Rodrigo de Oliveira Andrade\/SciDev.Net<\/strong><\/p>\n
Ratos, gatos dom\u00e9sticos e lagartos tornaram-se as principais amea\u00e7as para a fauna end\u00eamica do arquip\u00e9lago de Fernando de Noronha, situado no oceano Atl\u00e2ntico, a 350 quil\u00f4metros da costa brasileira \u2013 uma \u00e1rea de prote\u00e7\u00e3o ambiental com numerosas plantas e animais que existem unicamente ali.<\/p>\n
Todas essas esp\u00e9cies s\u00e3o invasoras e est\u00e3o afetando a diversidade gen\u00e9tica local e at\u00e9 a poliniza\u00e7\u00e3o\u00a0das flores. Uma equipe de pesquisadores brasileiros que revisou a literatura especializada e entrevistou especialistas para avaliar os principais impactos desses animais sobre os servi\u00e7os ecossist\u00eamicos do arquip\u00e9lago. As conclus\u00f5es foram\u00a0publicadas<\/a>\u00a0na revista cient\u00edfica\u00a0Ecosystem Services<\/em>.<\/p>\n
Os desafios enfrentados em Noronha s\u00e3o os mesmos que afetam outros ambientes insulares. Como a distribui\u00e7\u00e3o global de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas invasoras reflete processos hist\u00f3ricos de coloniza\u00e7\u00e3o e desenvolvimento econ\u00f4mico, as pequenas ilhas tropicais est\u00e3o entre os principais receptores de esp\u00e9cies invasoras, destacam os autores.<\/p>\n
Os problemas com ratos e gatos s\u00e3o os mais comuns. \u00c9 o caso da ilha de Pequena Cayman, localizada nas Ilhas Cayman, um territ\u00f3rio ultramarino do Reino Unido no Caribe, onde os cientistas consideram a situa\u00e7\u00e3o \u201curgente\u201d. A ilha est\u00e1 invadida por uma grande quantidade de gatos ferais, que est\u00e3o dizimando a fauna nativa, incluindo o atob\u00e1-de-patas-vermelhas (Sula sula<\/em>) e o atob\u00e1-pardo (Sula leucogaster<\/em>).<\/p>\n
Em Fernando de Noronha, uma esp\u00e9cie invasora que causou grandes danos foi o rato-preto (Rattus rattus<\/em>). Acredita-se que tenha chegado a bordo das embarca\u00e7\u00f5es dos primeiros exploradores europeus. Em pouco tempo, espalhou-se pelas ilhas do arquip\u00e9lago, inclusive pelas mais isoladas e sem atividade humana. Estima-se que sua popula\u00e7\u00e3o atualmente atinja dezenas de milhares.<\/p>\n
Esses animais se alimentam de verduras, frutas e cereais, mas tamb\u00e9m de ovos e filhotes de aves marinhas que utilizam a ilha para descansar, se alimentar e se reproduzir. \u201cAlgumas est\u00e3o em risco de extin\u00e7\u00e3o, como o atob\u00e1-de-patas-vermelhas, o rabo-de-palha (Phaethon aethereus<\/em>) e a cocoruta (Elaenia ridleyana<\/em>)\u201d, diz Nunes.<\/p>\n
Para remediar esse problema, em 2018 o ICMBio Noronha realizou um projeto piloto em parceria com a ONG ambiental WWF-Brasil, em uma ilha desabitada do arquip\u00e9lago \u2013 a Ilha do Meio \u2013, utilizando um anticoagulante espec\u00edfico para ratos.<\/p>\n
A iniciativa foi bem-sucedida e serviu de modelo para aplicar a mesma estrat\u00e9gia no arquip\u00e9lago de Abrolhos, composto por cinco ilhas no sul da Bahia. \u201cAcreditamos que esse modelo possa ser usado em outras ilhas ou arquip\u00e9lagos no mundo\u201d, afirma Nunes.<\/p>\n
Outro predador abundante na ilha \u00e9 o lagarto tei\u00fa (Salvator merianae<\/em>). Ele se alimenta de v\u00e1rias esp\u00e9cies nativas, incluindo ovos e filhotes de tartarugas marinhas. Os relatos sobre sua chegada ao arquip\u00e9lago s\u00e3o contradit\u00f3rios, mas sabe-se que ele est\u00e1 ali h\u00e1 pelo menos 100 anos. Estima-se que sua popula\u00e7\u00e3o na ilha principal varie entre 7 mil e 12 mil indiv\u00edduos.<\/p>\n
Mas s\u00e3o os gatos (Felis catus<\/em>) que causaram os maiores impactos. Trazidos ao arquip\u00e9lago pelos habitantes locais para controlar as popula\u00e7\u00f5es de ratos, esses animais come\u00e7aram a se reproduzir sem controle. \u201cEstima-se que existam 1.287 gatos na ilha principal, dos quais cerca de 439 s\u00e3o selvagens\u201d, aponta Nunes.<\/p>\n
