Ao folhear um livro sobre a história de Goiás, nos deparamos com os nomes antigos e cuirosos dos primeiros assentamentos do estado: Arraial dos Couros, Mata Una, Rio Verde das Abóboras, Santa Ana das Antas. As primeiras cidades começaram a partir do Século XVIII. Na época, o Brasil ainda era uma colônia da família real portuguesa e estava prestes a ser a casa temporária da corte devido ao temor de uma possível invasão do imperador Napoleão Bonaparte, do Império Francês.
Naqueles anos, os primeiros colonos do litoral desbravaram o Sertão e o Cerrado adentro através dos rios, córregos e estradas coloniais que cortavam a Bahia e o Pernambuco rumo ao Brasil Central, como o rio Tocantins que deu origem ao Porto Imperial, atual Porto Nacional, em Tocantins, e a estrada de currais São Francisco que deu origem a Imperatriz, atual Formosa.
Sobre Formosa, Imperatriz não foi o primeiro nome do município. Ainda no século XVIII, assentamentos de escravos foragidos foram os primeiros povoados da região — que ainda era relativamente desconhecida. Devido às estruturas rudimentares e a alta presença descendentes africanos na região que ficou conhecida como Arraial dos Couros.
Porém, com a descoberta do ouro em Goiás, a antiga Formosa foi palco de um movimento migratório em busca do minério e de novas terras para o pasto de gado. Pela falta de estrutura dedicada para escoar a produção dentro de Goiás para o litoral, o então rei de Portugal, João V, instituiu a Estrada Colonial Planalto Central que conectava os municípios de Meia Ponte, atual Pirenópolis, com a recém fundada Vila Formosa da Imperatriz pela paisagem bonita do Cerrado goiano. Com o fim do Império no final do Século XIX, o município depôs a Imperatriz e ficou conhecido apenas como Formosa.
Contudo, Formosa não é único caso indicadores históricos geográficos que deram origem aos nomes dos municípios goianos e da diversa identidade do Estado. De acordo com o pesquisador Nilson Jaime, ao Jornal Opção, o município de Palmeiras de Goiás foi umas das cidades que sofreu pelo processo cultural de construção de uma identidade através do chamado acidente geofráfico. De acordo com o historiador, o município era conhecido como São Sebastião do Alemão, uma homenagem religiosa, mas que também fala sobre os garimpeiros que fugiram de Minas Gerais pelas chamadas derramas, imposto imperial de 20% sobre a mineração do ouro.
Contudo, durante a 1ª Guerra Mundia, entre 1914 e 1918, objetos, nomes e relações alemãs eram mal vistas e submetidas ao escrutínio popular, por isso a região passou a ser chamada de Palmeiras de Goiás. “Escolheram um nome certamente poético, mas a versão oficial é que lá tinha muitas palmeiras. O que é verdade para o Estado inteiro. Aí quando foi em 1944, passou a se chamar Mata Una. Ou seja, Mata Fechada. E isso durou apenas 3 anos, de 1944 a 1947. Em 1947 passou a se chamar Palmeiras de Goiás. Porque tinha Palmeira dos Índios, Palmeira das Missões em outras cidades de outros estados”.
Outra cidade que também sofreu por esta mudança foi o município de Rio Verde, que era chamada de Nova Beleza, e depois passou a ser chamada de Rio Verde das Abóboras. Segundo o historiador, parte do nome era pelo rio que cortava a cidade, mas a outra parte de “abóboras” pertencia ao imaginário popular como um marcador geográfico, o acidente geográfico. “Alguma cidade, [as pessoas] marcam com algum assistente geográfico, alguma plantação. Então, certamente tinha lá alguma plantação de Abóboras”, afirma.
Ainda sobre isso, o historiador conta que o mesmo ocorreu com a cidade de Anápolis, conhecida como Santa Ana das Antas, que era em parte de uma homenagem religiosa e em parte um marco geográfico pela presença do animal na região. Posteriormente, a cidade das Antas passou por um processo de nomenclatura que ocorre por todo o estado pelo uso do sufixo grego pólis que significa “cidade”. Com isso, a cidade das Antas ficou conhecida como cidade da Ana, assim como Nerópolis é cidade de Nero e Cristópolis é cidade de Cristo.
Por outro lado, o processo da identidade de Goiânia foi através de uma homenagem artística, ao contrário de uma marco puramente geográfico. Como conta a história, antes de sua fundação a cidade de Goiânia era para ser chamada de Petrônia, em homenagem ao fundador Pedro Ludovico. O nome teria sido escolhido a partir de um concurso feito pelo então governador, contudo, Ludovico teria descartado o nome da Capital para Goiânia, advindo de um poema chamado de Goyana do autor Manoel Lopes Ramos, do final do século XIX. Segundo conta James, o nome tem origem tupi-guarani e significa “terra de muitas águas.”
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