Brasil não adere à Nova Rota da Seda; saiba quais as possíveis consequências para o país

O presidente da China, Xi Jinping, teve reunião formal com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após encontro de líderes globais na Cúpula do G20. Após as discussões sobre temas ambientais, que aconteceram no Rio de Janeiro, os líderes foram até Brasília, na sede do governo, para firmar acordos bilaterais entre Brasil e China. Ao todo, foram 37 atos firmados entre Lula e Xi Jinping. Apesar dos acordos firmados, o Brasil não aderiu formalmente à Nova Rota da Seda, novo projeto chinês.  

Do encontro entre os presidentes, que aconteceu nesta quarta-feira, 20, surgiu uma declaração conjunta do Brasil com a China. No documento publicado pelo Itamaraty, ambos os países reforçam seus laços, trabalhando de forma sustentável pelo combate às desigualdades sociais. 

“O Brasil apoia a China a transformar-se em um grande país moderno em todos os aspectos e promover a revitalização da nação chinesa em todas as frentes através do caminho chinês para a modernização. A China apoia o Brasil a trilhar seu caminho de desenvolvimento justo, inclusivo, sustentável e livre da fome e da pobreza, e faz votos de novos êxitos de desenvolvimento econômico e social para o Brasil”, destaca o documento oficial. 

Nova Rota da Seda 

Lançada em 2013 pelo presidente Xi Jinping, a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), também chamada de Nova Rota da Seda, é uma das mais ambiciosas estratégias de infraestrutura e desenvolvimento globais. Inspirada nas antigas rotas comerciais que uniam o Oriente ao Ocidente, a proposta busca criar novos laços econômicos e logísticos entre a China e diversos continentes.

O projeto é estruturado em dois pilares principais: o Cinturão Econômico, que abrange corredores terrestres conectando a China à Europa através da Ásia Central e do Oriente Médio, e a Rota da Seda Marítima, composta por redes de portos e rotas marítimas que ligam o país asiático a regiões como sudeste asiático, África e Europa.

Mais do que uma iniciativa comercial, a BRI é uma aposta em infraestrutura global. Investimentos bilionários têm sido direcionados para construir ferrovias, rodovias e portos em países parceiros, com a promessa de impulsionar o comércio e acelerar o desenvolvimento regional. A estratégia não apenas reforça a influência econômica chinesa, mas também molda o futuro das conexões globais.

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Especialistas em política internacional apontam como acertada a decisão brasileira de não aderir ao projeto. Primeiro porque as relações sino-brasileiras já estão fortes, e dão indícios apenas de crescimento, ou seja, não haveria ganho concreto para o país. Além disso, existe uma preocupação dos diplomatas com a relação entre Brasil e Estados Unidos, agora que Trump foi eleito para novo mandato. Uma sinalização simbólica de estreitamento dos laços entre Brasil e China poderia ter peso negativo na relação com o gigante norte americano.  

No artigo “Uma política externa pendular entre EUA e China: o Brasil se protegendo para sobreviver”, os autores Feliciano de Sá e Hussein Kalout destacam a crescente rivalidade entre Estados Unidos e China como ponto de atenção para diplomatas brasileiros. Para os pesquisadores, o país sul-americano se coloca como parceiro entre a China e os Estados Unidos e um posicionamento extremado para algum dos lados pode ter implicações mais sérias no contexto brasileiro, como numa reedição da Guerra Fria. Para os autores, é vital que o Brasil se coloque como parceiro de ambos os lados a fim de não apenas garantir sua segurança no mercado, como também para ganhar mais espaço nesse contexto. 

Apesar da negativa à formalização da entrada do Brasil na Nova Rota da Seda, Lula reconhece a potência do mercado chinês no país e busca acordos alternativos para manter e reforçar esses laços. “A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. O superávit com a China é responsável por mais da metade do saldo comercial global brasileiro”, destacou o presidente brasileiro durante a cerimônia de assinatura dos acordos.

Para ilustrar a proporção desses negócios, temos dados da balança de exportações e importações brasileiras, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Nos dez primeiros meses de 2024, as exportações brasileiras para os chineses atingiram a marca de US$ 83,4 bilhões. Enquanto isso, as vendas para o segundo colocado nessa lista, os Estados Unidos, ficaram em US$ 32,9 bilhões. No mesmo período, as importações brasileiras de produtos chineses foi de cerca de US$ 52,9 bilhões. 

Outros pontos

Durante a reunião, foram firmadas parcerias ligadas à infraestrutura, indústria, comércio, sustentabilidade, integração latino-americana e defesa. 

Celebrando os cinquenta anos de relações oficiais entre Brasil e China, os presidentes acordaram em diversos pontos tanto das relações bilaterais, quanto da política internacional como um todo. Por exemplo, Xi Jinping e Lula reconhecem o papel fundamental da Organização das Nações Unidas (ONU) para a manutenção da paz mundial, entretanto, reconhecem a “necessidade de reformar a ONU e seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-los mais representativos e democráticos”. Para eles, a governança global deve ser feita “com base no multilateralismo, no direito internacional e nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas”.

Em coletiva de imprensa, após a reunião desta quarta-feira, 20, o líder chinês disse que: “Vamos aprofundar a cooperação em áreas prioritárias como economia, comércio, finanças, ciência e tecnologia, infraestrutura e proteção ambiental. E reforçar a cooperação em áreas emergentes como transição energética, economia digital, inteligência artificial e mineração verde”.

Durante o encontro, o governo chinês elogiou a atuação do Brasil na presidência rotativa do G20, principalmente na “inclusão social e o combate à fome e à pobreza, as transições energéticas e a promoção do desenvolvimento sustentável, a reforma das instituições de governança global”. Na sequência, o presidente chinês reforçou sua participação na aliança global contra a fome, movida por Lula. 

“As partes salientaram igualmente que continua a ser imperativo erradicar a pobreza em todas as suas formas e dimensões, reduzir as desigualdades e promover o desenvolvimento sustentável para todos”, destaca-se. 

Além disso, deste encontro surgiu o entendimento de que o Brasil enxerga a existência de uma única China, compreendendo a ilha de Taiwan como parte deste país. “A parte brasileira apoia os esforços da China para realizar a reunificação nacional pacífica”, resumiram.  

Para ler publicação do Itamaraty com os acordos firmados, é só clicar aqui.

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