Quando Jair Bolsonaro se tornou r\u00e9u, \u201ca ficha caiu\u201d para boa parte do eleitorado de direita (como se dizia nos anos 1990, quando havia telefones p\u00fablicos onde ca\u00edam as fichas). O ex-presidente j\u00e1 estava ineleg\u00edvel desde outubro de 2023, mas havia fuma\u00e7a no ar: institutos de pesquisa\u00a0nunca deixaram de coloc\u00e1-lo como potencial candidato em 2026<\/a>; o Partido Liberal dizia que ele era \u201co plano A, B e C\u201d; o pr\u00f3prio Bolsonaro repetia que um candidato da direita s\u00f3 se criaria com seu aval.\u00a0<\/p>\n Nesta quarta-feira, 26, entretanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou a possibilidade de pris\u00e3o mais concreta. Com a aceita\u00e7\u00e3o da den\u00fancia, Bolsonaro e mais sete acusados passam \u00e0 condi\u00e7\u00e3o de r\u00e9us, ou seja, ir\u00e3o responder a uma a\u00e7\u00e3o penal na Corte Suprema pelos crimes de organiza\u00e7\u00e3o criminosa armada, tentativa de aboli\u00e7\u00e3o violenta do Estado Democr\u00e1tico de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela viol\u00eancia e grave amea\u00e7a e deteriora\u00e7\u00e3o de patrim\u00f4nio tombado.<\/p>\n Agora, os ministros da Primeira Turma do STF ir\u00e3o decidir se o ex-presidente e os demais r\u00e9us ser\u00e3o condenados \u00e0 pris\u00e3o ou absolvidos. A data do julgamento ser\u00e1 marcada pelo presidente da Primeira Turma do STF, Cristiano Zanin. Al\u00e9m de Zanin, o colegiado \u00e9 composto pelo relator da den\u00fancia, Alexandre de Moraes, e os ministros Fl\u00e1vio Dino, C\u00e1rmen L\u00facia e Luiz Fux. A perspectiva \u00e9 sombria para Bolsonaro.\u00a0<\/p>\n Cabe cogitar a hip\u00f3tese: como se comportar\u00e1 o eleitorado da direita caso Bolsonaro seja preso? Primeiro, o ex-presidente n\u00e3o perder\u00e1 imediatamente o apoio expressivo que tem. Parte da direita ainda quer que Bolsonaro lidere o processo, escolhendo um sucessor ao seu legado. Mas Bolsonaro pode vir a perder relev\u00e2ncia, caso demore para escolher esta figura e caso continue instrumentalizando seu apoio pol\u00edtico para fins pessoais.\u00a0<\/p>\n Essa instrumentaliza\u00e7\u00e3o \u2014 o uso do apoio popular como ferramenta de defesa contra o processo no STF \u2014 j\u00e1 mostrou sinais de exaust\u00e3o na passeata do dia 16 de mar\u00e7o em Copacabana. O auge do encontro reuniu apenas 18,3 mil pessoas segundo levantamento da USP e 30 mil pessoas segundo o instituto Datafolha. N\u00e3o \u00e9 pouca gente; Bolsonaro continua sendo o pol\u00edtico que mais mobiliza o p\u00fablico, mas se o dado da USP estiver correto, o comparecimento foi de apenas 2% do esperado pela organiza\u00e7\u00e3o do evento.\u00a0<\/p>\n A raz\u00e3o do fracasso relativo \u00e9 a desconex\u00e3o com a identidade do eleitorado da direita , que \u00e9 sobretudo anti Lula e anti PT. Se a passeata tivesse sido convocada em rep\u00fadio ao atual presidente, teria certamente sido maior, como foram o \u201cFora Dilma\u201d ou \u201cFora Temer\u201d na hist\u00f3ria recente do Brasil. Panela\u00e7os \u201ca favor\u201d nunca arregimentaram multid\u00f5es. O p\u00fablico percebe que a pauta \u201canistia aos presos do 8 de janeiro\u201d \u00e9, na verdade, uma anistia ao pr\u00f3prio Bolsonaro, convocador do movimento.<\/p>\n O ensejo existe: os juros altos que desestimulam a atividade econ\u00f4mica, a alta infla\u00e7\u00e3o, a pol\u00edtica fiscal expansionista aumentando o d\u00e9ficit p\u00fablico; a economia pode favorecer a oposi\u00e7\u00e3o em 2026. O argumento tem apelo, mas Bolsonaro optou por atos em defesa a ele mesmo, e o eleitor de direita, que j\u00e1 se sente perseguido e exposto pelo Judici\u00e1rio, tende a deixar Bolsonaro se virar com seus pr\u00f3prios problemas no STF sozinho.