A força das torcidas contra o governo Milei cresce a cada protesto

As torcidas organizadas da Argentina, historicamente ligadas a movimentos políticos, estão novamente ganhando protagonismo no cenário político do país, um fenômeno que preocupa o governo de Javier Milei. Desde o período da ditadura militar (1976-1983), os torcedores têm se manifestado contra o poder, como no emblemático episódio de 1981, quando os adeptos do Nova Chicago desafiaram a repressão cantando a marcha peronista. Mais de 40 anos depois, o vínculo entre futebol e política se fortalece, com torcedores agora se unindo aos aposentados em protestos contra as medidas de austeridade do governo.

Com o maior ajuste fiscal em seis décadas em andamento, o governo de Milei enfrenta crescente resistência popular. A desarticulação da oposição política, somada à insatisfação gerada pelas reformas econômicas, criou um vácuo que as torcidas agora preenchem.

Ao lado dos aposentados, as torcidas organizaram grandes manifestações nas últimas semanas, exigindo mudanças nas políticas econômicas. A pressão das ruas se intensificou a ponto de a Central Geral de Trabalhadores (CGT) convocar uma greve geral, prevista para 10 de abril, em um claro sinal de insatisfação.

A mobilização teve início quando a imagem de um torcedor do Chacarita, vestido com a camiseta de seu time e protestando contra o ajuste, viralizou. Sua mensagem de apoio aos aposentados reverberou rapidamente, unindo torcedores de diversos clubes em uma frente comum. Isso resultou em uma série de manifestações que, além de chamar a atenção da mídia, desafiaram o governo, que se viu pressionado por uma aliança improvável entre aposentados e torcedores.

Torcedor do Chacarita, Alejandro | Foto: Janaina Figuereido

O contexto político argentino está em um momento de instabilidade. O peronismo e o kirchnerismo estão em baixa, e os esforços de Milei para implementar suas políticas econômicas encontram resistência crescente nas ruas. A ascensão das torcidas como um ponto de resistência organizada reflete a incapacidade da oposição política tradicional de se posicionar de forma eficaz contra o governo. Muitos, inclusive, cogitam que as torcidas poderiam se tornar uma alternativa política, dada sua crescente influência nas manifestações populares.

Após confrontos entre manifestantes e a polícia em março, o governo responsabilizou os grupos de barras bravas pela violência. No entanto, especialistas, como o sociólogo Pablo Alabarces, defendem que os “torcedores militantes” não devem ser confundidos com esses grupos violentos, pois buscam se distanciar das práticas ilegais associadas aos barras bravas.

Segundo Alabarces, esses grupos militantes estão se organizando há anos e têm conquistado maior visibilidade desde 2016, quando criaram a Associação de Torcedores, para se opor a projetos do governo anterior de Mauricio Macri.

A presença das torcidas como agentes políticos representa uma nova dinâmica no país, onde o futebol, mais do que uma paixão nacional, se consolidou como um meio para a expressão de descontentamento e mobilização social.

A reação do governo Milei, que tenta controlar a situação, revela a preocupação com a força crescente das manifestações, especialmente diante da falta de uma oposição política consolidada. Em um momento de crise econômica e política, as torcidas argentinas se posicionam como um fator de resistência, capaz de desafiar o governo e alterar o curso dos acontecimentos no país.

Leia também Estrategista de Milei avalia percepção de argentinos sobre democracia e autoritarismo;

O post A força das torcidas contra o governo Milei cresce a cada protesto apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.