Saiba quem são os campeões de xadrez e como está a cultura do esporte em Goiás

Árbitro e técnico de xadrez, Renato Genovesi, conhecido como Gino, explica que o jogo é um dos esportes mais praticados virtualmente, ou seja, online. Afirma ainda que o xadrez tem sido introduzido cada vez mais cedo no ambiente escolar, seja como matéria curricular, vinculado à educação física ou como atividade complementar, principalmente em escolas particulares e algumas da rede pública. Isso se deve ao reconhecimento do xadrez como um facilitador do processo escolar, com benefícios pedagógicos comprovados cientificamente.

O xadrez é reconhecido por sua capacidade de desenvolver o raciocínio, tornando-o uma ferramenta eficaz no auxílio dos alunos, especialmente para crianças com dificuldades em aprender. Estudos científicos mostram que o xadrez atua em diversas áreas do cérebro relacionadas à aprendizagem, facilitando esse processo.  

“O que falta são pessoas capacitadas e habilitadas para difundir o xadrez. Em Goiânia, por exemplo, há uma demanda crescente pelo ensino de xadrez nas escolas, mas a falta de capacitação adequada limita a oferta desse aprendizado”, explica Gino. Muitas vezes, atletas de xadrez são os responsáveis por ministrar aulas nas escolas após terem participado de competições estudantis.

No entanto, segundo o árbitro e técnico, esses profissionais precisam adquirir habilidades didáticas e pedagógicas para transmitir efetivamente o conhecimento do xadrez. Atualmente, não há cursos específicos oferecidos pela Federação de Xadrez do Estado de Goiás (Fexeg) para formação de professores de xadrez, o que evidencia a necessidade de investimento na capacitação desses profissionais para atender à crescente demanda pelo ensino desse jogo milenar.

Renato Genovesi, conhecido como Gino, é árbitro e técnico de xadrez.| Foto: Arquivo

Quanto aos incentivos governamentais, embora exista o programa Bolsa Atleta, que oferece suporte financeiro para atletas, não há uma política específica de incentivo para entidades que administram o xadrez. “A falta de uma política de valorização dessas entidades e de investimento por parte do governo estadual tem sido uma demanda constante, com muitas promessas ainda não cumpridas”, pontua Renato Genovesi.

Competições

Por sua vez, o professor de xadrez em Chapadão do Céu, Álvaro Barbosa, conta que o xadrez vem crescendo bastante em Goiás como modalidade esportiva e ferramenta pedagógica nas escolas. “Hoje realizamos competições nas escolas públicas e privadas da cidade, reunindo os 5 melhores de cada escola nas categorias infantil (masculino e feminino) e juvenil (masculino e feminino). No fim de cada ano, são realizados intercolegiados e a Prefeitura Municipal homenageia os melhores colocados com premiações em dinheiro”, explica.

Para o enxadrista Caio Guilherme, o incentivo ao esporte nas escolas, principalmente nas particulares, é bastante expressivo em Goiânia. “Praticamente todas as escolas particulares e até mesmo algumas escolas públicas oferecem aulas de xadrez. Além disso, há o apoio da Federação de Xadrez do estado de Goiás. e de clubes locais que organizam torneios, como o campeonato de xadrez escolar, que completou 20 anos de existência no ano passado”, lembra o jogador. Esse campeonato, que conta com a organização de dois professores de xadrez de Goiânia, possui etapas praticamente todos os meses do ano, movimentando significativamente o cenário do esporte local na cidade.

Caio Guilherme, jogador de xadrez de Goiânia. | Foto: Arquivo

No Brasil, havia um projeto de lei que buscava tornar obrigatório o ensino do xadrez nas escolas (PL 2.993/2021), mas ele foi retirado de pauta em 2021. O texto previa que nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, o ensino do xadrez deveria ser obrigatório.

Benefícios para saúde mental

“Não é apenas um jogo, é um aliado terapêutico na prevenção de doenças como Alzheimer e outras demências”, destaca Álvaro Barbosa. “Jogos de tabuleiro, como é o caso do xadrez, apontam para benefícios de proteção contra o declínio cognitivo, na prevenção de doenças neurodegenerativas e estimulam a socialização entre idosos”, continua o professor.

Poucos jogos requerem tanta atenção e concentração quanto o xadrez. Não se trata apenas de planejar sua próxima jogada, mas também de antecipar os movimentos do seu adversário. Isso é especialmente útil para aqueles que têm dificuldade em manter o foco em suas tarefas diárias. O jogo atua como um treino para a mente, exercitando a capacidade de concentração.

Caio Guilherme explica que o xadrez pode contribuir significativamente para a formação intelectual das crianças em várias maneiras. “Um desses benefícios é o desenvolvimento do raciocínio lógico, uma vez que o xadrez é essencialmente um exercício de raciocínio lógico. Os jogadores precisam antecipar as jogadas até dez, quinze ou até vinte movimentos à frente, traçando possíveis linhas de ação. Isso envolve habilidades como solução de problemas e a capacidade de elaborar estratégias para superar obstáculos que possam surgir durante o jogo”, afirma o jogador.

No xadrez, não há espaço para a sorte. Ao contrário de jogos com dados, onde a sorte desempenha um papel significativo, aqui é necessário desenvolver o pensamento estratégico. Esse exercício, reconhecido inclusive pelos médicos, é extremamente útil na resolução de problemas cotidianos. Uma partida pode durar dias, testando nossa determinação e habilidade para lidar com desafios.

