Nova espécie de anaconda gigante é descoberta na Floresta Amazônica

Guilherme de Andrade

Uma expedição composta por cientistas de nove países descobriu uma nova espécie de sucuri. A comunidade científica, até então, acreditava existir apenas uma anaconda verde, mas após a divulgação dos resultados dessa nova pesquisa, a equipe descobriu que se tratava de uma nova espécie: a Eunectes akayima, conhecida como anaconda verde do norte. 

Informações publicadas pelo professor Bryan G. Fry, da Escola de Meio Ambiente da Universidade de Queensland, mostram que a serpente foi encontrada durante expedição na Floresta Amazônica equatoriana, em 2022. O trabalho de coleta do material e análise do ecossistema das sucuris durou cerca de duas décadas, e foi inicialmente publicado na revista Diversity e compartilhado pelo periódico The Conservation. 

Os pesquisadores contam que visivelmente não existem diferenças marcantes entre a espécie recentemente descoberta (Eunectes akayima) e a já conhecida pela comunidade científica (Eunectes murinus), nem separação geográfica clara. Entretanto, o nível de diferenciação genética foi tido como “impressionante” pelos pesquisadores: enquanto o material genético dos seres humanos se difere em apenas 2% do de chimpanzés, as duas espécies de serpente possuem diferença de 5,5%. 

Professor Bryan explica que a presença desses animais é de vital importância para manutenção dos ecossistemas. Como sucuris gigantes são muito sensíveis a mudanças climáticas, sua presença em número considerável indica pureza da água e diversidade da fauna. Além disso, como a anaconda verde do norte se alimenta de outros predadores, sua rotina influencia toda a cadeia alimentar, até nos níveis que não tem contato direto com a serpente. 

“Sua simples presença altera o comportamento de um vasto campo de outras espécies, influenciando onde e como eles se alimentam, reproduzem e migram”, explicou o cientista. 

Características da espécie

Sem veneno, o réptil (que pode ser um dos maiores do mundo) usa suas presas flexíveis e corpo forte para estrangular as presas e então engoli-las. Podendo ultrapassar os sete metros de comprimento e os 250 kg de peso, é um animal ágil e forte, tanto em terra quanto na água. Como seus olhos e narinas ficam no topo da cabeça, a anaconda verde do norte é uma excelente nadadora, sendo capaz de caçar jacarés e crocodilos adultos. 

Para além de pequenos roedores, essas serpentes se alimentam de capivaras, veados, jacarés e aves de médio porte. Com coloração em tons de verde oliva com manchas pretas, as anacondas gigantes conseguem se camuflar e surpreendem por sua paciência e agilidade.

Sem veneno, a anaconda verde do norte mata suas presas por estrangulamento l Foto: Reprodução/Jesus Rivas.

A anaconda verde de norte pode ser encontrada na Floresta Amazônica do Equador, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela, Suriname, Colômbia e Trinidad. Já a anaconda verde anteriormente conhecida é encontrada no Peru, Bolívia, Guiana Fracesa e Brasil.

Os pesquisadores destacam que “populações de anacondas saudáveis indicam ecossistemas vibrantes, com amplas fontes de alimento e água limpa”, enquanto “números decrescentes de anacondas podem ser prenúncio de distúrbios ambientais”. Dessa forma, o professor Bryan aponta o estudo e proteção desse réptil como “crucial” para manutenção do equilíbrio da maior floresta tropical do planeta.

A pesquisa

O levantamento foi feito durante quase duas décadas. A equipe analisou o tipo de habitat, padrão de chuva das localizações onde habitam, além da coleta de tecido ou sangue de cada uma das espécies. 

“Remamos por rios lamacentos e atravessamos pântanos. O calor era implacável e os enxames de insetos eram omnipresentes”, o professor compartilhou parte da expedição. 

Com os resultados da pesquisa, novas medidas de proteção ambiental devem surgir, a fim de abarcar os ecossistemas das duas serpentes. “Ao incorporar a taxonomia genética no plano de conservação, nós podemos melhor preservar a intrincada rede de vida da Terra, de ambas as espécies que conhecemos hoje, e daquelas ainda a serem descobertas”, concluiu. 

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