Especialista avalia que crescimento da região metropolitana dificulta a vida da população periférica em Goiânia

Boa parte do capital circulante em Goiânia provém do agronegócio, que registrou um crescimento de 15% entre 2022 e 2023, consolidando-se novamente como a principal força motriz da economia brasileira, de acordo com dados do IBGE.

A região metropolitana de Goiânia destacou-se como a área de maior crescimento nos últimos 12 anos, impulsionando o mercado imobiliário em ritmo acelerado. Com o crescimento observado no último ano, o mercado imobiliário goiano consolidou-se como o terceiro maior do país em Valor Geral de Vendas (VGV), ficando atrás apenas de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ).

“Isso leva a dois movimentos: um que compensa essa classe média em apartamentos menores e cada vez mais altos, e tem o outro movimento que é o despareamento a partir dos condomínios fechados, principalmente aí na GO-020, Senador Canedo, e na BR-153. O efeito é o aumento do preço médio do m2 também no ambiente periférico, o que torna a vida dos pobres ainda mais difícil. É um processo de inversão de capital que atinge a todas as classes”, explica Leandro Lima, Professor do Instituto de Estudos Socioambientais e pesquisador de políticas de planejamento e gestão urbana.

Nos últimos 12 meses, Goiânia alcançou a segunda maior alta acumulada nos preços de venda de imóveis entre as capitais brasileiras, ficando atrás apenas de Maceió (AL), de acordo com o FipeZAP. Ao longo da última década, o VGV dos empreendimentos na cidade disparou 126%, saltando de R$ 2,6 bilhões em 2014 para quase R$ 6 bilhões em 2023, segundo pesquisa da Ademi-GO em colaboração com o Instituto Brain.

Para o professor Leandro Lima, a cidade, de alguma maneira, sofre o efeito das políticas públicas e do mercado imobiliário. “O que Goiânia tem registrado é um intenso processo de valorização imobiliária ocasionado por um excedente de renda da elite do agronegócio e de outros setores, como, por exemplo, os cantores sertanejos, além de um perfil social e profissional dos altos magistrados, de juristas e médicos bem renomados na cidade”. Esses fatores têm puxado a valorização imobiliária em Goiânia e esse excedente de renda é um arranjo fortemente influenciado pelo Estado.

No último ano, o número de moradores em condomínios horizontais de Goiânia mais que dobrou, de acordo com dados do último Censo Demográfico do IBGE divulgado em 2022.Em 2022, a capital contava com 56.668 residentes em condomínios horizontais ou de casas, em comparação com os 25.233 registrados no Censo anterior de 2010. Isso representa um aumento de 124,57% em um período um pouco superior a 10 anos. A tendência é que esse percentual continue aumentando nos próximos anos.

Hoje, os dados do IBGE têm mostrado um grande avanço do setor do agronegócio na condição da riqueza do país. Esse agronegócio é financiado por problemas e políticas públicas, como o Plano Safra, por exemplo. Além disso, o agronegócio serve como um ambiente de imersão de renda para os cantores do sertanejo e para outras atividades que fazem parte da tradição da formação goiana. O que acontece é que esse excedente de renda, procurando uma forma de reinvestimento, usa os espaços da cidade com a inversão de capitais. Isso puxa o preço do metro quadrado no Brasil.

“A origem desses investimentos são políticas públicas, como o financiamento do agronegócio, dos eventos culturais, ou mesmo os investimentos em políticas habitacionais, que fomentam o mercado imobiliário e criam um sistema de retroalimentação que utiliza os espaços da cidade como forma de investimento”, pontua Leandro Lima. Em Goiânia, há imóveis de alto padrão de luxo, que são um exemplo, entre vários outros grandes movimentos, de valorização da cidade para um público muito específico.

Segundo o especialista em planejamento, essa valorização impregnada nesses imóveis de luxo puxa o preço médio de determinados bairros escolhidos, eleitos pela classe média como um lugar bom para morar. Ao mesmo tempo, esses imóveis de luxo elevam o preço médio, tornando esse ambiente para a classe média, sobretudo nos estratos mais baixos, um lugar difícil para morar devido à falta de preparo da cidade para essa verticalização. Além dos bairros mais abastados, a verticalização atinge também outros setores na capital, como o Setor Pedro Ludovido, Novo Mundo, Jardim América, entre outros.

“O Estado financia o agronegócio e permite a violação da legislação para a instalação de condomínios, o que é o caso de todos eles. O movimento de valorização imobiliária se volta contra o próprio Estado porque fica cada vez mais difícil regular o uso do solo. O mercado imobiliário acaba por regular os planos diretores municipais”, explica Leandro Lima.

O censo de 2022 mostra um intenso crescimento imobiliário na região metropolitana de Goiânia, especialmente em Senador Canedo, entre 2010 e 2022, que cresceu mais do que em toda a história da cidade. “No caso de Goiânia, a partir do solo criado e da verticalização, o incremento imobiliário foi muito significativo, o que puxa os preços para cima e ocasiona o aumento de domicílios vagos em Goiânia, o que é muito alto”, finaliza o Professor do Instituto de Estudos Socioambientais.

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