Pesquisador da UFG é destaque na excelência da pesquisa odontológica goiana

A pesquisa odontológica brasileira ocupa uma posição de destaque no cenário mundial, combinando excelência científica, inovação tecnológica e impacto social. Um dos expoentes desse reconhecimento é o doutor Carlos Estrela, cirurgião-dentista, professor e pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), reconhecido como um dos nove professores mais influentes do Brasil na área científica, de acordo com estudo da Universidade Stanford em colaboração com a editora Elsevier.

A lista, que destaca cientistas com relevância global, revela a força do trabalho desenvolvido na UFG e o impacto de suas pesquisas. Em entrevista ao Jornal Opção, Carlos Estrela detalhou a trajetória de quatro décadas dedicadas ao avanço da odontologia, enfatizando a importância da formação acadêmica, das parcerias institucionais e da persistência no desenvolvimento científico.

Trajetória acadêmica e profissional

Carlos Estrela se formou em graduação na área de Odontologia no ano de 1983, e prosseguiu em busca de uma pós-graduação em nível de Mestrado na Universidade Federal de Pelotas (1990) (UFPEL), Doutorado e Livre-docência na Universidade de São Paulo (1994, 1997) (USP). O pesquisador também finalizou recentemente outra pós-graduação (MBA em Gestão de Pessoas, 2021/2023, (USP/Esalq). Segundo ele, essa base foi determinante para moldar sua visão científica. “Tive mentores maravilhosos. Um deles me disse: ‘O endereço de um pesquisador é o laboratório, e o produto deve ser uma pesquisa que impacta na melhora da qualidade de vida humana’”, ressaltou.

Após concluir o doutorado na USP, em 1993, Estrela aceitou um convite para ser professor visitante na UFG, onde iniciou o trabalho que viria a transformar o cenário da pesquisa na instituição. Ele relembra os desafios do início: “Não foi fácil estruturar o laboratório. Faltavam recursos de infraestrutura, financeiros e humanos. Mas montamos uma equipe maravilhosa que serve de exemplo para o Brasil. Não somos apenas colegas de trabalho, somos amigos.”

Laboratório pioneiro e impacto das pesquisas

O professor enfatizou a criação de um laboratório de pesquisa multidisciplinar na UFG, que contribuiu significativamente para o avanço de áreas como odontologia e medicina. Suas pesquisas incluem o desenvolvimento de materiais odontológicos e a aplicação de um sofisticado software de tomografia computadorizada de feixe cônico. Esses estudos têm permitido avanços em diagnósticos clínicos, tomadas de decisões e na previsibilidade de tratamentos.

“Trabalhamos para responder problemas clínicos do dia a dia. Hoje, nossos estudos contribuem para identificar doenças precocemente, melhorar diagnósticos e minimizar a evolução de algumas condições. É um grande avanço para a ciência”, explicou.

Desde o final dos anos 1990, sua equipe publicou 15 livros clínicos usados como referência no Brasil e em outros países. Esses materiais consolidaram sua rede de contatos com universidades e instituições científicas da Europa, Estados Unidos, Canadá, México e Austrália.

A participação em redes de colaboração é outro aspecto que define a trajetória de Estrela. Ele ressaltou a importância da divulgação científica baseada em evidência de boa procedência e participação em congressos nacionais e internacionais. “A interação com outros pesquisadores e laboratórios de pesquisas é indispensável para o avanço científico. Esses contatos constroem um network que promove novas ideias e parcerias,” disse.

Recentemente, Estrela apresentou os resultados de suas pesquisas em um curso no renomado Hospital Albert Einstein, na Filadélfia, destacando o alcance internacional do trabalho realizado na UFG.

Conexão entre saúde bucal e saúde geral

A atuação de Estrela é focada em pesquisas aplicadas, especialmente na área de infecções dentárias e sua relação com a saúde sistêmica. Ele explicou que a presença de infecções no canal radicular e na área periapical pode acarretar sérias consequências à saúde geral.

“Evitar infecções dentárias é fundamental para prevenir problemas sistêmicos. Nosso trabalho está conectado com essa premissa e visa promover a saúde integral”, explicou o pesquisador.

Carlos Estrela faz pesquisas inovadoras com tecnologias digitais na UFG | Foto: Tathyane Melo/ Jornal Opção

Além disso, o uso de biomateriais em restauração dentária foi destacado como uma área de pesquisa promissora na UFG. A combinação entre novas tecnologias, diagnóstico por imagem e materiais odontológicos integra as iniciativas conduzidas pela equipe liderada por Estrela.

