Escritor fala do impacto da tecnologia na adolescência e defende o diálogo para superar barreiras geracionais

Em entrevista ao Jornal Opção sobre a série Adolescência, o escritor e pesquisador Wagner Bezerra afirmou que a produção é uma importante ferramenta para compreender o abismo geracional intensificado pelo uso da tecnologia, além de alertar sobre os perigos que rondam crianças e adolescentes nas redes sociais, videogames e ambientes digitais. Segundo ele, a série evidencia como a internet e as mídias digitais expõem os jovens a riscos invisíveis, muitas vezes mascarados sob a aparência de entretenimento e brincadeira.

Wagner Bezerra é escritor e pesquisador | Foto: Arquivo pessoal

Bezerra chamou a atenção para os desafios enfrentados por pais, mães e educadores, que muitas vezes se sentem incapazes de acessar o universo digital dos adolescentes. Para ele, o chamado “gap geracional” tornou-se mais acentuado na atualidade, devido à presença dominante das tecnologias na vida cotidiana. “Esse gap, que é comum entre gerações, hoje se transforma em abismos insuperáveis, especialmente quando consideramos a presença massiva da tecnologia e das mídias digitais”, ressaltou.

O escritor apontou que ambientes digitais, como redes sociais e jogos online, expõem crianças e adolescentes a conteúdos de alta toxicidade, incluindo manifestações de racismo, misoginia, homofobia e gordofobia. Esses conteúdos, frequentemente disfarçados de brincadeiras, podem ter efeitos devastadores, como o caso recente da menina Sara Raíça Pereira de Castro, de oito anos, que faleceu após participar de um desafio no TikTok. “Esses perigos, muitas vezes invisíveis para os adultos, precisam ser mais bem compreendidos para que possamos agir de forma efetiva na proteção dos jovens”, alertou.

Com uma trajetória acadêmica dedicada à pesquisa das interações juvenis em ambientes digitais — especialmente no campo dos videogames —, Wagner relatou como a própria experiência pessoal, como pai e pesquisador, o levou a refletir sobre os métodos de aproximação com os adolescentes. Em sua tese de doutorado pela PUC-Rio, concluída em 2021, ele investigou as dinâmicas de sentido e socialização entre adolescentes gamers.

Segundo Wagner, a chave para superar as barreiras geracionais não está na imposição de regras, mas na construção do diálogo baseado na escuta atenta e na empatia. “Enquanto pesquisador, defendia a escuta como método. Mas, como pai, percebi que muitas vezes adotava uma postura autoritária e tradicional, que afastava o diálogo”, reconheceu. A partir dessa reflexão, ele passou a adotar a pergunta e o interesse genuíno como formas de se aproximar do universo digital dos filhos e dos jovens de sua pesquisa.

“Assumir o desconhecimento sobre o que acontece dentro do quarto, durante as interações digitais, foi fundamental para estabelecer um verdadeiro diálogo”, explicou. De acordo com Wagner, somente ao abdicar da postura de autoridade e demonstrar interesse sincero em compreender as práticas juvenis é possível atravessar o abismo geracional e oferecer orientação efetiva.

Para ele, a série Adolescência reforça a necessidade de pais, mães e educadores adotarem abordagens mais compreensivas e abertas, em vez de reações de medo ou proibição. “O fenômeno não é brasileiro, é mundial. Todos estamos enfrentando simultaneamente os impactos das tecnologias digitais no cotidiano e precisamos aprender a lidar com isso com mais humanidade, escuta e abertura para o novo”, concluiu.

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