém, matou dois Angel: Stuart e Zuzu.

Stuart Angel Jones (1946-1971 — tinha 25 anos) foi assassinado por militares, depois de barbaramente torturado, em 1971, um dos anos da matança (Rubens Paiva também foi torturado e morto no governo de Emilio Garrastazu Médici). Era guerrilheiro do MR-8. Estava preso. Devia ser levado a julgamento. Mas a ditadura optou por matá-lo. Sadismo? Talvez. Mas regimes autoritários são assim: não respeitam e não aceitam a divergência. Ah, sim, havia uma guerrilha. De fato. Mas qual a necessidade de matar quem está preso e não oferece qualquer risco à sociedade e, sobretudo, ao poderoso sistema criado pelos chefões inimputáveis das Forças Armadas?

Zuzu Angel, estilista de primeira linha, com reconhecimento internacional, morreu em 14 de abril de 1976, há quase 49 anos. Bateram, propositadamente, no seu automóvel e ela morreu no, com aspas, “acidente” (o veículo capotou). Houve, na verdade, um assassinato, o segundo contra a família Angel.

O carro em que Zuzu Angel morreu depois de agentes da ditadura terem provocado o “acidente” | Foto: Reprodução

Para explicar a história de Zuzu Angel (indissociável da história de seu filho), a pesquisadora e jornalista Virginia Siqueira Starling escreveu o livro “Quem É Essa Mulher — Zuzu Angel”, que será lançado em novembro pela Editora Todavia.

Por que mataram Zuzu Angel, e em pleno período da distensão, já no governo de Ernesto Geisel? Porque, mulher indômita, não se calava. Stuart Angel foi morto em 1971. Pois no mesmo ano ela participou de um desfile-protesto, no Consulado Brasileiro em Nova York, para denunciar o acontecido. Os cabelos ditatoriais dos generais da ditadura ficaram arrepiados. Daí começou ou se ampliou a vigilância estilista.

Stuart Angel e Zuzu Angel: dois brasileiros assassinados pela ditadura dos militares | Foto: Reprodução

As roupas criadas por Zuzu Angel passaram a ganhar estampas diferentes — denúncias ativas, uma história viva e cortante. Pássaros em gaiolas e tanques apareciam nas roupas contando uma história que não podia aparecer, por exemplo, nos meios de comunicação. Era um artifício lúdico (parecia coisa de criança) e arte de uma estilista a serviço da denúncia político-histórica. E, paradoxalmente, do belo. O belo doloroso, mas belo. O Estado, confundido com propriedade dos militares, matava seus cidadãos, e não apenas em confrontos, mas também, às vezes sobretudo, aqueles que já estavam presos e não ofereciam perigo a ninguém, nem mesmo às teorias conspiratórias dos homens de verde e outras cores.

Numa carta para o compositor e cantor Chico Buarque, Zuzu Angel disse, premonitória: “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”. O artista fez uma música sobre a mulher corajosa que enfrentou a ditadura (https://tinyurl.com/34zn3bc8).

Há um relato de Zuzu Angel, publicado com o título de “Eu, Zuzu Angel, Procuro Meu Filho”. Virgínia Valli, irmã de Zuzu Angel, publicou a obra, dez anos depois do assassinato.

Zuzu Angel encontrou-se com Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva, outro assassinado pela ditadura, em 1971.

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