À sombra do líder

“Conhecimento é poder”, disse o conselheiro Petyr Baelish, em conversa com a rainha Cersei Lannister. “Não, poder é poder”, responde a rainha, após mandar os guardas capturarem o lorde. Por pouco, a participação do personagem de Aidan Gillen na série Game of Thrones não terminou no primeiro episódio da segunda temporada.

Longe de tamanha violência, a disputa política real apresenta certas semelhanças conceituais e o momento das articulações que antecedem o período eleitoral talvez seja o que mais os evidencie.

Tome como base a prefeitura de Goiânia: a casa do Poder Executivo, um orçamento de R$ 7.3 bilhões (2023) e uma enorme quantidade de cargos. Para além da gestão administrativa da capital, o mandatário tem em mãos uma gigantesca máquina para colocar seus projetos em andamento.

“Poder é poder”, disse a rainha. Aqui, entre nós, há uma tentativa de equilibrá-lo entre Executivo, Legislativo e Judiciário, o que já dificulta quaisquer rompantes autocráticos. A história recente prova isso.

Cada poder tem seu líder. Quem fica atrás, que se contente com a sombra.

Rogério Cruz (Republicanos)

Ser vice é ser sombra de alguém. Casos como o de Michel Temer (MDB) e Rogério Cruz (Republicanos) mostram que toda regra tem sua exceção, mas não fazem da exceção a regra. Então, será que há realmente tantos atores na luta por uma candidatura a vice-prefeito de Goiânia?

Considere o caso de Goiânia em 2020 e a eleição de Maguito Vilela. Caso o infortúnio capital não abatesse sobre o ex-governador e ele assumisse o Paço Municipal, seus quatro primeiros anos seriam de total execução das tarefas da prefeitura, as atenções e iniciativas estariam voltadas ao prefeito, restando ao vice um papel meramente decorativo. Rogério Cruz compunha a chapa, mas certamente não imaginava o que haveria de acontecer. Naquela época, presidente da Câmara Municipal de Goiânia Romário Policarpo (PRD) já havia entendido que não era hora de ser vice de um prefeito forte e em primeiro mandato; seu espaço de ação política ficaria severamente restringido, por isso preferiu manter-se na Câmara.

Ronaldo Caiado (UB)

O mesmo ocorreu com Ronaldo Caiado (UB). Ao assumir seu primeiro mandato, era preciso centralizar as ações em sua persona, criar a sua marca, colocar seu nome na história dos governadores de Goiás. O vice à época, Lincoln Tejota, pouco tinha o que fazer. Não assumiu nenhuma função que lhe rendesse visibilidade, muito menos previsão de poder. Por sua vez, o atual vice de Caiado, Daniel Vilela, já recebeu o posto com a porta do Palácio das Esmeraldas entreaberta.

Sandro Mabel (UB)

A história se repete agora. O pré-candidato Sandro Mabel (UB) é um nome que atraiu satélites desde que anunciou sua disposição ao pleito de outubro. Entre eles está o grupo do deputado estadual Bruno Peixoto (UB) e de Romário Policarpo, que declararam apoio a Mabel e disseram ter interesse em ser sua sombra, digo, vice.

Novamente, quem ganhar a corrida ficará com o prêmio só para si. Bruno Peixoto e Romário Policarpo sabem disso e lhes é muito mais vantajoso figurar como lideranças do Legislativo do que assistir de camarote à atuação do futuro prefeito.

Romário Policarpo (PRD)

Policarpo é Guarda Civil Metropolitano em Goiânia. Presidiu o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Goiânia (SindiGoiânia) e a Associação dos Servidores da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia (ASGMG). Está em seu segundo mandato como vereador e segundo mandato de presidente da Casa. Tem acesso a boa parte do funcionalismo público municipal, presença em bairros periféricos e pode contribuir, muito, na campanha de Mabel.

O foco real em toda essa conversa sobre a vice de Mabel está na Mesa Diretora da Câmara de vereadores, outra fonte de poder. Afinal, para que ficar na sombra de alguém se você também pode brilhar? Apesar de não desfrutar do orçamento que a prefeitura dispõe, o Legislativo tem poder de atuação, de ocupar espaços e pautar sua agenda.

Daniel Vilela (MDB)

Na outra raia MDB do vice-governador Daniel Vilela. Partido com presença forte na capital, tem a agregar com uma bancada robusta na Câmara, além da dobradinha com o UB na esfera estadual. O MDB tem 11 cadeiras nesta legislatura e deve mantê-las na próxima, ocupar também a vice-prefeitura do Paço não há de mudar muito a condição privilegiada do partido, que conta ainda com Daniel, como dito antes, o mais provável candidato a governador em 2026.

Bruno e Policarpo querem, mesmo, manter seu grupo no comando da Câmara. Pedem a vice de Mabel, mas se darão por satisfeitos em garantir a isenção do Executivo na escolha da próxima Mesa Diretora, já em 2025. É lá, no comando de comissões importantes e da pauta legislativa, que encontrarão espaço para crescerem na política.

2026

As eleições municipais de 2024 são como uma pré-temporada do que virá em 2026. Ficar à sombra do prefeito, sobretudo na remota possibilidade deste se tornar candidato a governador daqui dois anos (no Caso de Mabel, remotíssima), não traz vantagem para quem busca se cacifar para um mandato federal, muito menos uma perspectiva de suceder aquele lhe tampa o sol.

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