Luís Alberto Pereira, presidente da OCB: “Maior empresa de Goiás é uma cooperativa. Somos um setor forte”

Engenheiro civil por formação, Luís Alberto Pereira é presidente do Sistema OCB Goiás, entidade que engloba o Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Goiás (OCB/GO) e o Serviço Nacional de Aprendizagem no Cooperativismo em Goiás (SESCOOP/GO – integra o Sistema S). Ele também é diretor da OCB nacional, posto para o qual foi eleito para representar a região Centro-Oeste de 2024 a 2028.

Nesta entrevista ao Jornal Opção, Luís Alberto ressalta a importância do cooperativismo em Goiás – segmento que, segundo ele, representa uma fatia de cerca de 10% do PIB do estado. O presidente aponta, por exemplo, a Comigo, uma cooperativa, como sendo a maior empresa de Goiás. “Somos um setor forte”, pontua.

Ele revela ainda uma relação próxima tanto com a Prefeitura de Goiânia quanto com o governo de Goiás, e enfatiza: “Quando o poder público perceber o quanto as cooperativas podem ser úteis para as administrações, principalmente municipais, ele adotará o cooperativismo como uma política pública”.

Ton Paulo – O ano de 2025 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional do Cooperativismo. O que essa iniciativa traz de oportunidade para o segmento?

As cooperativas têm, ao final, a mesma missão que a ONU. A ONU busca a paz. E o cooperativismo, através do seu modelo, cuida do desenvolvimento econômico, da sustentabilidade e do desenvolvimento social e das pessoas. Isso faz com que se reduza a pobreza. O cooperativismo reduz pobreza. E quando não tem pobreza, não tem guerra. Portanto, o cooperativismo também contribui com a paz.

Acho que isso fez com que a ONU reconhecesse pela segunda vez as cooperativas no ano internacional. Claro que isso fortalece o movimento, dá mais visibilidade, as pessoas começam a se interessar mais e o movimento fica mais forte, porque ainda temos um desafio. As pessoas ainda não conhecem muito o modelo cooperativo, confundem com ONGs, e não é. O cooperativismo defende um modelo de negócio que não é uma empresa individual, não é uma empresa limitada, não é sociedade anônima, é uma empresa de pessoas com princípios, e os principais princípios são a gestão democrática, a participação livre e voluntária e o interesse pela comunidade, e também a questão da repartição dos resultados com seus associados.

Isso dá um retorno social muito grande para as pessoas e também para as comunidades onde os cooperativos estão.

Ton Paulo – Neste ano, a OCB teve uma reunião com o secretário de desenvolvimento de Goiânia, Diogo Franco. Qual foi o resultado desse encontro? Foi apresentada alguma proposta para a Prefeitura?

Costumo dizer que quando o poder público perceber o quanto as cooperativas podem ser úteis para as administrações, principalmente municipais, ele adotará o cooperativismo como uma política pública. Aqui, com o prefeito Santo Mabel, conseguimos evoluir um pouco. Dentro da Secretaria de Desenvolvimento temos uma gerência de cooperativismo, então já é um avanço e nós temos feito essa aproximação.

Nessa reunião com o secretário, mostramos a ele alguns pontos que o cooperativismo pode ajudar na gestão da Prefeitura. Um primeiro ponto é na questão da saúde. Temos cooperativas de trabalho médico, cooperativas de anestesistas, cooperativas de enfermeiros, radiologistas e essas cooperativas podem prestar serviço à Prefeitura de Goiânia. De uma maneira até mais barata e beneficiar mais gente. Em vez de a Prefeitura contratar diretamente, pagar encargos, ela contrata a cooperativa que presta esse serviço.

Outro local que nós podemos ajudar muito, e já estamos fazendo um projeto, é na questão da reciclagem, estimular a coleta seletiva. Estamos fazendo um projeto que envolve conscientização das pessoas através de campanhas publicitárias para poder separar o lixo, e as cooperativas buscarem esse lixo reciclar, separar, serem remuneradas por isso.

Luis Alberto Pereira, presidente da OCB/GO, em entrevista ao jornalista Ton Paulo | Foto: Bárbara Noleto/Jornal Opção

Também podemos atuar na área da educação. levar o conceito do empreendedorismo e do cooperativismo para as escolas municipais para que as crianças cresçam com essa mentalidade de empreender, de cooperar. Uma outra questão é a análise do crédito. Acho que a Prefeitura precisa oferecer uma alternativa de crédito barato para os pequenos e médios empresários. E para baratear o crédito, a Prefeitura pode entrar com um fundo de equalização de juros. A cooperativa cobra um juro barato, a Prefeitura complementa o juro para a cooperativa, porque ela não trabalha com taxas negativas. E ainda temos a garantidora de crédito.

Nosso relacionamento com o prefeito Sandro Mabel é antigo, estivemos junto no Fórum Empresarial. O secretário também foi apoiado pelo Fórum Empresarial. É um relacionamento excelente.

Ton Paulo – Em fevereiro deste ano, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, acompanhado de uma comitiva formada por políticos, empresários e lideranças, foi à Índia para uma rodada de negociações. A OCB participou?

Primeiro, quero reforçar que, assim como a Prefeitura de Goiânia, com o Governo do Estado nós também temos uma ótima relação. Temos a Gerência de Cooperativismo na Secretaria da Retomada, temos vários projetos em comum. O governo Caiado também sempre utilizou do relacionamento com as cooperativas para fazer políticas públicas. E temos acompanhado as missões internacionais, temos sido convidados. Fomos à China e agora fomos à Índia.

