{"id":153706,"date":"2025-04-07T11:27:33","date_gmt":"2025-04-07T14:27:33","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/153706"},"modified":"2025-04-07T11:27:33","modified_gmt":"2025-04-07T14:27:33","slug":"especies-invasoras-ameacam-fernando-de-noronha","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/153706","title":{"rendered":"Esp\u00e9cies invasoras amea\u00e7am Fernando de Noronha"},"content":{"rendered":"
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Rodrigo de Oliveira Andrade\/SciDev.Net<\/strong><\/p>\n

Ratos, gatos dom\u00e9sticos e lagartos tornaram-se as principais amea\u00e7as para a fauna end\u00eamica do arquip\u00e9lago de Fernando de Noronha, situado no oceano Atl\u00e2ntico, a 350 quil\u00f4metros da costa brasileira \u2013 uma \u00e1rea de prote\u00e7\u00e3o ambiental com numerosas plantas e animais que existem unicamente ali.<\/p>\n

Todas essas esp\u00e9cies s\u00e3o invasoras e est\u00e3o afetando a diversidade gen\u00e9tica local e at\u00e9 a poliniza\u00e7\u00e3o\u00a0das flores. Uma equipe de pesquisadores brasileiros que revisou a literatura especializada e entrevistou especialistas para avaliar os principais impactos desses animais sobre os servi\u00e7os ecossist\u00eamicos do arquip\u00e9lago. As conclus\u00f5es foram\u00a0publicadas<\/a>\u00a0na revista cient\u00edfica\u00a0Ecosystem Services<\/em>.<\/p>\n

Esp\u00e9cies ex\u00f3ticas invasoras <\/a>s\u00e3o plantas e animais introduzidos de forma intencional ou acidental em um local fora de sua \u00e1rea de distribui\u00e7\u00e3o natural. Elas se reproduzem com facilidade, a ponto de colocar em risco a sobreviv\u00eancia das esp\u00e9cies locais.<\/p>\n

A prolifera\u00e7\u00e3o dessas esp\u00e9cies \u00e9 uma das principais causas da perda de biodiversidade no mundo, mas costuma ser menos mencionada do que outros fatores, como as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e a perda de habitats, afirmou ao\u00a0SciDev.Net<\/em>\u00a0Ricardo Ara\u00fajo, analista ambiental e chefe de pesquisa do Instituto Chico Mendes de Conserva\u00e7\u00e3o da Biodiversidade (ICMBio) em Fernando de Noronha.<\/p>\n

Ele n\u00e3o fez parte da equipe de pesquisa, mas destaca que \u201cestudos como o publicado na\u00a0Ecosystem Services<\/em>\u00a0s\u00e3o importantes para lan\u00e7ar luz sobre esse problema\u201d.<\/p>\n

O bi\u00f3logo Guilherme Tavares Nunes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos autores do estudo, explica que o turismo \u00e9 uma atividade socioecon\u00f4mica importante em Fernando de Noronha, impulsionada principalmente pelo turismo de sol e praia e pela observa\u00e7\u00e3o da vida silvestre, \u201cque est\u00e1 em risco consider\u00e1vel no cen\u00e1rio atual\u201d.<\/p>\n

As autoridades brasileiras fixaram um limite m\u00e1ximo de 132 mil visitantes anuais em Fernando de Noronha \u2013 11 mil por m\u00eas. Desde 2022, tamb\u00e9m est\u00e1 proibido que turistas levem qualquer tipo de animal dom\u00e9stico ou ex\u00f3tico ao arquip\u00e9lago.<\/p>\n

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Trazidos ao arquip\u00e9lago pelos habitantes locais para controlar as popula\u00e7\u00f5es de ratos, esses animais come\u00e7aram a se reproduzir sem controle | Foto: ICMBio Noronha<\/figcaption><\/figure>\n

Ratos e gatos<\/strong> em Fernando de Noronha<\/strong><\/h2>\n

Os desafios enfrentados em Noronha s\u00e3o os mesmos que afetam outros ambientes insulares. Como a distribui\u00e7\u00e3o global de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas invasoras reflete processos hist\u00f3ricos de coloniza\u00e7\u00e3o e desenvolvimento econ\u00f4mico, as pequenas ilhas tropicais est\u00e3o entre os principais receptores de esp\u00e9cies invasoras, destacam os autores.<\/p>\n

