Deputados goianos repercutem fala de Arthur Lira sobre Orçamento, “tem que defender o parlamento”

A cruzada do presidente da Câmara dos Deputados e líder do centrão rumo ao orçamento brasileiro foi travada, no retorno das atividades legislativas, com ameaças e recados ao governo do presidente Lula (PT). Arthur Lira (PP-AL) pediu respeito aos compromissos com “a palavra dada” e disse que os recursos da União “pertencem a todos, não apenas ao Executivo”.

Durante a sessão de retorno das atividades legislativas, Lira pressionou o governo por uma fatia maior do Orçamento. “Não fomos eleitos para sermos carimbadores”, disse. Ele destacou que os deputados têm o conhecimento das necessidades diárias da população, ao contrário dos técnicos do governo. Lira rompeu Alexandre Padilha (PT), ministro das Relações Institucionais, e, segundo aliados do presidente da Câmara, “não há mais diálogo entre eles”.

“O Orçamento é de todos os brasileiros e brasileiras, não é e nem pode ser de autoria exclusiva do Poder Executivo e muito menos de uma burocracia técnica que, apesar do seu preparo, não foi eleita para escolher as prioridades da nação e não gasta a sola do sapato percorrendo os pequenos municípios brasileiros como nós parlamentares”, disse.

O deputado goiano e vice-líder do governo na Câmara, José Nelto (PP), diz que como presidente da Câmara, Lira “tem que defender o parlamento”. Ele conta, no entanto, que a força adquirida nos últimos anos pelo Poder Legislativo, criou uma distorção que é usada para pressionar governantes. “Estamos vivendo um modelo semipresidencialista que começou com Bolsonaro que entregou o orçamento na mão do Congresso”, avalia.

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Padilha ainda é alvo

Para Nelto, a escolha de Rui Costa para assumir a linha de frente das articulações do governo com a Câmara dos Deputados servirá para “diminuir a tensão”. “Não adianta só cobrar do Padilha, ele não é o culpado. O culpado é o governo, o Padilha é só o secretário”, disse.

O deputado do PT, Rubens Otoni, disse que Lira terá que fazer um ajuste no diálogo com o Governo Federal para ter “um encaminhamento adequado das demandas tanto do governo quanto do legislativo”. “Vi com naturalidade, ele fez um discurso direcionado para agradar os deputados. Evidentemente que na vida real, vai ter que reajustar”.

Sobre Padilha, Otoni lembra que o governo Lula manteve ele na dianteira das articulações políticas com o Congresso e que ele “continua na linha de frente das negociações”. “Claro que nem todas as articulações atendem as expectativas dos parlamentares, isso é natural. O ministro Padilha tem habilidade e é adequado para o papel, inclusive faz parte do parlamento”, pontua.

O deputado Glaustin da Fokus (Podemos) diz que os “ânimos” alterados se dão pelo descumprimento em relação à emendas para os municípios. “O governo do Lula está perdido, até em relação a desorganização mesmo. O governo federal vai entender que tem que respeitar o parlamento, tem muitas pendências e quem está próximo a essas cidades são os deputados”, avalia.

Ele fez coro ao presidente da Câmara nas críticas a Padilha. “Está tendo dificuldade e o governo deveria ter tirado ele desse assunto já que não cumpre com a palavra”, disse.

PSB deixa bloco de Lira e troca líder

O PSB apresentou um pedido para deixar o bloco de partidos que compõem o grupo liderado por Arthur Lira. A justificativa dada pelo novo líder da legenda na Câmara, Gervásio Maia, da Paraíba, é que o partido teria pouco espaço para falas no Plenário e apresentações de destaque nas votações. o sinal, no entanto, foi entendido por outros parlamentares como como insatisfação do governo com Lira e aliados.

Antes de deixar o bloco, o PSB já havia trocado o líder da sigla na Câmara. O antecessor, Felipe Carreras (Pernambuco), era visto como muito alinhado ao presidente da Câmara. O PSB contribuiu para a primeira derrota do governo na Câmara. Carreras liberou a bancada na sessão que derrubou o veto de Lula para revisar o marco do saneamento, além de votar contra o governo.

Insatisfações

O Jornal Opção mostrou, ao longo da semana passada, que o bloco estava insatisfeito com o governo e o principal alvo era o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT). José Nelto fez coro às cobranças de Lira e citou acordos não cumpridos.

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Nelto, assim como outros aliados de Lira, acreditam que o litígio só será contornado com Lula atuando diretamente na articulação política com o Congresso. Os parlamentares do Centrão inclusive pediram a saída de Padilha da pasta, mas contrariando os congressistas, Lula manteve o ministro e escalou Rui Costa, da Casa Civil, para assumir a linha de frente da articulação que, tradicionalmente, é feita pela Casa Civil.

A batalha campal ganhou forma após Lula vetar mais de R$ 5 bilhões em emendas parlamentares na sanção do Lei Orçamentária Anual (LOA) 2024. O governo citou a meta de déficit fiscal zero em 2024 e convidou os parlamentares para colocarem suas emendas no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Outro goiano que lidera as articulações do governo no Parlamento, o senador Jorge Kajuru (PSB), disse não acreditar que Lula terá dificuldade em aprovar matérias. Uma das pautas caras para o senador, no entanto, é a reoneração da Folha de Pagamento. Porém, Kajuru acredita que o governo pode ceder. Na semana passada, empresários goianos se reuniram no Ministério da Fazenda através da articulação do senador para discutir medidas alternativas à proposta.

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