Na Índia, achei excelente para o cooperativismo. Fomos com quatro cooperativas. Sentimos muita semelhança no aspecto da economia da Índia conosco aqui, principalmente no agronegócio. Lá, eles têm muitos pequenos proprietários rurais, muitas cooperativas. São 800 mil cooperativas, e de muito pequenos produtores. Mas ainda tem uma vantagem sobre nós, eles investiram muito em pesquisa, em tecnologia, principalmente nessa questão de alimentos, porque eles têm 1 bilhão e 500 mil pessoas para alimentar.

Eles contam com uma tecnologia avançada na transição energética, em equipamentos e suplementos para o campo e na área de fertilizantes, utilizando nanofertilizantes, biofertilizantes. E isso é uma coisa que nós, as cooperativas, usamos muito. Na Índia vimos a possibilidade de fazer uma interação muito boa, trazer um pouco dessa tecnologia para cá, vender também produtos para eles. Foi excelente desse ponto de vista de relacionamento.

Além de reforçar o relacionamento com o próprio governador, com o secretário de Estado, com outros empresários, nós fizemos excelentes contatos na Índia com as organizações, as cooperativas, com empresas de lá.

Inclusive, nós vamos agora fazer uma missão para lá. Estamos programando uma missão exclusiva do cooperativismo na Índia para dar sequência nesses negócios.

Ton Paulo – Como está o cooperativismo, hoje, aqui em Goiás, em números?

Temos os números das cooperativas regulares, que estão registradas no sistema, que seguem os princípios do cooperativismo. Porque qualquer um pode montar um grupo e falar que é cooperativa, mas não seguindo as regras da transparência, da democracia, dos conselhos, das assembleias.

Nós temos hoje 280 cooperativas regulares, em todos os ramos. Essas cooperativas têm mais de 600 mil cooperados. Se você pensar que o cooperado não está sozinho, ele tem parente, mulher, filho. Nós estamos falando de 1 milhão e 800 mil pessoas, num estado que tem 7 milhões de habitantes.

São 15 mil colaboradores, e participamos com 10% do PIB em Goiás. O último dado que temos, de 2023, aponta que o faturamento foi de 30 bilhões de reais do cooperativismo como um todo. Então, é um setor forte. A maior empresa goiana é uma cooperativa, que é a Comigo. Não é só a maior cooperativa de Goiás, é a maior empresa de Goiás. E temos outras como a Sicoob, Unimed.

Luis Alberto Pereira, presidente da OCB/GO | Foto: Bárbara Noleto/Jornal Opção

Ton Paulo – O senhor mencionou uma participação expressiva das cooperativas na economia goiana. Como avalia a questão da reforma tributária? Será benéfica ou prejudicial?

Se você olhar para o nosso umbigo, do cooperativismo, a reforma tributária foi excelente. Porque tínhamos algumas leis que precisavam ser aprimoradas, principalmente na questão de reconhecer o ato cooperativo, porque é aquela transação entre cooperativa e cooperado. Ela não tem tributação, porque a cooperativa em síntese presta um serviço para o cooperado, que é o dono. Então, nesse ponto, a gente conseguiu arrumar as coisas.

Mas se você pensar do ponto de vista global, não achei que foi bom para a economia, principalmente de Goiás, porque prevê a tributação no consumo. E o estado de Goiás não é um grande consumidor do Brasil, ou seja, a gente exporta mais do que consome. Logo, naturalmente, vamos exportar mais imposto para os outros estados. E aquela vantagem competitiva que tínhamos de poder diminuir o imposto para atrair uma empresa de fora, vamos perder.

Naturalmente, ela vai procurar se colocar perto do consumidor, onde tem o consumo, para ter menor custo. E isso vai prejudicar, certamente, o Estado de Goiás. E ao prejudicar o Estado de Goiás, vai prejudicar o cooperativismo também.

Nossa esperança é que se comece, em contrapartida, a investir mais em infraestrutura. Questão de energia, que ainda é problema, de estradas. Nós temos o problema dos portos, que são distantes de nós.

Ton Paulo – E qual o panorama que o senhor faz para o cooperativismo em 2025? São expectativas positivas ou negativas?

Nosso cooperativismo vem crescendo notavelmente. Cresce em uma média de 30% ou mais por ano. Então, o cenário do cooperativismo é de crescimento. O modelo dele é bem próprio para o crescimento. É um cenário positivo.

Mas dependemos aqui em Goiás muito da situação do agronegócio. E não só para as cooperativas do agronegócio, porque temos as cooperativas de crédito que trabalham com agronegócio também, e as de saúde que atendem o pessoal do agronegócio. Portanto, quando o agronegócio tem algum problema, isso se reflete no cooperativismo também.

Tivemos, no ano passado, problemas de inadimplência no agronegócio e isso foi ruim. Em 2023, tivemos problemas climáticos, o que impactou no preço de soja. Ou seja, isso tudo, de certa forma, reflete no cooperativismo.

Estamos com expectativa de 2025 ser um ano mais sereno. Acho que, ainda mais com as brigas tarifárias do presidente americano Donald Trump, podemos ser beneficiados em questão de preço do mercado internacional. O clima vai estar tranquilo, vai ter uma super safra. Quando o agro vai bem, o cooperativismo agro vai bem, o de crédito também, e os outros também.

2025 é um ano em que acreditamos que vamos continuar com um crescimento. Mesmo quando existe crise, não costumamos ter um problema proporcional aos outros. Porque o cooperativo tem essa resiliência, esse poder de superar.

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