Jornalista do Jornal Opção vendeu picolé, foi ajudante de pedreiro, motorista e se reinventou aos 48 anos

Meu nome completo é Cilas da Silva Gontijo. Sou o primogênito de uma família de oito irmãos — filhos de José Pinto Gontijo e Maria Neneilta da Silva Gontijo, que já faleceram.

Durante minha adolescência e juventude, vivi em uma pequena cidade tranquila no Sul do Pará. Trabalhei na agricultura, plantando e colhendo arroz, e atuei como vendedor de picolé, pão, roupas, peixe, açaí e castanha do Pará. Uma vida dura, mas de intensa aprendizagem, pois aprendi a olhar o mundo e os fatos de maneira mais abrangente, diversificada e tolerante.

No final da década de 1990, mudei para Goiânia em busca de melhores oportunidades e qualidade de vida, atraído pelos elogios à capital de Goiás como um lugar de oportunidades, com abundância de empregos e custo de vida acessível. Logo percebi que era possível viver com pouco dinheiro na cidade.

Cilas Gontijo assim que foi contratado pelo Jornal Opção como motorista l Foto: Arquivo pessoal

Apesar de meu espírito trabalhador e do desejo de estudar, em Goiânia tive de escolher entre o trabalho e os estudos. Infelizmente, optei pelo trabalho, pois precisava de uma renda para sobreviver. Eu tinha feito apenas o segundo grau, equivalente ao ensino médio atual.

Sentia uma tristeza na alma, mas, como tantos outros pobres, era realista. Então, convocado pelo trabalho, não pensei mais nos estudos. Porém, no fundo do meu ser, algo sempre me incomodou.

Ao chegar em Goiânia, conheci Patrícia Alves da Silva, por quem me apaixonei rapidamente. Logo percebi que ela também estava interessada em mim. Após dois anos de namoro, nos casamos. Nós queríamos ter filhos, mas não foi possível. Um mistério que a ciência não conseguiu explicar a contento. Talvez esteja na esfera do divino, digamos assim.

Com o casamento, as responsabilidades e as despesas aumentaram. Por isso o sonho de continuar os estudos foi adiado.

Em Goiânia, inicialmente, trabalhei como ajudante de pedreiro e, em seguida, recebi um convite para ser motorista terceirizado na Agência Goiana de Comunicação (Agecom) prestando serviços para a TV Brasil Central. Lá, trabalhei por três anos e tive as primeiras experiências no jornalismo, inclusive cobrindo ausências de repórteres durante a noite.

Em 2003, fui convidado para fazer um teste de motorista no Jornal Opção. Como as condições na Agecom estavam difíceis, com constantes atrasos nos salários, aceitei o convite e fui contratado pelo jornal. Eu não sabia na época, mas, de acordo com minha crença (sou evangélico), tudo isso estava no plano de Deus.

No Jornal Opção, tive a oportunidade de conhecer importantes figuras, como o proprietário do jornal, Herbert de Moraes Ribeiro, sua esposa, Nanci Guimarães de Melo Ribeiro, e a filha, também jornalista, Patrícia de Melo Morais Ribeiro Machado. Além disso, conheci o jornalista Euler de França Belém, editor-chefe, que mais tarde seria fundamental em minha vida, e a amiga Andrea Rocha. Talvez possa dizer que, a rigor, encontrei uma nova família. Uma família do coração — não de laços biológicos.

Durante 21 anos, fui o responsável por levar repórteres para diversas pautas em Goiânia, em todo o Estado de Goiás e Brasília. Sempre que possível, ajudava os repórteres, inclusive com palpites ou dicas que, eventualmente, eram aceitos.

Colaboradores do Jornal Opção há cerca de quinze anos atrás l Foto: Arquivo/Jornal Opção

Em 2018, Euler de França Belém me convidou para escrever um artigo sobre porque votava em Jair Bolsonaro para presidente da República. Sabia-se, na redação, que eu tinha inclinações político-ideológicas à direita. Sou assim mesmo: nunca escondo o que penso. Por isso sou considerado polêmico.

