{"id":96463,"date":"2024-11-10T01:30:50","date_gmt":"2024-11-10T04:30:50","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/96463"},"modified":"2024-11-10T01:30:50","modified_gmt":"2024-11-10T04:30:50","slug":"livro-de-alex-solnik-mostra-a-barbarie-de-torturadores-como-brilhante-ustra","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/ler\/96463","title":{"rendered":"Livro de Alex Solnik mostra a barb\u00e1rie de torturadores, como Brilhante Ustra"},"content":{"rendered":"
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Falta um livro \u2014 um grande livro, um livro grande \u2014, na estante de hist\u00f3ria do Brasil, que fa\u00e7a um mapeamento, de maneira ampla, sobre os torturadores que operaram durante a ditadura civil-militar.<\/p>\n

\u00c9 natural que a imprensa e pesquisadores se concentrem nas figuras de sempre, como Carlos Alberto Brilhante Ustra, o coronel Tibiri\u00e7\u00e1; S\u00e9rgio Paranhos Fleury, delegado da Pol\u00edcia Civil; e Benoni de Arruda Albernaz (dizia aos torturados: \u201cQuando venho para a Oban, deixo o cora\u00e7\u00e3o em casa\u201d), major do Ex\u00e9rcito. Mas h\u00e1 outros, muitos outros, como um capit\u00e3o do Ex\u00e9rcito, baseado em Goi\u00e1s, que, no dia de seu casamento, foi ao batalh\u00e3o da institui\u00e7\u00e3o (nada por\u00e3o) e torturou o publicit\u00e1rio Hugo Brockes (o sobrenome e os cabelos ruivos \u201clembravam\u201d europeus. Comunista, portanto). Uma hist\u00f3ria da ditadura precisa \u201cinclui-los\u201d.<\/p>\n

Se expostos com claritude e abrang\u00eancia, os torturadores \u201ccontar\u00e3o\u201d a parte mais cruenta da ditadura. Qual o grau de autonomia que tinham para torturar e matar? Apreciavam cumprir as ordens dos chef\u00f5es? H\u00e1 hist\u00f3rias de profundo sadismo envolvendo a turma de Brilhante Ustra e S\u00e9rgio Fleury.<\/p>\n

Na Guerrilha do Araguaia, nos momentos finais, entre 1973 e, sobretudo, 1974, a ordem dos coron\u00e9is e generais era para matar. Bras\u00edlia \u201cn\u00e3o\u201d queria prisioneiros, supostamente \u201cproblem\u00e1ticos\u201d.<\/p>\n

Os militares, no Araguaia, antes de matar, \u201ccumprindo\u201d as ordens do governo do general Emilio Garrastazu M\u00e9dici, torturavam prisioneiros (alguns deles doentes e inofensivos).<\/p>\n

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Brilhante Ustra, o torturador mais emblem\u00e1tico \u2014 o chefe que metia a m\u00e3o na massa, aparentemente \u201csem necessidade\u201d \u2014, S\u00e9rgio Fleury e Benoni de Arruda Albernaz merecem as cr\u00edticas que lhe s\u00e3o feitas pela hist\u00f3ria, pelas organiza\u00e7\u00f5es de defesa dos direitos humanos.<\/p>\n

Benoni de Arruda Albernaz, S\u00e9rgio Fleury e Brilhante Ustra eram de uma crueldade \u00edmpar. Estavam l\u00e1, em unidades governamentais \u2014 que, a rigor, n\u00e3o deveriam mais ser chamadas de por\u00f5es (a tortura n\u00e3o era assim t\u00e3o escondida) \u2014, para torturar e matar. Mas adicionaram, com certeza, a dose de sadismo de cada um, para piorar a situa\u00e7\u00e3o dos presos.<\/p>\n

A partir de determinado momento, com os interrogandos praticamente inertes e, sobretudo, sem nada para esclarecer \u2014 e contribuir para o combate \u00e0 guerrilha urbana (depois de 1971, praticamente debelada) \u2014, a tortura, at\u00e9 do ponto de vista da l\u00f3gica, n\u00e3o levava a nada. Os torturadores possivelmente tinham prazer ao destruir os corpos das v\u00edtimas. Eram senhores da vida e da morte. Deuses-luciferinos das trevas.<\/p>\n

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Brilhante Ustra: um dos militares mais brutais da ditadura | Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n<\/div>\n

Ao contar a hist\u00f3ria dos torturadores \u2014 militares (oficiais e subalternos), delegados e agentes da Pol\u00edcia Civil e da Pol\u00edcia Federal, m\u00e9dicos \u2014, a imprensa e os pesquisadores ter\u00e3o de \u201cincluir\u201d os mandachuvas. Entre eles estavam os generais M\u00e9dici, Orlando Geisel e Milton (Miltinho) Tavares. E, claro, muitos outros.<\/p>\n

A matan\u00e7a na Guerrilha do Araguaia (1972-1974) n\u00e3o deriva da autonomia do Major Curi\u00f3 (Sebasti\u00e3o Rodrigues Moura) e outros oficiais. Ele apreciava matar? \u00c9 poss\u00edvel. Mas recebeu ordens para n\u00e3o fazer prisioneiros, ou seja, para n\u00e3o lev\u00e1-los para pres\u00eddios e n\u00e3o coloc\u00e1-los \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o da Justi\u00e7a.<\/p>\n

O livro \u201cO Dia Em Que Conheci Brilhante Ustra\u201d (Gera\u00e7\u00e3o, 160 p\u00e1ginas), do jornalista ucraniano-brasileiro Alex Solnik, \u00e9 muito bem-vindo. \u00c9 uma hist\u00f3ria de dentro, ou seja, de quem viu pessoas sendo torturadas e sobreviveu.<\/p>\n

Em setembro de 1973, confundido com um militante da guerrilha, Alex Solnik (o sobrenome tamb\u00e9m pode ter influenciado, afinal a Ucr\u00e2nia era comunista) foi preso e entregue aos sequazes de Brilhante Ustra.<\/p>\n

Na pris\u00e3o, Alex Solnik presenciou o inomin\u00e1vel: presos pol\u00edticos sendo barbaramente torturados pelos homens de ouro da ditadura civil-militar \u2014 uma irmandade de criminosos regiamente paga com dinheiro p\u00fablico.<\/p>\n

Na cela para a qual foi levado, Alex Solnik conversou com um prisioneiro que era sadicamente torturado quase todos os dias, at\u00e9 se tornar um homem-farrapo, possivelmente. Era um n\u00e3o-homem, um peda\u00e7o de carne nas m\u00e3os-dentes de c\u00e3es selvagens, ditos humanos.<\/p>\n

Nascido na Ucr\u00e2nia, Alex Solnik, de 75 anos, chegou ao Brasil em 1958. \u00c9 autor de v\u00e1rios livros.<\/p>\n

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Falta um livro \u2014 um grande livro, um livro grande \u2014, na estante de hist\u00f3ria do Brasil, que fa\u00e7a um mapeamento, de maneira ampla, sobre os torturadores que operaram durante a ditadura civil-militar. \u00c9 natural que a imprensa e pesquisadores se concentrem nas figuras de sempre, como Carlos Alberto Brilhante… Continue lendo → <\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-96463","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-sem-categoria"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/96463","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=96463"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/96463\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=96463"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=96463"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia2.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=96463"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}