Além disso, o xadrez é um excelente exercício de controle emocional. Durante o jogo, somos confrontados com diversas situações que exigem calma e foco. Aprender a lidar com a pressão e as dificuldades no tabuleiro pode nos ensinar a enfrentar os desafios da vida real com mais tranquilidade. “No início do jogo, é possível que alguém se encontre em uma posição desfavorável e, por vezes, deixe-se abalar. Se houver uma inteligência emocional presente, é possível controlar essa reação e encontrar maneiras de contornar a situação. O xadrez é um excelente meio de desenvolver essa habilidade”, acrescenta Caio Guilherme.

É também uma lição valiosa sobre como encontrar soluções mesmo diante de obstáculos aparentemente impossíveis. Assim como no jogo, na vida podemos nos deparar com erros ou dificuldades, mas é importante aprender com eles, refletir e encontrar novas maneiras de seguir em frente. Essa mentalidade resiliente é uma das grandes lições que o xadrez pode nos ensinar e que podemos aplicar em diversas situações do dia a dia.

O xadrez é conhecido por sua capacidade de reduzir a ansiedade e promover a tranquilidade mental, uma observação corroborada por diversos profissionais da área e pelos próprios grandes mestres do jogo, detentores do mais alto título internacional. Para esses jogadores experientes, uma mente calma é meio caminho para a vitória. O xadrez desafia e exercita a mente de forma a promover essa sensação de tranquilidade, permitindo que os pensamentos, estratégias e jogadas fluam com mais facilidade. É essa habilidade de acalmar a mente que torna o xadrez não apenas um jogo, mas uma prática terapêutica para muitos.

Álvaro Barbosa, professor de xadrez em Chapadão do Céu, à esquerda.| Foto: Arquivo

Cultura do xadrez no Brasil

Não se sabe exatamente quando a modalidade realmente alcançou o nosso país. No entanto, há registros históricos de que o pianista português Arthur Napoleão (1843-1925) foi o primeiro grande incentivador da prática do xadrez no Brasil e com participação direta na idealização da primeira escola da modalidade.

Exímio enxadrista e amigo do último imperador do Brasil, Dom Pedro II (1825-1891), Arthur era craque na música e no jogo, sendo o responsável por redigir a coluna de xadrez publicada na extinta revista “Ilustração Brasileira”. Em 1876, ele foi convidado por João Caldas Vianna Filho (1837-1891), o barão e visconde de Pirapetinga, para criar o primeiro clube de xadrez do Brasil — movimento muito importante para o crescimento do título em solo nacional.

“Aqui no Brasil a competição é desleal. Por quê? Porque o futebol domina tudo. Pegue, por exemplo, o caso da Rússia, da Noruega, esses países escandinavos, onde você tem praticamente nove meses de frio e três meses de calor”, pontua Gino. Ele explica que nesse período de inverno, de frio rigoroso, as pessoas tendem a ficarem mais fechadas, oprotundiade para o xadrez ser mais difundido. Além disso, citou a Rússia como exemplo, que teve inúmeros campeões no passado e ainda hoje tem jogadores muito fortes na modalidade.

“O Magnus Carlsen, que é um dos maiores expoentes do xadrez na atualidade, é norueguês. Então, por ele estar em um país onde você precisa ficar fechado a maior parte do tempo, você acaba incentivando o xadrez, seja no computador ou praticando com outra pessoa”, explica o árbitro de xadrez. Segundo Gino, no Brasil o cenário é diferente.

“O menino está na hora de lazer, ou desce para jogar futsal, futebol ou qualquer outra coisa. Ele não fica em um ambiente fechado, a não ser que queira”, explica. Quando alguém está num ambiente fechado, crescem as chance de praticar o xadrez. O xadrez na Rússia é um dos esportes mais populares, exatamente por causa dessa questão climática.

Campeões de xadrez em Goiás

Os dados são da Federação de Xadrez do Estado de Goiás (Fexeg).

  • 1981: João Batista de Almeida
  • 1982: Ludgero Carolino Galli Vieira
  • 1983: Jairo França Júnior
  • 1984: Mario Alves Mendonça Damião
  • 1985: Mario Alves Mendonça Damião
  • 1986: José Benedito de Sousa
  • 1987: Helder Gaioso Pinto
  • 1988: Helder Gaioso Pinto
  • 1989: Marlos de Almeida Damasceno
  • 1990: Guilherme Bueno de Paula
  • 1991: Helder Gaioso Pinto
  • 1992: Helder Gaioso Pinto
  • 1993: Marlos de Almeida Damasceno
  • 1994: Helder Gaioso Pinto
  • 1995: Eduardo de Aquino Gambale
  • 1996: Helder Gaioso Pinto
  • 1997: Guilherme Bueno de Paula
  • 1998: Guilherme Bueno de Paula
  • 1999: Nilson Pascoal da Silva Júnior
  • 2000: Helder Gaioso Pinto
  • 2001: Helder Gaioso Pinto
  • 2002: Helder Gaioso Pinto
  • 2003: Diego Lima Wilhelms
  • 2004: Henrique Camara Ferreira
  • 2005: Helder Gaioso Pinto
  • 2006: Helder Gaioso Pinto
  • 2007: Marlos de Almeida Damasceno
  • 2008: Marlos de Almeida Damasceno
  • 2009: Marlos de Almeida Damasceno
  • 2010: Marceley Martins Mariano
  • 2011: Rafael Figueiredo de Paula
  • 2012: Rafael Figueiredo de Paula
  • 2013: Rafael Figueiredo de Paula
  • 2014: Gabriel Gonzaga Garcia
  • 2015: Rafael Figueiredo de Paula
  • 2016: Andre Diamant
  • 2017: Andre Diamant
  • 2018: Andre Diamant
  • 2019: Gabriel Gonzaga Garcia
  • 2020: Igor Mourão
  • 2021: Andre Diamant
  • 2022: Aquiles Mavhado de Oliveira
  • 2023: Julio Cesar Colivet Gamboa

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