{"id":148936,"date":"2025-03-26T09:16:17","date_gmt":"2025-03-26T12:16:17","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/148936"},"modified":"2025-03-26T09:16:17","modified_gmt":"2025-03-26T12:16:17","slug":"a-prefeitura-nao-quer-fazer-nada","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/148936","title":{"rendered":"\u201cA prefeitura n\u00e3o quer fazer nada\u201d"},"content":{"rendered":"
Minha vida de escrevinhador come\u00e7ou no tempo em que eu ainda cursava Letras na antiga Universidade Cat\u00f3lica de Goi\u00e1s. Minha primeira mat\u00e9ria foi publicada na revista \u201cLeia Brasil\u201d, cuja exist\u00eancia foi curta como o tempo de vida de uma borboleta. Cupim foi o assunto abordado. N\u00e3o recebi nenhum cascalho por sua realiza\u00e7\u00e3o. Foram poucas edi\u00e7\u00f5es. Uau! Foi muita a minha embriaguez de vaidade em ver meu nome estampado na p\u00e1gina de uma revista. Me senti importante. Isso, de certa forma, tem a ver com o que disse o grande craque Rubem Braga em sua cr\u00f4nica \u201cO Padeiro\u201d: \u201cE \u00e0s vezes me julgava importante porque o jornal que levava para casa, al\u00e9m de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma cr\u00f4nica ou artigo com o meu nome\u201d. Toda escriba que se acha demais deveria ler tal cr\u00f4nica.<\/p>\n
No tempo em que j\u00e1 trabalhava como escrevinhador, eu nunca quis atuar em editoria de pol\u00edtica. Fui aconselhado por um colega de reda\u00e7\u00e3o (que se julgava medalh\u00e3o) a me silenciar como cronista e passar a escrever sobre pol\u00edtica. Segundo ele, que se julgava saber javan\u00eas, assim eu me tornaria respeitado e, consequentemente, at\u00e9 conseguisse ser nomeado para algum cargo p\u00fablico. Seu conselho para mim foi uma semente chocha.<\/p>\n
As palavras, dentro das mat\u00e9rias pol\u00edticas, muitas vezes n\u00e3o t\u00eam liberdade para voar como ocorre no mundo das cr\u00f4nicas; elas, muitas vezes, passam por cabresto. Muitas vezes, colidem com determinadas conveni\u00eancias. Os adjetivos, muitas vezes, s\u00e3o criados sob encomenda. Depois que enviei, via e-mail, a cr\u00f4nica \u201cO Padeiro\u201d ao tal medalh\u00e3o, recomendando-lhe uma leitura minuciosa do texto, ele fechou a cortina dos seus olhos para mim. Felizmente n\u00e3o perdi o sono por isso.<\/p>\n
Ele, inclusive, se deu bem em sua ardilosa maneira de escrever. Vive a lamber botas, por\u00e9m (certamente) se reconforta com sua algibeira bem nutrida; quanto a mim estou lambendo sab\u00e3o, todavia me reconfortando com o fato de n\u00e3o estar colocando o bumbum da minha alma \u00e0 venda. Tenho medo de olhar no espelho e encontrar um sujeito sujo da lama da bajula\u00e7\u00e3o. Em \u201cO Pr\u00edncipe\u201d, Maquiavel (3\/5\/1469 \u2013 21\/6\/1527) chamou os bajuladores de \u201cpeste\u201d e recomendou os governantes a mant\u00ea-los bem longe. J\u00e1 Erasmo de Roterd\u00e3 (28\/6\/1466 \u2013 12\/7\/1536) os chamou de \u201cpraga\u201d.<\/p>\n
Falando em sujeira (no caso a f\u00edsica), o t\u00edtulo desta cr\u00f4nica foi retirado de uma mat\u00e9ria publicada no jornal Cinco de Mar\u00e7o (hoje Di\u00e1rio da Manh\u00e3) em novembro de 1959. Na verdade, o texto est\u00e1 mais para uma nota. Al\u00e9m de denunciar a quantidade de lixo em Goi\u00e2nia, h\u00e1 tamb\u00e9m a den\u00fancia de carros sendo lavados em vias p\u00fablicas gerando um rebuli\u00e7o enorme, o qual conhecemos bem nos dias de hoje. Jaime C\u00e2mara, um dos fundadores de O Popular, era o prefeito na \u00e9poca. J\u00e1, numa mat\u00e9ria de 1961, o assunto lixo continua, e o prefeito era H\u00e9lio Seixo de Brito: \u201cGOI\u00c2NIA AINDA BATE \u2018RECORD\u2019: SUJEIRA\u201d.<\/p>\n
