Tenente acusado de duplo homicídio no Setor Jaó é indiciado por nova morte

O 2º tenente Wandson Reis dos Santos, acusado de participar do duplo homicídio no Setor Jaó, em Goiânia, e o soldado João Warlley Rodrigues Fernandes foram indiciados por homicídio simples praticado contra Starley Costa dos Santos durante um suposto confronto na GO-040, em Abadia de Goiás. A ação ocorreu no dia 30 (sábado) de março de 2024 após uma perseguição policial, conforme informaram os policiais lotados à época no Comando de Operações de Divisa (COD). 

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Os militares estavam acompanhados do 2º sargento Marcos Jordão Francisco e do soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva, conforme documento assinado nesta terça-feira, 29, pelo Comandante de Correições e Disciplina (CCD) da Polícia Militar de Goiás (PMGO), coronel Daniel Pires Aleixo. O coronel optou por não indiciar o sargento, que não efetuou nenhum tiro, e o soldado, que ficou responsável pela segurança do perímetro por entender que não participaram do crime. 

No Registro de Atendimento Integrado (RAI), os militares justificaram que foram surpreendidos com disparos de arma de fogo durante uma tentativa de abordagem a Starley, que estava em um veículo modelo Creta. Antes do suposto confronto, houve uma perseguição policial. 

O grupo informou ainda que a vítima era suspeito de participar de um grupo criminoso do Rio de Janeiro, além de ser autor acusado de um crime de feminicídio praticado em 2020, em Aparecida de Goiânia, em que a mulher foi morta com quatro tiros no rosto. As afirmações, porém, foram contestadas. 

De acordo com o documento, de 79 páginas, Starley possuía antecedentes criminais por tráfico de drogas, porte e posse ilegais de arma de fogo, dano qualificado, rebelião ou motim de presos, resistência e desacato, não tendo registros sobre o suposto feminicídio atribuído a ele pelos militares. 

Foi identificado ainda a inexistência de um Relatório Técnico da Agência Local de Inteligência (ALI) do COD, que demonstrasse a ligação de Starley com atividades criminosas ou crime organizado. Ao ser questionado sobre o relatório, o comando do batalhão na época informou que “que não foi produzido qualquer relatório da situação em tela, tendo em vista que nessa ocasião, a equipe de inteligência ali esteve depois de ocorrido o confronto, apenas para apoio à ocorrência”. 

“Constata-se que os investigados incorreram em indícios de crime militar. As provas periciais e testemunhais carreadas na presente investigação, nos levam a concluir que a ação dos investigados causou a morte do suspeito que reagiu a uma abordagem, logo, esclarecidos estão a autoria e materialidade de ação delituosa”, afirma trecho da decisão.

2º tenente Wandson Reis dos Santos e o soldado João Warlley Rodrigues Fernandes | Foto: Reprodução

Perícia 

A vítima morreu às 12h51, em decorrência de lesões pulmonares e hemorragia grave provocados por projéteis de arma de fogo, sendo removido da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do Residencial Itaipu, em Goiânia. O óbito foi constatado um minuto depois que Starley chegou a unidade de saúde levado na própria viatura pelos policiais. 

Segundo perícia da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC), a vítima foi atingida por dois disparos, que provocaram lesões torácicas e no pescoço. Um dos projéteis foi identificado como sendo da calibre 5,56x45mm, portada pelo soldado João Warlley Rodrigues Fernandes no dia do homicídio. A corporação, porém, não conseguiu identificar a origem da segunda bala. 

“O perfil genético obtido da amostra coletada no gatilho da arma de fogo apresentada como utilizada pela vítima, não apresentou qualidade para análise devido a insuficiência de DNA. Ou seja, houve detecção de DNA humano, entretanto a quantidade e qualidade não foi suficiente para obtenção de perfil genético específico. Segundo consta nos autos, apenas Starley foi ferido, o que leva a inferir que era seu o sangue da arma periciada”, diz a SPTC. 

O Jornal Opção não conseguiu localizar as defesas dos militares para que se posicionassem. Em nota, a Polícia Militar informou que à época dos fatos, todos os procedimentos administrativos foram adotados e que o caso segue em tramitação na esfera judicial, instância responsável pela condução das demais fases (veja nota completa ao final).

Starley Costa dos Santos morto durante suposto confronto | Foto: reprodução

Histórico de confrontos

Além do indiciamento pela morte de Starley, o 2º tendente Wandson Reis dos Santos é acusado de participar do duplo homicídio do autônomo Junio José de Aquino, de 40 anos, e o corretor Marines Pereira Gonçalves, de 42. Outros quatro militares também foram denunciados pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) pelo crime praticado no Setor Jaó, em Goiânia, no dia 1º de abril de 2024. 

Junio, inclusive, teria sido morto pelos tiros dados pelo tenente. Em documento do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), de 781 páginas, Wandson também é citado em mais de 40 procedimentos administrativos da PM por envolvimento em confrontos policiais que resultaram entre um e quatro mortos. As ocorrências ocorreram entre 2011, enquanto soldado, e 2024, já no posto de 2º tenente, nos batalhões de Rotam, COD, CME e Graer.  

Algumas das citações, porém, são relacionadas ao mesmo caso, como a envolvendo a morte de Igor Alves de Andrade e João Victor Coutinho Santiago, em 17 de fevereiro de 2017, em Goiânia, e o casal Afonso Amaral Fraga e Maiane da Silva dos Santos, em 06 de outubro do mesmo ano. Os suspeitos, que eram atribuídos a crimes de latrocínio (roubo seguido de morte), foram citados ao menos três vezes cada no decorrer do processo. 

Algumas das ocorrências, inclusive, rendeu elogios da cúpula da PM, assim como de comandantes e vice-comandantes dos batalhões em que o tenente já passou. Wandson chegou a receber sete promoções – cinco por atos de gravura – e 14 condecorações por atuações, como o confronto com quatro homens apontados como integrantes do PCC entre as cidades de Rio Verde e Cachoeira Alta, em 07 de agosto de 2019 – um mês antes de ser promovido a 2º sargento. 

PM filmado atirando contra carro e colocando arma dentro de veículo durante ação policial em Goiânia | Foto: reprodução

Nota na íntegra da Polícia Militar:

A Polícia Militar de Goiás (PMGO) informa que, à época dos fatos, todos os procedimentos administrativos foram prontamente adotados, em conformidade com a legislação vigente. O caso segue em tramitação na esfera judicial, instância responsável pela condução das demais fases e pelas devidas deliberações processuais”.

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