{"id":153450,"date":"2025-04-06T07:19:29","date_gmt":"2025-04-06T10:19:29","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/153450"},"modified":"2025-04-06T07:19:29","modified_gmt":"2025-04-06T10:19:29","slug":"tarifas-de-trump-tiram-quase-4-mil-de-familias-americanas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/153450","title":{"rendered":"Tarifas de Trump tiram quase $4 mil de fam\u00edlias americanas"},"content":{"rendered":"
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(UOL\/FOLHAPRESS) \u2013 As fam\u00edlias norte-americanas devem perder, em m\u00e9dia, US$ 3.800 (cerca de R$ 21.900) neste ano como reflexo do aumento de tarifas anunciado por Donald Trump em 2 de abril chamado \u201cDia da Liberta\u00e7\u00e3o\u201d pelo presidente dos Estados Unidos. O valor equivale a mais da metade da renda de um m\u00eas de cada domic\u00edlio no pa\u00eds.<\/p>\n

A perda decorrer\u00e1 de um aumento m\u00e9dio de 2,3% nos pre\u00e7os de produtos tarifados e de demais bens nas cadeias de produ\u00e7\u00e3o norte-americana. As novas barreiras comerciais, sobretudo contra Vietn\u00e3, Bangladesh e Tail\u00e2ndia, afetam principalmente o setor de vestu\u00e1rio, cujos pre\u00e7os devem subir 17% sob as novas al\u00edquotas.<\/p>\n

Os c\u00e1lculos s\u00e3o do Budget Lab, da Universidade Yale, e t\u00eam sido considerados por economistas entre os mais consistentes at\u00e9 aqui. O \u00f3rg\u00e3o estima que o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA v\u00e1 encolher neste ano 0,5 ponto percentual s\u00f3 com as tarifas anunciadas em 2 de abril. Levando em conta o conjunto de medidas desde que Trump assumiu o cargo, a queda chegaria a -0,9 ponto.<\/p>\n

A longo prazo, a manuten\u00e7\u00e3o das novas barreiras, segundo o Budget Lab de Yale, far\u00e1 com que o PIB dos EUA permane\u00e7a 0,6 ponto percentual abaixo de seu potencial anterior \u00e0s tarifas. Isso acarretar\u00e1 perda de US$ 180 bilh\u00f5es (R$ 1,03 trilh\u00e3o) s\u00f3 neste ano.<\/p>\n

As medidas de 2 de abril equivalem a um aumento na tarifa m\u00e9dia efetiva dos EUA de 11,5 pontos percentuais. Ap\u00f3s a incorpora\u00e7\u00e3o de tudo o que foi anunciado at\u00e9 agora, a taxa m\u00e9dia passou a 22,5%, a mais alta desde 1909.<\/p>\n

Para o economista-chefe da MB Associados, S\u00e9rgio Vale, o 2 de abril de 2025 deveria ser batizado de \u201cdia do empobrecimento\u201d dos EUA. \u201c\u2018Dia da Liberta\u00e7\u00e3o\u2019 \u00e9 um nome infame para o que vai acorrentar a popula\u00e7\u00e3o a pre\u00e7os mais elevados\u201d, afirma.<\/p>\n

\u201cH\u00e1 uma falta de entendimento n\u00e3o apenas econ\u00f4mico, mas de rela\u00e7\u00f5es internacionais, no entorno de Trump, que leva a confundir o fetiche da reindustrializa\u00e7\u00e3o com pr\u00e1ticas tarif\u00e1rias ultrapassadas, que v\u00e3o piorar a qualidade industrial do pa\u00eds. Pois insumos importantes ficar\u00e3o mais caros, assim como ser\u00e1 afetado o canal de exporta\u00e7\u00f5es dos EUA\u201d, diz Vale.<\/p>\n

Em relat\u00f3rio distribu\u00eddo a clientes na semana passada, o IIF (Instituto de Finan\u00e7as Internacionais, na sigla em ingl\u00eas), que re\u00fane mais de 400 bancos e institui\u00e7\u00f5es no mundo, considerou que as tarifas adotadas sobre setores estrat\u00e9gicos constituem o principal foco das medidas.<\/p>\n

\u201cProdutos essenciais para a resili\u00eancia nacional, incluindo semicondutores, cobre refinado e farmac\u00eauticos selecionados, agora enfrentar\u00e3o tarifas de 10% a 25%. Elas foram explicitamente projetadas para realinhar as cadeias de suprimentos, promovendo a produ\u00e7\u00e3o dom\u00e9stica de longo prazo em vez de gerar receita imediata\u201d, diz o IIF.<\/p>\n