Ap\u00f3s analisar a dieta desses animais, os pesquisadores constataram que os gatos est\u00e3o se alimentando de aves marinhas e de um pequeno lagarto conhecido como mabuya (Trachylepis atlantica<\/em>), end\u00eamico do arquip\u00e9lago.<\/p>\n
\u201cA mabuya se alimenta de larvas de insetos, formigas e restos de alimentos humanos, al\u00e9m de n\u00e9ctar e flores, atuando como um importante polinizador e dispersor de sementes, contribuindo para a reprodu\u00e7\u00e3o das plantas e para o equil\u00edbrio dos ecossistemas locais\u201d, diz Nunes. \u201cHoje, quase n\u00e3o se v\u00ea esse lagarto na ilha\u201d.<\/p>\n
A an\u00e1lise de fezes e de is\u00f3topos est\u00e1veis (formas variantes de \u00e1tomos cuja composi\u00e7\u00e3o n\u00e3o muda com o tempo) dos gatos do arquip\u00e9lago tamb\u00e9m revelou que muitos carregam uma cepa de\u00a0Toxoplasma<\/em>\u00a0quase inexistente no restante do Brasil. \u201cPor isso esses animais tamb\u00e9m representam um grave problema de sa\u00fade p\u00fablica\u201d, acrescenta o pesquisador.<\/p>\n
Para control\u00e1-los, a sa\u00edda tem sido a castra\u00e7\u00e3o e a introdu\u00e7\u00e3o de um microchip de identifica\u00e7\u00e3o nos gatos dom\u00e9sticos e naqueles sem dono capturados nas ruas. Estes \u00faltimos s\u00e3o levados para um abrigo para ado\u00e7\u00e3o ou para serem sacrificados, caso n\u00e3o sejam adotados.<\/p>\n
Os gatos dom\u00e9sticos encontrados novamente nas ruas tamb\u00e9m s\u00e3o levados para abrigos, e seus tutores s\u00e3o multados em um valor entre 20% e 30% de um sal\u00e1rio m\u00ednimo (R$ 1.509). Paralelamente, s\u00e3o realizadas palestras de conscientiza\u00e7\u00e3o para a popula\u00e7\u00e3o local, incluindo escolas, e tamb\u00e9m para os turistas.<\/p>\n
O problema continua sendo os felinos selvagens. \u201cA solu\u00e7\u00e3o seria a eutan\u00e1sia, mas a ideia enfrenta resist\u00eancia dos moradores locais, al\u00e9m de ser muito dif\u00edcil captur\u00e1-los na mata\u201d, aponta Ara\u00fajo.<\/p>\n
Segundo ele, a solu\u00e7\u00e3o mais eficaz seria enviar o Ex\u00e9rcito para ca\u00e7\u00e1-los e elimin\u00e1-los, algo que j\u00e1 foi feito antes. Na ilha da Trindade, a 1.167 km da costa do Esp\u00edrito Santo, cerca de 800 cabras foram abatidas por militares da Marinha, que administra a ilha, em uma opera\u00e7\u00e3o iniciada em 1994.<\/p>\n
Esses animais haviam sido introduzidos na regi\u00e3o h\u00e1 mais de 300 anos. Sem predadores naturais, reproduziram-se descontroladamente, consumindo toda a vegeta\u00e7\u00e3o, afetando os cursos d\u2019\u00e1gua e a fauna local, como as tartarugas marinhas, cujos ovos tamb\u00e9m eram consumidos. A \u00faltima cabra foi eliminada em 2005.<\/p>\n
Estima-se que existam no Brasil 476 esp\u00e9cies ex\u00f3ticas invasoras, segundo um relat\u00f3rio tem\u00e1tico publicado no in\u00edcio de 2024 pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Servi\u00e7os Ecossist\u00eamicos.<\/p>\n
\u201cNosso estudo oferece suporte \u00e0 gest\u00e3o ambiental do arquip\u00e9lago e destaca que as estrat\u00e9gias de controle dessas esp\u00e9cies devem ser implementadas de forma integrada, considerando tanto a conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade quanto as percep\u00e7\u00f5es da comunidade local\u201d, acrescenta Nunes.<\/p>\n<\/p>\n
O post Esp\u00e9cies invasoras amea\u00e7am Fernando de Noronha<\/a> apareceu primeiro em Jornal Op\u00e7\u00e3o<\/a>.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Rodrigo de Oliveira Andrade\/SciDev.Net Ratos, gatos dom\u00e9sticos e lagartos tornaram-se as principais amea\u00e7as para a fauna end\u00eamica do arquip\u00e9lago de Fernando de Noronha, situado no oceano Atl\u00e2ntico, a 350 quil\u00f4metros da costa brasileira \u2013 uma \u00e1rea de prote\u00e7\u00e3o ambiental com numerosas plantas e animais que existem unicamente ali. Todas essas… Continue lendo