A alma dos americanos e o reflexo das eleições estadunidenses

Não faltaram análises calorosas a respeito do resultado das eleições americanas, logo após conhecidos os resultados. Dar um tempo para esfriar os ânimos, dar uma distância do fato, foi o que fizemos, ajuda a ter uma melhor perspectiva. Vamos aos fatos.

Os eleitores americanos foram expostos a escolher entre dois personagens com visões divergentes de mundo. Os candidatos, em si, não ofereciam nada de especial. Trump não é um modelo de bom-caratismo e Kamala, de lucidez.

Ele tem um histórico de vida empresarial eivada de eventos poucos louváveis, uma personalidade arrogante e narcisista. Já ela tem uma carreira profissional, inclusive uma vice-presidência e candidatura à presidência, toda devida a lances de sorte e não de competência. Foi uma escolha difícil para os eleitores americanos e para o resto do mundo que acompanhou as eleições. A vitória maior foi do partido Republicano, que venceu a Presidência, o Senado e a Câmara dos Deputados.

Como candidato, o vencedor não foi Trump, e nem a derrotada foi Kamala. Ainda que não se possa isolar os personagens do enredo, mas o divisor das escolhas do eleitor foi um cultural. Esta foi uma eleição de opções de vida.

Os americanos escolheram entre um candidato identificado com os valores conservadores (da direita) e outro, dos progressistas (da esquerda), na maneira como estas classificações são entendidas. Os grandes derrotados foram os socialistas defensores do Welfare State, representados pela Kamala. David Brooks, a respeito da derrota dos Democratas, escreveu no NY Times: “O governo (Democrata) Biden (Kamala) tentou cortejar a classe trabalhadora com subsídios e estímulos, mas não há solução econômica para o que é principalmente uma crise de respeito.” Acrescento eu, uma violência aos valores conservadores da sociedade.

Nesta eleição, os eleitores manifestaram o desejo de não abrir mão dos valores que fizeram próspera a nação americana. O amor à liberdade individual, o prêmio ao mérito, a consciência da responsabilidade… São valores que estavam adormecidos, mas vivos no DNA da nação.

Os derrotados, socialistas, defensores da primazia do governo sobre os indivíduos, como é natural, ficaram frustrados com a derrota . Os conservadores ficaram realizados com os resultados. Os liberais, ainda que relativamente satisfeitos, têm restrições ao vencedor Trump. Os conservadores estão realizados, acreditam que os valores tradicionais estão salvos, mas os liberais — ainda que tenham votado no Trump e comunguem de muitas das crenças dos conservadores— nem tanto.

Aos liberais, o primado do indivíduo com o respeito à sua liberdade é fundamental. Entre as ideias liberais está a economia de mercado como única alavanca para o desenvolvimento. E o eleitor americano reconhece ser o capitalismo a causa da sua prosperidade.

Com Trump, o capitalismo, como ideário econômico, está ameaçado. Para os seus defensores as distorções de mercado devem ser resolvidas com mais liberdade e não com menos — como propõe o vencedor com as suas ideias de administrar as deficiências da economia com barreiras tarifárias. Trump, com isto, retrocede ao British mercantilismo sistema do século dezoito contra o qual a Revolução Americana lutou para libertar-se.

Os eleitores não deram ouvidos ao argumento usado pelos democratas, como sendo o candidato republicano uma ameaça à democracia. As instituições americanas têm tradição de previsibilidade. São estáveis e sólidas historicamente.

Para os eleitores de Trump, ameaçada sim estava a vida americana com a vitória de uma candidata reconhecidamente de ideias socialistas e deficiente lucidez. Durante a campanha presidencial, em vídeo mostrando o Trump servindo clientes no MacDonalds, uma brasileira pede ao candidato Trump que a atendia com emocionada ênfase: “Trump, por favor, não deixe os Estados Unidos virar um Brasil!”.

Essa brasileira verbalizou o sentimento dos imigrantes brasileiros e latinos que trocaram a cultura populista-socialista pela americana, onde a supremacia do indivíduo se sobrepõe ao governo. Kamala, ainda que possa ter um carácter menos condenável, perdeu a eleição por apostar nas ideias superadas, ultrapassadas da esquerda.

Esta foi, sem dúvidas, uma escolha ideológica. As ideias socialistas não convencem de saída a elite intelectualizada e nem de chegada a massa pragmática. Estas querem resultados que as políticas socialistas prometem e não entregam…nem no curto e menos ainda no longo prazo. Esta foi uma eleição de uma cultura que nasceu com os Founders Fathers of America, em que o respeito à liberdade individual faz parte da alma dos americanos.

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