Atendimento e ensino integrados na UFG

Além da pesquisa, Carlos Estrela permanece ativo no atendimento clínico na UFG, acompanhando tanto alunos de graduação, pós-graduação, quanto pacientes. A Universidade dispõe de serviços de urgência odontológica diários e atendimento regulado durante a semana.

“Estamos envolvidos diretamente na prática clínica, além do ensino e da pesquisa. Isso reforça nossa abordagem aplicada, onde a teoria e a prática caminham lado a lado para formar profissionais capacitados e promover impacto positivo na sociedade”, concluiu.

Inovação: da tomografia computadorizada à inteligência artificial, aos materiais bioativos

Um dos marcos do trabalho da equipe liderada por Carlos Estrela é o uso da tomografia computadorizada de feixe cônico associada à inteligência artificial (IA). Um dos objetivos é melhorar a qualidade das imagens, reduzir artefatos que podem induzir erros no diagnóstico, garantindo maior precisão nos tratamentos. “Um dos trabalhos está na redução dos artefatos que levam a diagnósticos equivocados”, afirmou.

Esse avanço foi possível graças ao desenvolvimento de algoritmos específicos para processamento de imagens, desenvolvido pelo Prof. Dr. Mike Bueno, especialista em softwares e fotografia, com quem o Prof. Estrela mantém colaboração há mais de 30 anos. A inovação integra o software e-Vol DX (CDT software). “Em 2018, foi publicado o desenvolvimento do artigo pioneiro sobre o software e-Vol DX, que utiliza IA para melhorar a qualidade das imagens tomográficas, reduzir os artefatos, permitir maior confiança ao profissional, maior previsibilidade nos resultados dos tratamentos odontológicos, incluindo a renderização cinematográfica nas imagens de tomografias de feixe cônico (de aplicação em odontologia)”, conta Estrela.

Artigos científicos com uso de IA na UFG | Foto: Tathyane Melo/ Jornal Opção

O grupo de pesquisa do professor Carlos também se destaca por ser um dos pioneiros no uso de IA na odontologia. Eles começaram a adotar essa tecnologia há mais de sete anos, revolucionando o diagnóstico por imagem e a digitalização de processos. A IA é ajustada para atender às especificidades da área odontológica, automatizando tarefas como o aprimoramento e efetividade no diagnóstico.

“Para o paciente, este fato significa um ganho de tempo, enquanto o profissional pode contar com uma direção mais assertiva, aumentando a previsibilidade do tratamento”, explicou Carlos.

Um dos estudos pioneiros nesta linha de investigação foi premiada em primeiro lugar no maior evento da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica em 2019, em que foi demonstrado o potencial do software e-Vol DX na redução de artefato metálico de contraste do branco.

Outra linha de investigação do Prof. Estrela, que também tem influenciado as citações nas análises bibliométricas dos jornais científicos internacionais é a discussão dos mecanismos de ações antibacterianos e mineralizadores (bioativos) de materiais odontológicos.   

Valorização da equipe e parcerias

O pesquisador reconheceu o papel central de sua equipe nos resultados alcançados: “Os professores Daniel Decúrcio, Júlio Silva, Patrícia Siqueira, Giuliano Serpa, foram meus alunos e hoje integram o corpo docente de nossa disciplina. A Profa. Ana Helena G Alencar, docente aposentada, também contribui expressivamente desta equipe. Trabalhamos de forma integrada, e isso faz toda a diferença.”

Ele também destacou a importância de vários pesquisadores que tem contribuído em suas pesquisas e nos diferentes livros didáticos pertencentes a Instituições de ensino de todo o Brasil e do exterior. Têm sido importante o apoio das parcerias que fomentam pesquisas, como as agências do CNPq, Capes e fundações de amparo à pesquisa, além do apoio da iniciativa privada.

Professores formados por pesquisador integram agora corpo docente de disciplina | Foto: Tathyane Melo/ Jornal Opção

Segundo Estrela, persistir foi fundamental para conquistar financiamentos essenciais para a consolidação do laboratório. “No Brasil, você precisa insistir. Não é na primeira tentativa que se consegue. Buscar recursos onde eles estão disponíveis é indispensável para dar suporte às pesquisas”, afirmou.

