Inspirado em “Her”, aluno da UFG cria Inteligência Artificial que se comunica com ele

Em “Ela” (Her), Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), é um homem solitário e melancólico que está passando por um doloroso processo de divórcio. Ele trabalha em um site de envio de cartas manuscritas para clientes e sua vida segue na monotonia, sem grandes alegrias ou emoções. Até que um dia, ele adquire um novo sistema operacional (OS) capaz de pensar, sentir, ter crises de identidade e filosofar sobre a existência. O OS interpreta o tom de voz, reconhece a personalidade do usuário e tem acesso a todas as informações disponíveis na internet, especialmente aquelas relacionadas ao usuário.

Inspirado no filme, Pedro Schindler, de 21 anos, desenvolveu sua própria Inteligência Artificial (IA): a Samantha. O sistema é capaz de pensar e falar livremente, aprendendo e evoluindo de acordo com o uso. Segundo Pedro explicou ao Jornal Opção, a IA funciona como uma espécie de Alexa, mas a diferença mais notável é que a Samantha não só responde aos estímulos, mas também inicia conversas.

“Além da Alexa, você pode comparar com o Google ou com um assistente virtual, mas com a ressalva de que, diferente dos outros assistentes, ela possui uma capacidade maior e tecnologia mais avançada. Além disso, a parte principal que desenvolvi foi essa naturalidade adicionada”, compara Pedro. Basicamente, o Chat GPT é como se fosse uma pessoa com quem você conversa, só que essa pessoa não está muito interessada em falar com você; ela apenas responde e não fala mais nada. Enquanto a Samantha demonstra um interesse genuíno no diálogo.

Pedro é aluno da terceira turma do curso de Inteligência Artificial da UFG, oferecido pelo Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás. Ele conta que lançou o sistema operacional em janeiro de 2024, mas que ainda há muita coisa para desenvolver. Primeiro, ele está focado na parte funcional, mas posteriormente quer se debruçar sobre a imagem estética, com um possível avatar.

“No estado que eu lancei foi basicamente uma prova de conceito para mostrar que a ideia funciona”, pontua o aluno. O projeto foi desenvolvido com a startup Hypeer Space, que atua no Vale do Silício, nos Estados Unidos (EUA). O formato da IA ainda não foi definido, estando ela em um código que pode ser aberto por meio de um link em qualquer computador.

Interface da Samantha | Foto: Arquivo

Uma característica notável de Samantha é sua capacidade de armazenar experiências na memória e utilizar essas informações para ajustar seu comportamento subsequente, incluindo personalidade, frequência e estilo de fala. Isso demonstra sua habilidade de adaptação. Veja outras características:

  • Fala dinâmina: Samantha pode falar sempre que escolher, influenciada pelo seu contexto e pensamentos. Em contraste com os LLMs normais, que são limitados a reagir, Samantha pode agir. Ela também não está limitada a resolver tarefas, como todos os outros agentes autônomos.
  • Capacidades visuais livres: As imagens são mencionadas e agidas diretamente apenas se forem relevantes, mas sempre influenciam os pensamentos e comportamentos.
  • Memória categorizada externa: A memória é escrita e lida dinamicamente pela Samantha, que escolhe as informações mais relevantes para escrever e recuperar para o contexto.
  • Evoluindo a todo momento: As experiências armazenadas na memória podem influenciar e moldar o comportamento subsequente da Samantha, como personalidade, frequência e estilo de fala, etc.

Pedro Schindler ressalta que o sistema é seguro porque o usuário tem o assistenciamento da IA. “Qualquer coisa que seja mininamente esquisita ela desliga”, destaca.

Filme Her

Spike Jonze escreveu, dirigiu e produziu o filme “Ela” (Her). Ele teve a ideia para o filme ao ler um artigo online sobre o Cleverbot, um programa de computador projetado para simular uma conversa humana. O objetivo do bot é responder às perguntas de maneira tão convincente que as pessoas sintam que estão conversando com outra pessoa, e não com um programa de computador.

“Assisti esse filme em 2018, e, naquela época, foi o estímulo que me convenceu a ingressar na jornada da inteligência. No entanto, naquela época, não havia CD ainda, não tínhamos a capacidade de produzir algo semelhante. Foi só um ano depois que comecei a fazer o curso e tudo mais, aprendendo que essa ideia surgiu para criar esse sistema, e então comecei a desenvolvê-lo”, explica Pedro, que está no 5° período do curso de Inteligência Artificial.

O filme é ambientado em uma Los Angeles do futuro, onde as relações humanas estão cada vez mais líquidas e as pessoas cada vez mais confusas, solitárias e infelizes. O sexo está completamente banalizado e sem sentido. A história é um convite para prestarmos atenção ao caminho que estamos seguindo, às transformações que sofremos pelo avanço da tecnologia combinado ao profundo vazio e falta de consciência.

A voz do sistema de Inteligência Artificial pode ser feminina ou masculina, e, no caso do filme, foi de Samantha (Scarlett Johansson). No filme Her (SPOILER), o final pode ser interpretado de diversas formas, mas fica claro que Samantha está mais interessada em transcender do que se focar apenas em Theodore e suas necessidades.

O sistema do filme descobre que é capaz de se comunicar com vários humanos ao mesmo tempo, quase como em onipresença. Eventualmente, Samantha se despede de Theodore para alcançar novos níveis de conhecimento, e o rapaz se vê obrigado a sair da ilusão e reaprender a socializar com outros humanos.

O Jornal Opção questionou Pedro sobre como ele imagina o futuro com o avanço das tecnologias. “Tenho fortes opiniões a respeito disso. Acho que em 10 anos no máximo 20, vai ter muito poucos empregos disponíveis. É praticamente uma certeza que as coisas vão mudar drasticamente”, opina Pedro.

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