Mais que uma despedida política e religiosa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visita o Papa Francisco pela última vez, simbolizando ainda a amizade que os dois mantinham – visto que até trocaram cartas enquanto Lula esteve preso. Acompanhado por uma comitiva do governo brasileiro, Lula vai comparecer ao velório marcado para este sábado (26).
O presidente recebeu uma carta do papa Francisco – que morreu na última segunda-feira (21) – após um ano preso. O texto respondia a uma carta de Lula ao pontífice, enviada aproximadamente um mês antes, onde ele agradecia o papa pelo apoio “ao povo brasileiro pela justiça e pela defesa do direito dos pobres”.
Datada de 3 de maio de 2019, o papa fala sobre as “duras provas” que Lula vivia no momento, por ter perdido familiares, nomeando a ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017), o irmão Genival Inácio (morto em fevereiro de 2019) e Arthur, neto de Lula (morto em março de 2019, aos 7 anos).
“Quero manifestar-lhe minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar acreditando em Deus”, escreveu o pontífice.
Aproximação com apoiadores de Lula
Depois da prisão do presidente, o papa recebeu apoiadores de Lula em duas ocasiões:
- A primeira, em julho de 2018, quando uma comitiva que incluía a jurista Carol Proner – esposa do compositor Chico Buarque – e Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, foi recebida em uma audiência na Casa Santa Marta, residência oficial do papa no Vaticano;
- Na segunda, em novembro de 2018, uma nova comitiva foi recebida pelo papa em sua residência oficial, desta vez, com o próprio Chico Buarque.
O grupo queria denunciar que, na visão deles, Lula só estava preso por ‘lawfare’ – que é o uso de manobras jurídicas para fins políticos -, naquele momento por acusações de corrupção e lavagem de dinheiro, que foram anuladas. Também queriam protestar contra o que entendiam como uma tentativa de impedir que Lula fosse candidato nas eleições presidenciais de 2018, que elegeu Jair Bolsonaro.
Cartas
A carta de Lula para o papa foi entregue cinco meses depois da reunião com os apoiadores. Para isso, o atual chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República e então assessor de Lula, Marco Aurélio Santana Ribeiro contatou o ex-seminarista e ex-ministro de Dilma Rousseff (PT), Gilberto Carvalho.
Segundo Carvalho, em entrevista à BBC, ele decidiu entregar a carta de Lula – ainda preso em Curitiba – por meio de um amigo do papa, já que temia que o texto não chegasse até ele pelos meios comuns. A carta chegou até o papa, que retornou confidencialmente.
Após contatar outras figuras próximas ao papa, Francisco liberou a divulgação do conteúdo da carta a Lula, contanto que não causasse problemas para a Nunciatura no Brasil, naquele momento governado por Bolsonaro. Meses depois, o Vaticano foi o destino de Lula durante a primeira viagem internacional que fez após a prisão, em fevereiro de 2020, onde se encontrou com o papa.
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