Os problemas com ratos e gatos s\u00e3o os mais comuns. \u00c9 o caso da ilha de Pequena Cayman, localizada nas Ilhas Cayman, um territ\u00f3rio ultramarino do Reino Unido no Caribe, onde os cientistas consideram a situa\u00e7\u00e3o \u201curgente\u201d. A ilha est\u00e1 invadida por uma grande quantidade de gatos ferais, que est\u00e3o dizimando a fauna nativa, incluindo o atob\u00e1-de-patas-vermelhas (Sula sula<\/em>) e o atob\u00e1-pardo (Sula leucogaster<\/em>).<\/p>\n

Em Fernando de Noronha, uma esp\u00e9cie invasora que causou grandes danos foi o rato-preto (Rattus rattus<\/em>). Acredita-se que tenha chegado a bordo das embarca\u00e7\u00f5es dos primeiros exploradores europeus. Em pouco tempo, espalhou-se pelas ilhas do arquip\u00e9lago, inclusive pelas mais isoladas e sem atividade humana. Estima-se que sua popula\u00e7\u00e3o atualmente atinja dezenas de milhares.<\/p>\n

Esses animais se alimentam de verduras, frutas e cereais, mas tamb\u00e9m de ovos e filhotes de aves marinhas que utilizam a ilha para descansar, se alimentar e se reproduzir. \u201cAlgumas est\u00e3o em risco de extin\u00e7\u00e3o, como o atob\u00e1-de-patas-vermelhas, o rabo-de-palha (Phaethon aethereus<\/em>) e a cocoruta (Elaenia ridleyana<\/em>)\u201d, diz Nunes.<\/p>\n

Para remediar esse problema, em 2018 o ICMBio Noronha realizou um projeto piloto em parceria com a ONG ambiental WWF-Brasil, em uma ilha desabitada do arquip\u00e9lago \u2013 a Ilha do Meio \u2013, utilizando um anticoagulante espec\u00edfico para ratos.<\/p>\n

A iniciativa foi bem-sucedida e serviu de modelo para aplicar a mesma estrat\u00e9gia no arquip\u00e9lago de Abrolhos, composto por cinco ilhas no sul da Bahia. \u201cAcreditamos que esse modelo possa ser usado em outras ilhas ou arquip\u00e9lagos no mundo\u201d, afirma Nunes.<\/p>\n

Outro predador abundante na ilha \u00e9 o lagarto tei\u00fa (Salvator merianae<\/em>). Ele se alimenta de v\u00e1rias esp\u00e9cies nativas, incluindo ovos e filhotes de tartarugas marinhas. Os relatos sobre sua chegada ao arquip\u00e9lago s\u00e3o contradit\u00f3rios, mas sabe-se que ele est\u00e1 ali h\u00e1 pelo menos 100 anos. Estima-se que sua popula\u00e7\u00e3o na ilha principal varie entre 7 mil e 12 mil indiv\u00edduos.<\/p>\n

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O lagarto tei\u00fa se alimenta de esp\u00e9cies nativas, incluindo ovos e filhotes de tartarugas marinhas | Foto: ICMBio Noronha<\/figcaption><\/figure>\n

Mas s\u00e3o os gatos (Felis catus<\/em>) que causaram os maiores impactos. Trazidos ao arquip\u00e9lago pelos habitantes locais para controlar as popula\u00e7\u00f5es de ratos, esses animais come\u00e7aram a se reproduzir sem controle. \u201cEstima-se que existam 1.287 gatos na ilha principal, dos quais cerca de 439 s\u00e3o selvagens\u201d, aponta Nunes.<\/p>\n

Ap\u00f3s analisar a dieta desses animais, os pesquisadores constataram que os gatos est\u00e3o se alimentando de aves marinhas e de um pequeno lagarto conhecido como mabuya (Trachylepis atlantica<\/em>), end\u00eamico do arquip\u00e9lago.<\/p>\n

\u201cA mabuya se alimenta de larvas de insetos, formigas e restos de alimentos humanos, al\u00e9m de n\u00e9ctar e flores, atuando como um importante polinizador e dispersor de sementes, contribuindo para a reprodu\u00e7\u00e3o das plantas e para o equil\u00edbrio dos ecossistemas locais\u201d, diz Nunes. \u201cHoje, quase n\u00e3o se v\u00ea esse lagarto na ilha\u201d.<\/p>\n

