Anápolis é a cidade de Goiás que mais joga a eleição presidencial de 2026 em 2024

Ao se encontrar com um deputado federal de Goiás, o presidente Lula da Silva, do PT, teria perguntado por qual motivo Anápolis é conhecida como “Suzhou do Cerrado”.

Mesmo não sendo de Anápolis, o parlamentar explicou que a cidade foi conhecida, durante vários anos, como “Manchester goiana”. A cidade inglesa foi, por longo tempo, a grande metrópole industrial global. Daí, o município goiano, altamente industrializado — seu Distrito Agro-Industrial (Daia) é um dos maiores do Centro-Oeste —, ter ganhado o “apelido” de Manchester de Goiás.

Entretanto, com a China se industrializando, e se tornado a segunda economia mais rica do mundo — atrás apenas dos Estados Unidos, e superando Japão e Alemanha —, o panorama da hegemonia econômica mudou. Hoje, a maior cidade industrializada do planeta é Suzhou. Por ser a cidade mais industrializada de Goiás, Anápolis passou a ser conhecida, no país, como a Suzhou do Estado e, talvez, do Centro-Oeste.

Em termos de PIB, Anápolis só perde para Goiânia e supera Aparecida de Goiânia e Rio Verde, as outras duas potências econômicas do Estado.

Javier Milei, Márcio Corrêa e Jair Bolsonaro, em Buenos Aires, na Argentina | Foto: Divulgação

Do ponto de vista político, é a segunda cidade mais importante de Goiás, ainda que seu eleitorado seja relativamente menor do que o de Aparecida. Anápolis sempre participou ativamente da política estadual, com Irapuan Costa Júnior (que foi prefeito do município, e, quando governou o Estado, criou o Daia), Jonas Duarte, Henrique Santillo (foi governador), Adhemar Santillo, Henrique Meirelles, Aldo Arantes, o prefeito Roberto Naves e Ronaldo Caiado. Por sinal, Henrique Meirelles, Aldo Arantes e Ronaldo Caiado nasceram na cidade.

Então, Anápolis tem PIB econômico e PIB político altos e respeitáveis. Portanto, é mesmo, como queria saber Lula da Silva, a “Suzhou do Cerrado” ou do Centro-Oeste. Ao lado de Goiânia, Anápolis decide (em) Goiás.

Olhos de lince de Lula da Silva

Mas qual é mesmo o interesse de Lula da Silva, um presidente da República, em Anápolis? O petista-chefe está interessado na candidatura de Antônio Gomide, o deputado estadual do PT que foi prefeito — sempre bem-avaliado pela população — duas vezes consecutivas. Em 2020, perdeu para o prefeito Roberto Naves, no segundo turno.

Para a disputa de outubro de 2024, daqui a oito meses, Antônio Gomide é, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, o favorito absoluto. Com um “empurrão” de Lula da Silva e com o peso da estrutura do PT nacional, tem chance de ser eleito. Não pode ser subestimado tendo por base a eleição de 2020, quando o ambiente eleitoral lhe era desfavorável. Agora, não é.

Antônio Gomide e Lula da Silva: o presidente está de olho no petista | Foto:| Divulgação

Com quase 300 mil eleitores, Anápolis tem peso por si, mas também porque exerce forte influência no seu entorno, como cidade-polo tanto em termos de economia (empregos, comércio) quanto de educação (várias faculdades) e saúde (o Hospital de Urgência local é referência regional em qualidade de atendimento e procedimentos).

Mas o que os aliados de Lula da Silva estão observando com olhos de lince — e, claro, pesquisas qualitativas e quantitativas — é a influência do ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, na cidade.

Goiânia e a aposta em Adriana Accorsi

Lula da Silva e o PT nacional estão de olho grande nas eleições das capitais e das grandes cidades dos Estados. Em Goiás, observa-se, com o máximo de atenção, as disputas de Goiânia e Anápolis. Na capital, a aposta é na deputada federal Adriana Accorsi, que, assim como o pai, o falecido Darci Accorsi, é amiga do presidente.

O petismo aposta que, com apoio decidido — financeiro e articulação de alianças políticas (a tentativa de conquistar o apoio do senador Vanderlan Cardoso, do PSD, se originou em Brasília) —, Adriana Accorsi tem chance de ser eleita prefeita da cidade que já foi administrada, com eficiência, por seu pai.

Lula da Silva, presidente, e Adriana Accorsi, deputada: juntos em Goiânia | Foto: Arquivo pessoal

Por ter mais de 1 milhão de eleitores, Goiânia deveria ser considerada mais importante. A rigor, em termos eleitorais, é. Mas na capital não há uma polarização tão grande quanto em Anápolis.

Se Vanderlan Cardoso sair do páreo — o que, se não é impossível, é muito difícil —, a tendência é que a grande disputa se dê entre três candidatos: Adriana Accorsi, Gustavo Gayer (que não deve ser subestimado), do PL, e Jânio Darrot, do MDB (talvez a caminho do União Brasil). O emedebista vai contar com um exército eleitoral gigante, o que pode fazer a diferença. Porém, no caso de polarização ideológica — se isto mobilizar a opinião pública, o que não ocorre sempre —, crescem as possibilidades de Adriana Accorsi e Gustavo Gayer.