O artigo teve grande repercussão — inclusive foi elogiado pelo ex-governador Irapuan Costa Junior — e abriu portas para que eu escrevesse sobre diversos temas importantes, muitas vezes de alcance nacional e internacional.

Em 2017, Patrícia Moraes, editora responsável e proprietária do Jornal Opção, e Euler de França Belém me perguntaram se eu gostaria de fazer jornalismo. Não hesitei um minuto e disse que “sim”. Mas esclareci que não tinha condições financeiras para pagar o curso. Patrícia Moraes disse que a empresa arcaria com os custos do curso, um gesto humano que me emocionou profundamente. Secretamente, longe dos dois, fui às lágrimas… sim, sou motivo.

Formatura em Jornalismo na UniAraguaia

Após quatro anos de estudos, com dedicação, eu me formei em jornalismo pela UniAraguaia aos 48 anos. Sim, às portas de completar 50 anos. Posso dizer que me reinventei, como profissional e homem, com quase meio século de existência.

Apesar de ser considerado uma pessoa de direita, me considerado, acima de tudo, um jornalista aberto às ideias divergentes da sociedade. Gosto de gente, de ouvir as pessoas e de escrever sobre elas — independentemente das doutrinas ideológicas que abraçam. Sobretudo, procuro retratar com fidelidade aquilo que ouço e vejo. Sei claramente que a reportagem é muito diferente de um artigo, por exemplo. Sou meticuloso ao expor as ideias dos outros.

A democracia, até para ser democracia, precisa de representantes de todos os espectros político. A liberdade de expressão — de todos, e não apenas dos que concordam com fulano ou sicrano — é crucial. Para evitar que se crie uma ditadura, à direita ou à esquerda, é crucial que as ideias diferentes tenham o mesmo espaço. A sociedade aberta é isto. Os indivíduos têm o direito de pensar diferente.

Sou repórter do Jornal Opção, contratado, o que me deixa extremamente feliz. Penso em jornalismo o tempo inteiro. Parece até quando estou dormindo. Aprecio sair da redação para ouvir as pessoas. Recentemente, estive em vários postos de saúde e vi, com certo abatimento, como os pobres são maltratados em Goiânia. Estive na maior favela do Brasil, Sol Nascente, a poucos quilômetros de Brasília. O que vi lá: criminosos? Não. Gente honesta e trabalhadora lutando contra as desigualdades ingentes do país. São pessoas de todos os cantos: Bahia, Maranhão, Pará e, entre outros, Goiás. Percebi que, no fundo, as pessoas estão em busca de felicidade, de viver melhor (nada diferente de minha história pessoal). Sonha-se ter uma casinha, depois uma moto e, mais tarde, quem sabe, um automóvel. Gosto de ver as coisas em primeira mão, sem a versão dos outros.

Cilas Gontijo e a esposa Patricia Gontijo l Foto: Arquivo pessoal

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, o dono de minha vida, à editora Patrícia Moraes; ao editor-geral, Euler de França Belém, que foi um presente em minha vida; a dona Nanci Guimarães; a Andrea Rocha; aos jornalistas Marcos Aurélio e Elder Dias, que contribuíram significativamente para o meu crescimento profissional, e a todos os colegas de trabalho do Jornal Opção — que, de alguma forma, contribuíram para minha formação como jornalista.

Não posso deixar de expressar minha gratidão especial à minha amada esposa, Patrícia Gontijo, que tem compartilhado comigo as maravilhas que Deus tem nos proporcionado ao longo desses 21 anos de casamento. Podemos afirmar que — até aqui — nos ajudou o Senhor.

Saiba, leitor, que, como eu, você pode se reinventar — e em qualquer idade. Lute. Sobretudo, lute. Não se acomode.

O post Jornalista do Jornal Opção vendeu picolé, foi ajudante de pedreiro, motorista e se reinventou aos 48 anos apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.