\u00a0<\/p>\n Em entrevista coletiva concedida na quarta-feira, Bolsonaro disse: \u201cEu preso vou dar trabalho\u201d. Sua estrat\u00e9gia parece ser apostar na imagem de um m\u00e1rtir vivo, que vai continuar operando politicamente mesmo sem direitos pol\u00edticos e mesmo preso; como Lula fez em seus 580 dias preso at\u00e9 novembro de 2019.\u00a0<\/p>\n A estrat\u00e9gia \u00e9 baseada em manter o eleitorado mobilizado e concentrar em si as articula\u00e7\u00f5es para a sucess\u00e3o ao posto de leg\u00edtimo representante da direita. Embora fa\u00e7a sentido do ponto de vista daquele que tenta preservar o poder, \u00e9 uma aposta arriscada. Em 2018, Lula articulou a candidatura de Fernando Haddad, que ficou conhecido como um poste eleitoral. Bolsonaro pode copiar o fracasso de Haddad em 2018.\u00a0<\/p>\n Naquela data, Haddad atuou como representante de Lula, ia se consultar com o ent\u00e3o ex-presidente como esp\u00e9cie de or\u00e1culo na pris\u00e3o. Bolsonaro pode escolher um familiar gen\u00e9rico, sem o mesmo carisma e identifica\u00e7\u00e3o, e repetir o mesmo erro. Neste caso, o eleitor passa a enxergar o candidato como um tutelado, e n\u00e3o como um agente pol\u00edtico.\u00a0<\/p>\n Alternativas\u00a0<\/strong><\/p>\n Se Bolsonaro de fato for preso e perder seu capital, o ex-presidente pode optar por apoiar outro candidato que n\u00e3o esteja sob sua tutela, que tenha uma vida individual, mas que herdaria seu esp\u00f3lio. S\u00e3o alternativas como Ratinho J\u00fanior (PSD), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (UB), Tarc\u00edsio de Freitas (Republicanos).<\/p>\n O mercado financeiro e empresarial acenou ao longo da \u00faltima semana para Tarc\u00edsio. Segundo pesquisa Quaest publicada no dia 19 de mar\u00e7o, Tarc\u00edsio tem confian\u00e7a de 68% do mercado. Depois de Tarc\u00edsio, v\u00eam Romeu Zema (36%), Ratinho Jr. (23%) e Ronaldo Caiado (17%). Lula tem 3%. Com esta esp\u00e9cie de apoio e com o governo do estado brasileiro mais populoso, cabe questionar: faz sentido que Bolsonaro apoie Tarc\u00edsio? N\u00e3o exatamente.\u00a0<\/p>\n Se Bolsonaro encampar Tarc\u00edsio de Freitas e o governador de S\u00e3o Paulo vencer, faria sentido que o novo presidente se movesse para anistiar Bolsonaro? Pelo contr\u00e1rio: n\u00e3o valeria a pena comprar o atrito com o STF logo no in\u00edcio de um mandato (al\u00e9m disso, Tarc\u00edsio n\u00e3o ia querer o l\u00edder livre \u201cpalpitando\u201d em seu governo).\u00a0<\/p>\n Portanto, mesmo sem escolhas, \u00e9 improv\u00e1vel que Bolsonaro apoie Tarc\u00edsio de in\u00edcio. S\u00f3 faria sentido para o ex-presidente \u201chomologar\u201d a candidatura de Tarc\u00edsio como aquela do leg\u00edtimo bolsonarismo no cen\u00e1rio em que Tarc\u00edsio decola sozinho e se torna inevit\u00e1vel, atraindo para si o bolsonarismo sem Bolsonaro. Neste caso, entretanto, o ex-presidente ficaria ainda menor e mais dispens\u00e1vel, aderindo \u00e0 candidatura do Republicano por sobreviv\u00eancia.\u00a0<\/p>\n<\/p>\n O post A direita deve procurar alternativas; para Bolsonaro, apoiar Tarc\u00edsio n\u00e3o faz sentido\u00a0<\/a> apareceu primeiro em Jornal Op\u00e7\u00e3o<\/a>.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Quando Jair Bolsonaro se tornou r\u00e9u, \u201ca ficha caiu\u201d para boa parte do eleitorado de direita (como se dizia nos anos 1990, quando havia telefones p\u00fablicos onde ca\u00edam as fichas). O ex-presidente j\u00e1 estava ineleg\u00edvel desde outubro de 2023, mas havia fuma\u00e7a no ar: institutos de pesquisa\u00a0nunca deixaram de coloc\u00e1-lo… Continue lendo