Mudanças climáticas podem aumentar casos de dermatite atópica; saiba como tratar

A dermatite atópica, também chamada de eczema atópico, é uma condição dermatológica caracterizada pela inflamação da pele. O termo “atópico” tem origem grega e significa “pele que ferve”. Suas causas são variadas e incluem um sistema imunológico desregulado, uma pele extremamente sensível a alérgenos e, na maioria dos casos, uma predisposição genética. Estima-se que uma em cada cinco crianças sejam afetadas pela doença no mundo, segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Dermatite Atópica do Ministério da Saúde.

Dentre as causas que contribuem para o surgimento da condição estão fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Com foco nesse último fator listado, pesquisadores do International Eczema Council publicaram na revista Allergy, uma revisão sobre o impacto que as mudanças climáticas poderão ter sobre os casos de dermatite atópica.

Cássia Gomes, médica especialista em dermatologia, explicou ao Jornal Opção como surgem os primeiros sintomas. “Os sintomas e sinais mudam de acordo com a idade. Crianças têm mais aquela pele mais irritada, vermelha, descamativa, que coça em áreas de dobras. A gente chama de fossa cubital. Sabe quando a gente estende o braço nessa parte, assim, na frente do cotovelo, na parte de trás do joelho? É comum ficar bem atacado, lesões vermelhas, descamativas, que às vezes minam um pouquinho de água, o que a gente chama de sudorífica”.

Segundo o último levantamento do DataFolha, 41% dos brasileiros desconhecem o que seja a dermatite atópica. Aliada à desinformação, a ausência de políticas públicas tem agravado e aumentado os casos da doença no Brasil e no mundo. Uma hipótese levantada para explicar o aumento da doença nos países desenvolvidos tem sido a falta de exposição a bactérias benéficas, o que afeta a maturação imunológica (processo em que o sistema imune desenvolve uma resposta após o primeiro contato com microrganismos).

A reportagem questionou a Secretaria de Estado e Saúde sobre a quantidade de casos registrados no Estado de Goiás, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.

Segundo Cássia, existe uma predisposição genética que dá a maior propensão à doença e alguns fatores individuais. “O que é muito importante dizer é que existe uma cadeia de atopia. Então, crianças e pessoas que têm uma maior predisposição a gatilho, assim, a ter um quadro respiratório, bronquite asmática, asma de uma forma geral. Então, esse quadro pulmonar acompanha o quadro cutâneo, isto é, são quadros ligados. E, obviamente, em períodos mais secos existe uma piora da pele do atópico”.

Por isso, sempre que haver uma piora no quadro respiratório, piora também o quadro cutâneo. “Quem tem dermatite atópica, a a pele normalmente está mais sensibilizada, mais irritada. A pele, por ter uma perda de ceramida, principalmente 1 e 3, existe uma maior propensão a, por exemplo, ter infecção superficial”, explica a médica. As crianças frequentemente apresentam lesões no rosto, que, em muitos casos, ocorrem por contato com animais de estimação.

A dermatite atópica não é transmissível, já que não é causada por microrganismos, mas sim por uma combinação de fatores que levam à inflamação da pele e aparecimento dos sintomas. O tratamento pode ser feito com o uso de cremes ou pomadas corticoides prescritos por um médico dermatologista.

“O tratamento são cuidados gerais do dia a dia, por exemplo, evitar bucha, muito sabão. O sabão específico para esse quadro é um síndete, né, que é um sabão que a gente fala. E o tratamento seria essencialmente à base de hidratantes, hidratantes que repõem barreira cutânea, né, principalmente ceramidas”, aconselhou Cássia.

Cássia Gomes, médica especialista em dermatologia. | Foto: Arquivo

Aquecimento global

O aquecimento global pode potencialmente exacerbar casos de dermatite atópica devido a várias razões. Primeiramente, o aumento das temperaturas pode levar a uma maior exposição a alérgenos, como ácaros e mofo, que são conhecidos por desencadear crises de dermatite atópica em pessoas sensíveis. Além disso, o aumento da umidade resultante das mudanças climáticas pode criar um ambiente propício para o crescimento de fungos e bactérias, que podem agravar os sintomas da dermatite atópica.

Outro fator é o aumento da poluição do ar associada ao aquecimento global. Poluentes atmosféricos, como ozônio e partículas finas, podem irritar a pele e desencadear ou piorar os sintomas da dermatite atópica em pessoas predispostas.

Além disso, as mudanças nos padrões de floração de plantas devido ao aquecimento global podem aumentar a exposição ao pólen, o que pode desencadear reações alérgicas sazonais em pessoas com dermatite atópica, contribuindo para o agravamento dos sintomas.

Por fim, o ressecamento da pele devido ao aumento das temperaturas e ao ar mais seco pode levar a uma barreira cutânea comprometida, tornando a pele mais suscetível à irritação e inflamação, o que pode aumentar a gravidade dos surtos de dermatite atópica.

Embora o aquecimento global não seja a única causa da dermatite atópica, pode certamente desempenhar um papel no agravamento dos sintomas e na frequência de crises da doença.

Datafolha revela desinformação

Trinta por cento dos brasileiros acreditam erroneamente que a dermatite atópica, uma condição caracterizada por pele seca, lesões avermelhadas e coceira intensa, é contagiosa e pode ser transmitida pelo contato direto. Essa percepção equivocada revela um estigma em relação a esse problema de saúde, que afeta aproximadamente de 15% a 25% das crianças e cerca de 7% dos adultos. Esses dados são resultado de uma pesquisa divulgada em 2022 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), realizada em parceria com o Instituto Datafolha e com apoio institucional da biofarmacêutica AbbVie.

na percepção de 47% da população, essa enfermidade é causada por maus hábitos de higiene; 46% acreditam, erroneamente, que o paciente não poderia ter contato com crianças; e 36% entendem que pessoas com manifestações visíveis não deveriam sair de casa, ir à escola ou ao trabalho. No entendimento de 33%, elas não poderiam até mesmo usar o transporte público.

Os dados demonstram que, apesar de relativamente comum em diferentes faixas etárias, a dermatite atópica (DA) ainda é desconhecida por boa parte dos brasileiros. A pesquisa mostra que menos da metade da população (37%) a reconhece, e mesmo entre este público o conhecimento ainda é parcial. Embora 59% dos brasileiros tenham apresentado pelo menos um dos sintomas característicos da dermatite atópica, o diagnóstico para esta doença ocorreu em apenas 1% dos casos. Outros 2% foram diagnosticados como alergia.

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