O \u00f3rg\u00e3o considera que a administra\u00e7\u00e3o Trump articulou as mudan\u00e7as de forma a tornar permanentes as novas pol\u00edticas comercial e tarif\u00e1ria dos EUA. \u201cHaver\u00e1 negocia\u00e7\u00f5es e revis\u00f5es regulares, mas o custo de acesso ao mercado dos EUA mudou fundamentalmente\u201d, diz o IIF.<\/p>\n

Para Armando Castelar, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, alguns pontos importantes podem ser depreendidos de recentes entrevistas do secret\u00e1rio do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e de Com\u00e9rcio, Howard Lutnick.<\/p>\n

O primeiro \u00e9 que o consumidor americano deixa de ser a prioridade, entrando em seu lugar o trabalhador e a expectativa de mais empregos industriais para a classe m\u00e9dia, o que amenizaria o impacto de mais infla\u00e7\u00e3o com as tarifas. Castelar considera a aposta arriscada, pois rob\u00f4s e intelig\u00eancia artificial devem ditar as regras do mercado de trabalho.<\/p>\n

O segundo seria isentar de impostos quem ganha at\u00e9 US$ 150 mil anuais (R$ 860 mil; 85% dos americanos), colocando mais dinheiro em circula\u00e7\u00e3o e compensando as perdas na arrecada\u00e7\u00e3o com cerca de US$ 1 trilh\u00e3o ao ano (R$ 5,75 trilh\u00f5es) com receitas das tarifas.<\/p>\n

Haveria ainda a inten\u00e7\u00e3o de impulsionar a economia dos EUA com a diminui\u00e7\u00e3o dos gastos p\u00fablicos e desregulamentando restri\u00e7\u00f5es ambientais e financeiras a empresas.<\/p>\n

\u201cTrump deve conseguir avan\u00e7os na desregulamenta\u00e7\u00e3o, mas an\u00fancios de cortes de gastos t\u00eam sido revertidos na Justi\u00e7a. No conjunto, a infla\u00e7\u00e3o deve subir, e o PIB, cair, num cen\u00e1rio de estagfla\u00e7\u00e3o [infla\u00e7\u00e3o com recess\u00e3o ou crescimento baixo]\u201d, diz Castelar.<\/p>\n

O resultado l\u00edquido do tarifa\u00e7o ainda \u00e9 incerto, dado que pa\u00edses com rela\u00e7\u00f5es com os EUA v\u00eam retaliando, como o fez a China nesta sexta (4), ao impor tarifas de 34% sobre todos os produtos importados dos EUA.<\/p>\n

At\u00e9 aqui, no entanto, os an\u00fancios de novas tarifas contra pa\u00edses v\u00eam derrubando os pre\u00e7os das a\u00e7\u00f5es das principais empresas norte-americanas. Como boa parte da poupan\u00e7a das fam\u00edlias nos EUA \u00e9 investida na Bolsa de Valores, elas tamb\u00e9m est\u00e3o ficando mais pobres por este canal.<\/p>\n

Nos \u00faltimos dez anos, o d\u00e9ficit comercial dos EUA com o mundo e a China vem se mantendo relativamente est\u00e1vel em compara\u00e7\u00e3o ao tamanho da economia americana. Em rela\u00e7\u00e3o ao PIB dos EUA, o d\u00e9ficit no com\u00e9rcio de bens com outros pa\u00edses tem oscilado ao redor de 4%. Considerando bens e servi\u00e7os, entre 2,5% e 3,5%.<\/p>\n

O ponto fundamental \u00e9 que o d\u00e9ficit norte-americano relaciona-se ao excesso do que o pa\u00eds precisa comprar em bens e servi\u00e7os do resto do mundo para fazer sua economia rodar, em rela\u00e7\u00e3o ao que consegue produzir internamente. Por isso, deve continuar importando bilh\u00f5es de d\u00f3lares em bens nos pr\u00f3ximos anos, agora a um custo maior.<\/p>\n

Para Jos\u00e9 J\u00falio Senna, ex-diretor do Banco Central, \u201cn\u00e3o h\u00e1 nenhuma viabilidade na estrat\u00e9gia de Trump de reindustrializar os EUA utilizando-se de tarifas\u201d. \u201cA perda de empregos industriais \u00e9 uma realidade comum a todos os pa\u00edses que enriqueceram e que acabam naturalmente demandando mais servi\u00e7os\u201d, afirma.<\/p>\n

Em sua opini\u00e3o, vai demorar um bom tempo at\u00e9 que Trump e seus partid\u00e1rios se deem conta do erro dessa estrat\u00e9gia. Enquanto isso, pa\u00edses concorrentes, em especial a China, devem ganhar terreno ao longo do caminho, acredita.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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