Na ocorrência de segundo turno, no caso de polarização entre direita e esquerda, há o risco de Adriana Accorsi ficar isolada e seu oponente — Gustavo Gayer ou Jânio Darrot — agregar mais forças políticas. Por isso, para a deputada, o apoio de Vanderlan Cardoso pode ser decisivo. Porque puxaria sua candidatura mais para o centro — conquistando, ao menos em parte, um eleitorado não-petista (parte do mundo evangélico, por exemplo).

Lula, Caiado e bolsonarismo

Ronaldo Caiado e Jair Bolsonaro: alinhamento ideológico | Foto: Divulgação

No caso de Anápolis, é consensual que Antônio Gomide irá para o segundo turno — contra um candidato da direita, que pode ser Márcio Corrêa, do MDB (talvez a caminho do União Brasil ou do PL). Mas pode ir isolado, como possivelmente Adriana Accorsi em Goiânia. É o grande risco para o petista. Porque as direitas e o centro podem se unir para tentar derrotar o postulante da esquerda.

Na eleição para presidente da República em 2022, Jair Bolsonaro conquistou 70,50% dos votos dos anapolinos. Lula da Silva obteve apenas 29,41%. No segundo turno, foram 153.507 votos para a direita e 63.960 para a esquerda. O voto dito conservador — tanto evangélico quanto católico — é forte em Anápolis, como provam os números da disputa presidencial.

Bolsonaro está atento à disputa anapolina, com um nome de peso no local, o ex-deputado federal Major Vitor Hugo, do PL.

A tendência é que Major Vitor Hugo e Hélio Lopes, os dois fortes do partido na cidade, não sejam candidatos. Eles, assim como Bolsonaro, devem apoiar a candidatura de Márcio Corrêa, que, além de evangélico, comunga com a direita, ainda que seja relativamente mais moderado. O primeiro suplente de deputado federal pelo MDB é bolsonarista assumido e apoiou Bolsonaro na disputa presidencial em 2022.

Sabe-se que Major Vitor Hugo, o vice-governador Daniel Vilela, presidente do MDB, e Márcio Corrêa abriram diálogo com o governador Ronaldo Caiado sobre a disputa de Anápolis. A tendência é que os três — Ronaldo Caiado, Daniel Vilela e Major Vitor Hugo — coordenem uma aliança forte para hipotecar apoio a Márcio Corrêa.

Dada a polarização esquerda (Antônio Gomide) e direita (Márcio Corrêa) — sem terceira via na disputa —, há quem postule que a eleição pode ser definida já no primeiro turno, com a vitória de Márcio Corrêa ou de Antônio Gomide. A direita, repita-se, é forte no município. Já a esquerda não tem tanto vigor assim. Quem tem força, isto sim, é Antônio Gomide, que Anápolis parece considerar como o menos petista dos petistas.

Há outro aspecto que o núcleo político de Lula da Silva, no Palácio do Planalto, tem examinado com interesse.

Há poucos dias, um petista contou a um repórter do Jornal Opção que o presidente Lula da Silva está interessado em saber duas coisas. Primeiro, se o bolsonarismo vai realmente apoiar Ronaldo Caiado para presidente da República. Segundo, se, sem o bolsonarismo, o governador goiano tem reais chances eleitorais.

De acordo com o petista, os luas vermelhas do PT e Lula da Silva acreditam que, com o apoio do bolsonarismo, Ronaldo Caiado será o candidato que vai polarizar com o postulante red em 2026 (seja Lula da Silva, Fernando Haddad ou outro). Sem o bolsonarismo, é uma incógnita, na interpretação dos palacianos.

A disputa em Anápolis, com a presença de Lula da Silva no palanque físico e virtual de Antônio Gomide, por se tornar, de alguma maneira, uma prévia da disputa do petismo contra o bolsonarismo e Ronaldo Caiado. Seria 2026 “puxando” 2024. Algo assim.

Ronaldo Caiado nasceu em Anápolis, em 25 de setembro de 1949, há 74 anos. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das melhores do país, e se especializou em ortopedia, tendo estudado na França. Foi deputado federal por cinco mandatos, senador por quatro anos e é governador de Goiás pela segunda vez consecutiva (o único reeleito da história do Estado).

No governo, Ronaldo Caiado conseguiu um feito: melhorou a segurança pública, contendo a criminalidade básica e o crime organizado. Governadores de outros Estado têm buscado mais informações a respeito do assunto em Goiás do que no governo federal. Porque perceberam que, com medidas duras e de Inteligência, pode-se resolver parte do problema, impedindo a instalação de um, digamos, Estado-criminoso, que já infesta e domina o Rio de Janeiro.

Outro fator que despertou a atenção do núcleo duro do Palácio do Planalto é que Ronaldo Caiado criou uma rede de proteção social ampla e, além de assistencial, inclusiva. Há a assistência básica e forte investimento tanto na Educação quanto na Saúde. Ao mesmo tempo, o governador centro-oestino está articulando em vários fronts políticos. Se disputar a Presidência da República, poderá contar com o apoio do União Brasil, seu partido; do PL de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, Wilder Morais e Major Vito Hogo; do pP de Arthur Lira e Ciro Nogueira e do Republicanos de Marcos Pereira e Jeferson Rodrigues. Não há apoios inteiramente definidos, até porque a disputa se dará daqui a dois anos e oito meses. Mas há conversas e articulações. Por isso, a importância de Anápolis — dada a possível confluência, na disputa eleitoral deste ano, entre caiadismo e bolsonarismo. Alea jacta est.

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