Nova política em xeque: disputas eleitorais em Goiás passam por detentores de mandatos

Embora as pesquisas eleitorais para Goiânia apontem que o eleitor busca um perfil de gestor para a Prefeitura, nenhum nome que desponta entre os principais pré-candidatos pode adotar o discurso de outsider. Além da Capital, os maiores colégios eleitorais goianos têm influência direta ou indiretamente de políticos com mandatos ou com experiência administrativa. Será o fim da chamada nova política?

“Esse discurso de nova política foi utilizado para a organização e propulsão do que seria a nova direita, que segue o fluxo de outras direitas mundo afora, que tem se organizado e se organizaram a partir desse discurso específico”, esclarece o cientista político Guilherme Carvalho.

Neste contexto, para se ter ideia, em Goiânia, a disputa, ainda em pré-campanha, envolvem dois deputados federais, Adriana Accorsi (PT) e Gustavo Gayer (PL); e um deputado estadual, Bruno Peixoto (UB); além de um ex-prefeito, Jânio Darrot (MDB) e um senador, Vanderlan Cardoso (PSD). Desses nomes, quem mais surfou na onda de antissistema foi justamente o parlamentar bolsonarista Gayer, que agora fica difícil retomar esse discurso.

“É salutar que se observe que essas pessoas foram eleitas com esse discurso anti-sistema e parte delas continuaram utilizando dele. Mas, se depararam com barreiras constitucionais e começaram uma deflagração de um conflito entre as instituições tradicionais, não mais uma disputa eleitoral… porém uma guerra franca e aberta entre o movimento bolsonarista e o Supremo Tribunal Federal”, pontua.

Assim, seguem outros municípios onde a rivalidade se dará entre os conhecidos políticos profissionais. Por exemplo, em Aparecida de Goiânia a polarização se desenha entre o prefeito atual, Vilmar Mariano (MDB), e o deputado estadual Professor Alcides. Também na região metropolitana da Capital, Senador Canedo, o prefeito Fernando Pellozo (UB), natural candidato à reeleição, no passado foi uma revelação na política, mas para tentar um segundo mandato, fica difícil repetir o discurso de renovação. Lá, senadores e ex-prefeitos devem influenciar no pleito.

Vanderlan Cardoso ensaia a pré-candidatura da esposa, Izaura Cardoso (filiada recentemente ao PSD). Na outra ponta, Jorge Kajuru (PSB) confirmou que irá apoiar a continuação de Pellozo no poder, que deve ter como adversário também o ex-prefeito Divino Lemes. Novatos, mas com pouca penetração no eleitorado, estão os comunicadores Milter Mayer (Novo) e Alexandre Braga (Agir).

Em Anápolis, se costura nada de novo, de um lado está o ex-prefeito e deputado estadual Antônio Gomide (PT) e o deputado federal Márcio Correa (MDB). Além da influência do prefeito atual, Roberto Naves (Republicanos), que quando foi eleito foi considerado um outsider da política local. O que não deve repetir neste ano.

Márcio Corrêa e Antônio Gomide
Márcio Corrêa e Antônio Gomide

Em Rio Verde, a eleição é formatada dentro da Prefeitura. O apoio do prefeito Paulo do Vale (MDB) pode ser decisivo para a sucessão. No entanto, há movimentos tectônicos de parlamentares, como Marussa Boldrin (MDB), Karlos Cabral (PSB) e Lucas do Vale (MDB). Outro nome experiente, que pulou para o bolsonarismo local, é o do ex-presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Lissuaer Vieira (PL). Nesse município ainda há a forte presença do senador Wilder Morais (PL). Próximo de lá, o então quase sossego de candidatura única do prefeito de Jataí, Humberto Machado, foi quebrado pela articulação da deputada estadual Rosângela Rezende (Agir) e de Marussa Boldrin, que lançaram a pré-candidatura de Flávia Resende Vilela.  

Na cidade de Catalão, no Sudeste goiano, além de colocar frente a frente a tradicional política, apelidada de velha política, a disputa coloca em lados opostos dois primos parlamentares: Jamil Calife (PP) e Gustavo Sebba (PSDB). O nome articulado para o grupo do atual chefe do Executivo municipal é o ex-prefeito Velomar Rios (MDB), apoiado pelos lobos da política, como o deputado José Nelto, de saída do PP. Rumores são que Adib não quer a indicação de Velomar, e cogitaria Nelson Fayad. Entretanto, no final de semana, uma movimentação acendeu vários sinais vermelhos. É que o deputado Bruno Peixoto esteve no município e se reuniu com o colega Gustavo Sebba e o agropecuarista Elder Galdino (MDB). Ambos aparecem bem colocados em pesquisas e juntos podem romper a hegemonia da situação.

Ainda na linha tradicional da política, no Entorno do Distrito Federal, a conjuntura é a mesma. Prova disso, é em Santo Antônio do Descoberto, onde o deputado estadual André do Premium (Avante), no primeiro mandato, já articula fortemente para lançar a esposa, Jéssica Aparecida, pela base governista. Para tanto, o grupo passou a controlar o União Brasil no município. Também na região, em Valparaíso de Goiás, cujo prefeito Pábio Mossoro (MDB) está em final de segundo mandato, não há espaço para novatos. Além da influência dele, há a participação ativa das deputadas Lêda Borges (PSDB) e Dr. Zeli Fritsche (UB), para formatação de chapa majoritária.

Itumbiara é outro caso de profissionalismo político. No município, o prefeito Dione Araújo (UB) busca a reeleição, enquanto o deputado estadual Gugu Nader (Agir) corre para viabilizar sua candidatura para outubro. O problema é que ambos são da base de apoio do governador. O parlamentar tem recebido aceno presidente da Alego, Bruno Peixoto.

No Norte, a rivalidade envolve velhos conhecidos do eleitorado de Porangatu. A prefeita Vanuza Valadares (UB) segue para tentar a reeleição, com apoio do deputado José Nelto, que deve enfrentar o empresário Rafael do Charque, que tem como padrinho o deputado federal Glaustin da Fokus (Podemos). O parlamentar está no segundo mandato, mas se elegeu pela primeira vez com o discurso da nova política.

Isto é, para a eleição que se avizinha “não há nada de novo sob o sol”, conforme cita trecho bíblico. “Esse movimento que bebeu da água da nova política, hoje se vale de recursos tradicionais do estado, como emendas para poder alimentar suas bases eleitorais e se envolve também em casos de corrupção tanto quanto os ‘políticos tradicionais’ que estavam vinculados a essa prática e foram denunciados por essa nova onda”, finaliza Guilherme Carvalho.

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