As Memórias do Livro — Manuscrito de Sarajevo, de Geraldine Brooks, é um romance fascinante

Mariza Santana

É possível um antigo manuscrito judaico, com misteriosas iluminuras medievais que sobreviveu a mais de cinco séculos de perseguição antissemitas, ser o tema central de um romance histórico envolvente? A resposta é sim. A obra literária “As Memórias do Livro — Manuscrito de Sarajevo” (Ediouro, 528 páginas, tradução de Marcos Malvezzi Leal), da escritora australiana Geraldine Brooks, confirma a resposta positiva acima.

A protagonista do romance é a australiana Hanna Heath, especialista em conservação de livros, que é convidada a estudar a Hagadá de Sarajevo, um antigo manuscrito religioso judaico que ficou escondido por décadas, protegido do antissemitismo e das guerras que afetaram a região dos Balcãs e o museu onde estava guardado, na capital da Bósnia. Para saber mais sobre o documento histórico, a profissional tem algumas pequenas pistas, como um pequeno pedaço de uma asa de borboleta, uma mancha de vinho e outra de sangue, além de sinais de sal.

Neste desafio, Hanna vai se envolver com o diretor do museu de Sarajevo, um bósnio muçulmano, e pedir a ajuda de um antigo mestre. Seu relacionamento difícil com a mãe, uma neurocirurgiã de sucesso em Sidney, na Austrália, também contribui para contar um pouco mais sobre a protagonista. Mas, à medida que as pequenas pistas do manuscrito vão sendo apresentadas, o relato vai recuando no tempo e apresenta novos personagens que estiveram ligados ao manuscrito — salvando-o da destruição pelos nazistas ou da perseguição aos judeus após a expulsão deles da Península Ibérica pelos reis católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão.

Os capítulos vão se alternando, entre o trabalho de pesquisa da conservadora de livros nos tempos atuais e recuando no tempo, mostrando seu processo de encadernação, as escritas judaicas e o trabalho das ilustrações, algo que não era comum em um livro religioso dos judeus. O resultado é que o manuscrito é fruto de pessoas das chamadas religiões do livro: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. “As Memórias do Livro” é uma obra literária fascinante, com várias referências históricas e personagens memoráveis. O desfecho aborda a questão do furto de manuscritos históricos por questões políticas e religiosas.

Geraldine Brooks nasceu em Sidney, na Austrália, e tem 69 anos de idade. É formada em Jornalismo pela Universidade de Sidney e tem mestrado pela Universidade de Columbia, de Nova York. Venceu o prêmio Pulitzer de Ficção em 2006. A obra “As Memórias do livro” foi publicada em 2008. A escritora se inspirou em reportagens realizadas para o “The Wall Street Journal” para elaborar o romance histórico.

Mariza Santana é jornalista e crítica literária. Email: [email protected]

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