Brasileira cria aparelho que devolve movimentos a quem parou de andar

No 2º ano do curso de Neurociências na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Duda Franklin, integrante da lista Forbes Under 30 de 2023, foi convocada à sala da reitoria. Ao chegar, encontrou não apenas o reitor do Instituto do Cérebro, um dos principais centros de pesquisa do País, mas também o renomado neurocientista Sidarta Ribeiro.

“Os dois estavam esperando para ter uma conversa comigo. Meu coração gelou”, contou Duda ao site da Forbes,  lembrando do início da sua trajetória como empreendedora e pesquisadora.

Ao invés de repreensão, o encontro visava uma correção de rumo, pois o reitor percebeu que Duda estava direcionando seus esforços para a pesquisa de sistema embarcado, considerado por ele um caminho pouco proveitoso. “Ele me disse que, a partir daquele momento, eu deveria me voltar apenas para a neurociência e aos meus estudos sobre neuromodulação.”

A startup liderada por Duda desenvolve um dispositivo de neuromodulação não invasiva, o Ortech, projetado para auxiliar pessoas que sofreram acidentes, ficaram em cadeiras de rodas, ou desenvolveram condições como Mal de Parkinson ou AVC a recuperarem sua mobilidade.

O Ortech também se destina a pacientes com disfunções neuromotoras ou aqueles que passaram longos períodos na UTI sem movimentação, promovendo estimulação muscular e reduzindo a dependência de opioides no tratamento da dor. Um paciente em fase de testes, anteriormente dependente de um andador, agora caminha com auxílio de muletas, com a expectativa de recuperar autonomia completa em dois anos.

Os testes do Ortech estão em andamento no Hospital do Amor, em Campinas (SP), e no CHN em Niterói (RJ), parte da rede DASA. “O aparelho, que cabe na palma da mão, transmite sinais para os neurônios para ativar os movimentos ou modular a dor. São sinais que saem de um computador para o sistema fisiológico do paciente.” 

Desde jovem, Duda Franklin destacou-se por sua excepcional criatividade e habilidade de pensamento, evidenciando ser única e muito acima da média. “Meus trabalhos para a feira de ciências eram protótipos de tomógrafo, por exemplo”, diz.

Duda compartilha que, desde a infância atípica, diagnosticada com altas habilidades no transtorno do espectro autista, isso era motivo de orgulho para sua mãe, uma assistente social que incentivou seus estudos, mas não sem desafios. “As meninas se interessavam por One Direction e eu nunca entendi direito essas paixões adolescentes. Ficava de fora”.

Estudando em uma escola de elite, era uma das poucas sem recursos financeiros na turma de adolescentes da classe alta. “Sofri preconceito pela minha cor e meu cabelo. Demorei muito pra me aceitar”, diz.

Devido a mais essa diferença, ela encontrava refúgio nos laboratórios e bibliotecas, enquanto suas colegas discutiam sobre acessórios para o cabelo e bandas musicais. Desde o ensino médio, seu interesse estava na compreensão das áreas desativadas do cérebro.

Aos 24 anos, acumula diplomas de graduação em Neurociência e Engenharia Biomédica, mestrados em Neuroengenharia e em Ciência, Tecnologia e Inovação, além de uma formação em empreendedorismo.

“Não quis aceitar a ideia de ser uma cientista que fica só dentro do laboratório. Meus ídolos são inventores que criaram empresas, como Steve Jobs”, diz a potiguar, que faz parte do hub de fundadores Microsoft for Startups e, em 2023, teve sua empresa investida pelo fundo do Google para fundadores negros. “Eu me preparei para gerir uma empresa ao mesmo tempo em que trabalho no desenvolvimento de produtos. Eu sei que consigo.”

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