A an\u00e1lise de fezes e de is\u00f3topos est\u00e1veis (formas variantes de \u00e1tomos cuja composi\u00e7\u00e3o n\u00e3o muda com o tempo) dos gatos do arquip\u00e9lago tamb\u00e9m revelou que muitos carregam uma cepa de\u00a0Toxoplasma<\/em>\u00a0quase inexistente no restante do Brasil. \u201cPor isso esses animais tamb\u00e9m representam um grave problema de sa\u00fade p\u00fablica\u201d, acrescenta o pesquisador.<\/p>\n

Para control\u00e1-los, a sa\u00edda tem sido a castra\u00e7\u00e3o e a introdu\u00e7\u00e3o de um microchip de identifica\u00e7\u00e3o nos gatos dom\u00e9sticos e naqueles sem dono capturados nas ruas. Estes \u00faltimos s\u00e3o levados para um abrigo para ado\u00e7\u00e3o ou para serem sacrificados, caso n\u00e3o sejam adotados.<\/p>\n

Os gatos dom\u00e9sticos encontrados novamente nas ruas tamb\u00e9m s\u00e3o levados para abrigos, e seus tutores s\u00e3o multados em um valor entre 20% e 30% de um sal\u00e1rio m\u00ednimo (R$ 1.509). Paralelamente, s\u00e3o realizadas palestras de conscientiza\u00e7\u00e3o para a popula\u00e7\u00e3o local, incluindo escolas, e tamb\u00e9m para os turistas.<\/p>\n

O problema continua sendo os felinos selvagens. \u201cA solu\u00e7\u00e3o seria a eutan\u00e1sia, mas a ideia enfrenta resist\u00eancia dos moradores locais, al\u00e9m de ser muito dif\u00edcil captur\u00e1-los na mata\u201d, aponta Ara\u00fajo.<\/p>\n

Segundo ele, a solu\u00e7\u00e3o mais eficaz seria enviar o Ex\u00e9rcito para ca\u00e7\u00e1-los e elimin\u00e1-los, algo que j\u00e1 foi feito antes. Na ilha da Trindade, a 1.167 km da costa do Esp\u00edrito Santo, cerca de 800 cabras foram abatidas por militares da Marinha, que administra a ilha, em uma opera\u00e7\u00e3o iniciada em 1994.<\/p>\n

Esses animais haviam sido introduzidos na regi\u00e3o h\u00e1 mais de 300 anos. Sem predadores naturais, reproduziram-se descontroladamente, consumindo toda a vegeta\u00e7\u00e3o, afetando os cursos d\u2019\u00e1gua e a fauna local, como as tartarugas marinhas, cujos ovos tamb\u00e9m eram consumidos. A \u00faltima cabra foi eliminada em 2005.<\/p>\n

Estima-se que existam no Brasil 476 esp\u00e9cies ex\u00f3ticas invasoras, segundo um relat\u00f3rio tem\u00e1tico publicado no in\u00edcio de 2024 pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Servi\u00e7os Ecossist\u00eamicos.<\/p>\n

\u201cNosso estudo oferece suporte \u00e0 gest\u00e3o ambiental do arquip\u00e9lago e destaca que as estrat\u00e9gias de controle dessas esp\u00e9cies devem ser implementadas de forma integrada, considerando tanto a conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade quanto as percep\u00e7\u00f5es da comunidade local\u201d, acrescenta Nunes.<\/p>\n<\/p>\n

O post Esp\u00e9cies invasoras amea\u00e7am Fernando de Noronha<\/a> apareceu primeiro em Jornal Op\u00e7\u00e3o<\/a>.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Rodrigo de Oliveira Andrade\/SciDev.Net Ratos, gatos dom\u00e9sticos e lagartos tornaram-se as principais amea\u00e7as para a fauna end\u00eamica do arquip\u00e9lago de Fernando de Noronha, situado no oceano Atl\u00e2ntico, a 350 quil\u00f4metros da costa brasileira \u2013 uma \u00e1rea de prote\u00e7\u00e3o ambiental com numerosas plantas e animais que existem unicamente ali. Todas essas… Continue lendo → <\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-153706","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-sem-categoria"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153706","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=153706"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153706\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=153706"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=153706"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=153706"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}