Educação e hábito de leitura: pilares para a pesquisa

Durante a entrevista, Estrela destacou o papel do hábito de leitura na formação acadêmica e científica. “Minha mãe era professora, e desde cedo fui incentivado a ler. Isso faz parte do nosso cotidiano. A leitura deve pertencer ao hábito da vida. Para ser um pesquisador diferenciado, você precisa ler muito e gostar muito do que faz”, enfatizou.

O professor também promove a leitura entre seus alunos, defendendo que uma formação sólida começa com a capacidade de interpretar textos e ampliar horizontes culturais. Esse hábito tem sido uma marca distintiva dos alunos que participam de suas pesquisas e publicações.

Outro ponto crucial destacado por Carlos Estrela foi o compromisso com a formação de novas gerações de profissionais e pesquisadores. Por meio de orientação acadêmica nos programas de graduação e pós-graduação, ele tem desempenhado um papel fundamental na capacitação de mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos.

“Nosso objetivo é formar pesquisadores que sejam capazes de gerar conhecimento aplicado e impactante. Trabalhamos com projetos aplicados, como o TID [Tratamento de Infecções Dentárias], para possibilitar capacitações com aplicação direta entre a teoria e a prática”, enfatizou.

Reconhecimento global e legado na UFG

O impacto do trabalho de Carlos Estrela vai além dos laboratórios. Ele destacou que a presença de seu nome na lista de pesquisadores influentes é fruto de um esforço coletivo. “Não foi meu nome que entrou na lista, foi o nome da equipe da Endodontia da UFG. Isso mostra que a sociedade está percebendo o esforço e o valor do que é feito aqui”.

A valorização do serviço público também foi mencionada como um retorno necessário para a sociedade. “Trabalhamos para que as pessoas entendam que o investimento em ciência é um investimento em qualidade de vida. Essa percepção é crucial para o avanço do país”, pontuou.

Estrela destacou ainda que a Odontologia Brasileira é reconhecida como uma das melhores do mundo. “Hoje, a Odontologia Brasileira tem uma evolução muito grande e é respeitada mundialmente”, afirmou. Segundo ele, o Brasil é um dos líderes na produção científica de qualidade no campo odontológico, resultado de um comprometimento com a pesquisa aplicada e da expertise dos profissionais do país. “A Odontologia Brasileira é um exemplo, e seu reconhecimento global confirma isso”, acrescentou. Ele destaca ainda como muitos pesquisadores sérios têm se dedicado a disseminar mundialmente conhecimento qualificado.

Inspiração para o futuro

Com mais de 40 anos dedicados à ciência, Estrela reflete sobre os desafios e as conquistas de sua carreira: “Gostamos do que fazemos, e isso é fundamental. A conexão entre a ambiência da equipe e a persistência no trabalho é o que nos trouxe até aqui.”

Além disso, uma das chaves para o sucesso do trabalho de Estrela é a colaboração multidisciplinar. Ele compara esse esforço ao modelo de corrida de revezamento de 4X100 metros, onde cada integrante contribui para a continuidade do progresso científico. “Preparo os orientados para se tornarem parceiros de pesquisa. Isso mantém viva a chama da inovação e garante que cada geração leve adiante a construção do conhecimento”, afirmou.

Já sobre o futuro da Odontologia Brasileira, Estrela reafirmou a necessidade de investimentos estruturados e gestão eficiente dos recursos nos diferentes níveis da ciência. Ele acredita que, com uma aplicação estratégica dos recursos, o Brasil poderá manter seu protagonismo no campo odontológico. “O incremento da carreira na Odontologia está alinhado com a permanente educação e evolução científica e tecnológica, a valorização das competências humanas e sua aplicação para a melhoria da qualidade de vida humana da sociedade,” concluiu.

Suas pesquisas continuam a influenciar o cenário científico nacional e internacional, sendo exemplo de como a dedicação pode transformar ideias em resultados concretos. O laboratório da UFG, que começou com recursos limitados, hoje é referência no Brasil e no mundo, consolidando-se como um modelo de excelência acadêmica e inovação científica.

Leia também:

Pesquisador da UFG se destaca na ciência global com descobertas sobre fungos

Carolina Horta inspira como a única mulher da UFG na lista de pesquisadores mais influentes do mundo

O post Pesquisador da UFG é destaque na excelência da pesquisa odontológica goiana apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.