H\u00e9lio, nas primeiras linhas, \u00e9 elogiado como bom m\u00e9dico, honesto, mas, no final, veio o a\u00e7oite: foi chamado de incompetente enquanto prefeito. Quem achar que estou viajando, que v\u00e1 \u00e0 hemeroteca do Instituto Hist\u00f3rico e Geogr\u00e1fico de Goi\u00e1s, disponibilizada ao p\u00fablico em 16 de agosto de 2021, pelo competente promotor e historiador Jales Mendon\u00e7a Machado. Ao criar a hemeroteca, ele impediu que as tra\u00e7as devorassem centenas de jornais de in\u00fameras cidades e assim uma parte preciosa da hist\u00f3ria da imprensa em Goi\u00e1s fosse para o belel\u00e9u.<\/p>\n
A gest\u00e3o de Sandro Mabel ainda est\u00e1 engatinhando, nem tr\u00eas meses tem. Subjetivamente, algumas pessoas est\u00e3o encontrando motivo para apedrejar a gest\u00e3o atual; fato que \u00e9 compreens\u00edvel, haja vista que o vi\u00e9s da cr\u00edtica \u00e9 de cunho pol\u00edtico. Enfim, \u00e9 algum descontentamento de ordem pessoal. H\u00e1 tamb\u00e9m precipita\u00e7\u00e3o nos elogios por parte de alguns. Afinal, como foi j\u00e1 foi dito, a gest\u00e3o est\u00e1 caminhando para 90 dias. Fosse nos dias de hoje, o t\u00edtulo deste texto n\u00e3o refletiria o momento atual. O prefeito, faz-se necess\u00e1rio reconhecer, tem percorrido toda cidade, buscando sensibilizar pessoas a se envolverem na limpeza da cidade. E mais que isso: tem agido.<\/p>\n
Esses oito pontos provis\u00f3rios, instalados em oito setores de Goi\u00e2nia para recebimento de descartes de res\u00edduos diversos, explicita a vontade pol\u00edtica da gest\u00e3o em dar fim a esse problema t\u00e3o s\u00e9rio que se arrasta h\u00e1 d\u00e9cadas. A cidade exige urgentemente a constru\u00e7\u00e3o de mais ecopontos. O ex-prefeito Rog\u00e9rio Cruz alardeou que construiria 20 at\u00e9 no final de seu governo, mas s\u00f3 ficou em tr\u00eas, os quais estavam no plano de a\u00e7\u00e3o do ex-prefeito Iris Rezende. Outra necessidade urgente \u00e9 intensificar ainda mais a fiscaliza\u00e7\u00e3o para se chegar \u00e0queles que n\u00e3o se engajam na limpeza da cidade e saem por a\u00ed emporcalhando Goi\u00e2nia e tascar-lhes uma multa bem salgada.<\/p>\n
Na mat\u00e9ria de 1961, o prefeito \u00e9 acusado de ficar encastelado em seu gabinete e assim n\u00e3o tomar conhecimento dos problemas da cidade. Numa mat\u00e9ria posterior, ainda no mesmo ano, foi divulgado que estava nos planos da prefeitura a industrializa\u00e7\u00e3o do lixo de Goi\u00e2nia e que caberia \u00e0 prefeitura o recolhimento dos res\u00edduos e a entrega deles a uma ind\u00fastria. E tudo continua como dantes. Goi\u00e2nia, cujo surgimento se deu para impulsionar o desenvolvimento de Goi\u00e1s, para aumentar a produ\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica entre outros assuntos, correspondeu a essa expectativa. Virou uma cidade grande. Quase moderna. Para ser moderna, ela n\u00e3o deveria estar enfrentando um problema que a acompanha h\u00e1 d\u00e9cadas: m\u00e1 destina\u00e7\u00e3o do lixo que produz. H\u00e1 muito dinheiro jogado no lixo. Dinheiro este que pode ser garimpado se a gest\u00e3o realmente optar pela busca do caminho da sustentabilidade<\/p>\n
Sin\u00e9sio Dioliveira \u00e9 jornalista, poeta e fot\u00f3grafo da natureza<\/em><\/p>\n O post \u201cA prefeitura n\u00e3o quer fazer nada\u201d<\/a> apareceu primeiro em Jornal Op\u00e7\u00e3o<\/a>.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Minha vida de escrevinhador come\u00e7ou no tempo em que eu ainda cursava Letras na antiga Universidade Cat\u00f3lica de Goi\u00e1s. Minha primeira mat\u00e9ria foi publicada na revista \u201cLeia Brasil\u201d, cuja exist\u00eancia foi curta como o tempo de vida de uma borboleta. Cupim foi o assunto abordado. N\u00e3o recebi nenhum cascalho por… Continue lendo \n