Pesquisadores revelam como foi um dia de expedição em ilha brasileira com três mil cobras

Pesquisadores do Instituto Butantan passaram um dia na Ilha da Queimada Grande, próxima a Itanhaém, no litoral de São Paulo. O local é conhecido popularmente como “Ilha das Cobras” por abrigar cerca de 3 mil cobras e ser a segunda ilha do mundo com a maior concentração de serpentes por metro quadrado – a primeira fica no Japão. A ilha ainda é morada da jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), uma serpente única que não é encontrada em nenhuma outra parte do mundo, segundo o próprio instituto.

A cobra é conhecida pela coloração amarelada e por passar boa parte do tempo enrolada nas copas das árvores. Em março, foi percebido que as serpentes estavam debilitadas e não pareciam estar se alimentando. Por isso, o objetivo da expedição era diagnosticar a população de Bothrops insularis durante o início do outono, já que neste período é encerrada a migração de uma das presas dela: a ave guaracava-de-crista-branca (Elaenia chilensis). 

Os pesquisadores estavam preocupados porque não ouviram o canto do pássaro em migração, já que este costuma sair do Chile em direção ao norte entre fevereiro e março. Essas cobras só se alimentam duas vezes ao ano: em março, com a migração da guaracava-de-crista-branca; e entre junho e outubro, com a chegada do sabiá-una (Turdus flavipes). 

Pesquisadores coletam materiais da jararaca-ilhoa na Ilha das Cobras | Foto: Instituto Butantan

Também queriam coletar dados e amostras para pesquisas sobre a reprodução desse réptil. O trajeto da cidade até a ilha dura cerca de duas horas de barco, a depender das condições de clima e maré. São 35 quilômetros de Itanhaém até a Queimada Grande. Ao chegar no local, a equipe precisou passar por uma trilha, mata adentro. Com 14 minutos de caminhada, encontraram a primeira B. insularis enrolada em um arbusto. 

A cobra de 70 centímetros foi capturada e colocada em um tubo de contenção para ser avaliada, quando foi considerada hidratada e saudável. Ainda descobriram que este animal já havia sido capturado por pesquisadores antes. Como se tratava de um macho, foi coletado um fragmento de escama e amostra da região cloacal para verificar a presença de sêmen – com objetivo de analisar a biologia reprodutiva dos machos e a qualidade dos espermatozoides, conforme divulgou o Instituto.

Quando a cobra capturada é uma fêmea, os pesquisadores realizam um ultrassom para verificar o desenvolvimento dos folículos vitelogênicos, importantes para a fertilidade e reprodução do animal. Nesta, também foi coletado um carrapato nas escamas dela, a fim de medir a condição geral de saúde do animal – já que este é um indicativo de possível doença.

Somente na quarta semente capturada, os pesquisadores perceberam que ela estava alimentada, com duas aves recém-predadas no estômago, e ficaram aliviados. Logo nos metros finais da trilha de volta, uma última coleta: a carcaça de um exemplar de Elaenia chilensis. A expedição ocorreu em abril, encabeçada pelos laboratórios de Ecologia e Evolução (LEEv) e Coleções Zoológicas (LCZ). A área está sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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