Entenda por que todos os políticos brasileiros deveriam ler Vianna Moog

“O homem que não lê bons livros se iguala ao que não sabe ler.” — Mark Twain

O cinquentenário da posse de Bernardo Élis (1915-1997) na Academia Brasileira de Letras, comemorado neste ano, me fez lembrar a figura de Vianna Moog, um dos imortais que à época abraçou a candidatura do escritor goiano e contribuiu para sua eleição, derrotando o fortíssimo (não do ponto de vista literário, mas quanto à simpatia pessoal e ao valor histórico) Juscelino Kubistchek.

Clodomir Vianna Moog (1906-1988), gaúcho de São Leopoldo, foi advogado, jornalista e diplomata. Mas sua principal atividade, a que contribuiu para a inteligência de nossa formação, foi a de escritor e pesquisador histórico.

Embora tenha publicado mais de uma dezena de livros, uma de suas primeiras obras, escrita em 1937, quando ainda bastante jovem (tinha 31 anos), marcou bastante sua carreira. O romance “Um Rio Imita o Reno”, publicado em 1938, de cunho antirracista, repercutiu bastante e recebeu o então maior prêmio nacional (o Prêmio Graça Aranha).

Vianna Moog analisou a colonização por exploração do Brasil e por povoamento dos Estados Unidos | Foto: Reprodução

Foi um desafio: nessa época, a poderosa Alemanha, então sob o domínio nazista, difundia pelo mundo todo, no Brasil inclusive, e com uma certa simpatia do presidente Getúlio Vargas, suas doutrinas raciais.

Vianna Moog, como representante brasileiro em organismos internacionais (OEA e ONU) viveu por vários anos, nas décadas de 1940 e 1950, nos EUA e no México.

O escritor ingressou em 1945 na Academia Brasileira de Letras.

Vianna Moog e “Bandeirantes e Pioneiros

A vivência internacional contribuiu — e muito — para que ele publicasse, em 1954, sua obra-prima: o livro “Bandeirantes e Pioneiros: Paralelo Entre Duas Culturas”, um estudo socioeconômico comparativo entre as formações brasileira e norte-americana. Esse ensaio, bastante arguto, escrito por um autor de talento e que viveu as duas culturas, é importante documento interpretativo de nossa formação e deveria ser leitura obrigatória para todos os candidatos a cargo político. Mas o escritor não parou aí. Entre outras obras de sucesso, escreveu e publicou em 1959, a novela “Uma Jangada para Ulisses”.

Quando faleceu, após uma crise cardíaca em 1988, aos 81 anos, fiz, da tribuna do Senado, um registro de sua trajetória:

“Sr. presidente, srs. senadores, desejo, com a permissão de vossas excelências, deixar registrado, nos Anais desta Casa, o pesar que todos devemos sentir pelo falecimento, ocorrido trasanteontem do grande patrício Clodomir Vianna Moog, como também o reconhecimento de seu grande talento e do rico legado que ele deixou a todos nós, brasileiros, para a compreensão de nossa nacionalidade. Dele somos todos devedores.

“Se foi um grande romancista, como quando escreveu ‘Um Rio Imita o Reno’, não deixou de gravar no romance uma mensagem demolidora de preconceito; da elevação do ser humano por si mesmo e por suas conquistas, livre de errôneas crenças de superioridade ou inferioridade racial. Demolidor de preconceitos, sociólogo, etnólogo, geógrafo e historiador, tudo isso Vianna Moog foi em ‘Bandeirantes e Pioneiros —– Paralelo entre Duas Culturas. Mas foi mais – foi um vulto à altura dos maiores de nossas letras, como Euclides da Cunha, no compreender a nossa cultura, a nossa formação, nossas deficiências e nossas vantagens.

“Livrou-nos Moog, em traçando um paralelo entre o nosso desenvolvimento e o dos Estados Unidos da América, da balela da raça. Dissecou nossa formação econômica em a comparando com aquela dos americanos do Norte, mostrando que as diferenças não se prendiam a outros motivos senão aqueles climáticos, potamográficos, orográficos, religiosos e culturais.

“Vianna Moog produziu obra de conhecimento obrigatório para todo brasileiro que queira compreender sua terra e seu povo, obra que realça seu próprio trabalho, que foi grande, de diplomata brasileiro competente e patriota, por cerca de uma década como representante do Brasil na ONU. E foi um grande intelectual, pelo que produziu e pela brasilidade.

“Rendemos nossas homenagens, com respeito e admiração.”

“Bandeirantes e Pioneiros” é leitura obrigatória para qualquer político de responsabilidade, repito, assim como “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre, “Os Sertões” e “À Margem da História”, ambos de Euclides da Cunha, “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda e alguns poucos outros livros.
Creio que os atuais deputados e senadores (ou pelo menos 90% deles) não leram sequer um desses cinco livros seminais. Presidentes, apenas Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique Cardoso e Ernesto Geisel terão lido (Geisel citava Euclides da Cunha de memória). Hoje, no meio mais elevado da política nacional, há quem afirme não gostar de leitura. “O homem que não lê bons livros se iguala ao que não sabe ler”, dizia o escritor Mark Twain. É uma verdade. E muito triste, para nós brasileiros.

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