O LENDÁRIO HEMINGWAY

O escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899/1961) se transformou em autêntica lenda em todo o mundo, tanto pela maneira de viver como pela sua obra. Ainda muito jovem, foi ferido em ação na I Guerra Mundial, ocasião em que salvou outro soldado ferido e teve graves ferimentos que por pouco não provocaram a amputação de sua perna direita. Ao retornar aos Estados Unidos se deu conta, com certa surpresa, de que era um herói nacional, duas vezes condecorado por bravura. Pouco depois, já casado com Hadley Richardson, vai residir em Paris a conselho do escritor Sherwwood Anderson e aí tem início sua carreira literária.

Em outubro de 1926 é publicado seu livro “O sol também se levanta” (The sun also rises) que faz um sucesso absoluto de crítica e público, agitando o meio literário europeu e americano. Os personagens, todos boêmios e libertinos, parecem inspirados em pessoas reais que podiam ser reconhecidas. O romance tem muito de uma narrativa à clef mas são figuras que caem no gosto do público e sua influência é enorme. Anthony Burgess, um dos biógrafos de Hemingway, depõe: “Quando foi lançado, em outubro de 1926, entusiasmou não apenas os críticos, mas também o público em geral. Foi um desses raros livros capazes de influenciar a maneira como as pessoas se comportavam e falavam. Brett tornou-se um modelo de fala e de comportamento para toda uma geração de universitários. O homem à moda de Hemingway – duro, temperado, estoico, lacônico, desesperado com estilo – começou a aparecer nos melhores bares da moda. Hemingway, que ainda não tinha trinta anos, acontecera.

A partir de então gerou-se uma febre de Hemingway, imitado em tudo, inclusive no estilo, mas sem sucesso. Virou notícia permanente.

Três anos depois, em 1929, é publicado o romance “Adeus às armas” (A farewel to arms). O sucesso é absoluto e instantâneo. Crítica e público, a uma voz, se encantam com o livro, ficam emocionados com os episódios tristes e com a solidão do herói. As vendas são avultadas e os leitores aplaudem. O romance inspira uma canção popular com o mesmo título, tocada até a exaustão e que as pessoas entoam nas ruas. Eis o que diz;

  “Adeus aos braços

  Que me acariciam suavemente

  Adeus aos braços

  Adeus ao amor…”

Enquanto isso, Hemingway vive com intensidade. Alterna entre os Estados Unidos, Paris e a Espanha, onde acompanha as touradas pelas quais se tornou fanático. Também vai às corridas de cavalos e de bicicletas, dedicando-se ainda ao box. Numa dessas lutas quebra os óculos do parceiro e em outra é atingido no queixo estatelando-se no chão. Urra de ódio e promete vingança. Reúne-se com os amigos nos bares, bebe sem controle, come cebolas cruas e inventa as estórias mais fantásticas. Sonha com grandes safarias africanos. Em meu livro sobre ele relacionei algumas dessas fantasias;

O tempo passa, os livros vão sendo publicados e o escritor está muito rico. Adquire a Finca Vigia, bela chácara nos arredores de San Francisco de Paula, em Havana, que será seu endereço por vinte anos. Troca de mulheres e já está na quarta e última: Hadley Richardson, Pauline Pffifer, Martha Gelhorn e Mary Welch. Sua obra deixa perceber que guardava remorso da separação de Hadley, a companheira dos tempos pobres e duros.

Em 1950 é publicado “Do outro lado do rio entre as árvores” (Across the river and into the trees). É um romance estranho no qual o autor parece não ter o que dizer. A crítica torce o nariz, os leitores ignoram. Algumas análises são severas, deixando Hemingway furioso, e chegam a afirmar que ele está acabado como ficcionista. Mas ele está longe disso e publica “O velho e o mar” (The old man and the sea).  Lançada em 1952, a pequena novela alcançou inacreditável sucesso vendendo milhões de exemplares. A luta solitária do velho Santiago com os vorazes tubarões penetrou nos corações. O autor recebe o Prêmio Pulitzer e o Prêmio Nobel, coroando a longa e trabalhosa carreira.

Nesse meio tempo, a fama de Hemingway corre mundo. Relata Anthony Burgess que, estando em Moscou, presenciou leitoras chorando ante a falsa notícia da morte do escritor. Surgem torneios de pesca com seu nome, campeonatos de sósias, filmes inspirados em suas obras, peças teatrais, documentários e numerosos livros sobre ele e sua literatura. Até o daiquiri que costumava tomar no Bar Floridita se tornou conhecido em todo o mundo.

Até hoje Ernest Hemingway é dos autores mais publicados e lidos de todo o mundo e considerado um dos maiores escritores do Século XX. 

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