Klebber Formiga: “30% dos municípios do Estado não têm estrutura de drenagem. ‘Planejamento’ é esperar as cheias, para depois atuar”

Engenheiro civil, mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e doutor em Hidráulica e Saneamento, o professor da Universidade Federal de Goiás, Klebber Formiga, é o coordenador-geral e uma das principais cabeças por trás do Plano Diretor de Drenagem Urbana de Goiânia, projeto que tem como objetivo prevenir alagamentos e auxiliar na segurança da população e das infraestruturas urbanas. Apesar de ainda não ter sido efetivamente implementado na capital, o instrumento, conforme revelado por Formiga, já tem seus pilares de estudo usados por por diferentes órgãos e pastas do Município, principalmente no que se refere às causas de prejuízos na cidade.

O professor destaca falhas no sistema de drenagem de Goiânia, que vão desde a falta de dados específicos sobre os sistemas de microdrenagem até erros do Poder Público e dos profissionais de engenharia ao lidar com a questão. Para Formiga, o problema engloba até mesmo as faculdades que formam, hoje, engenheiros da área. Conforme o professor, são poucas as instituições em Goiás, e no País, que oferecem o preparo técnico e teórico necessário para a solução de problemas dos sistemas urbanos de drenagem – situação que reflete, diretamente, no cotidiano da população.

Italo Wolff – Como o senhor vê o período de chuvas que estamos enfrentando? Está irregular? Há fenômenos exercendo impacto?

No final do mês de setembro, começo de outubro, começou a chover bem. Em novembro choveu e dezembro também choveu bem. Houve uma pausa, por causa de um fenômeno que chamamos de veranico, caracterizado por um período de estiagem, com forte insolação, baixa umidade relativa e calor intenso, mas depois, voltou a chover.

É normal e esperado que chova. Temos alunos de iniciação científica da universidade que pesquisam sobre os padrões pluviais. Assim, conseguimos saber se o nível das chuvas está aumentando, se está diminuindo. Mas, até o momento, não há alteração. As chuvas continuam as mesmas, a cidade é que vai mudando e vai, de certo modo, piorando.

O processo de crescimento da cidade faz com que uma área que era verde e preservada seja substituída. A partir do momento que você começa a substituir esse tipo de solo, o uso do solo, como chamamos, por casa, asfalto e etc., você vai ter claramente um aumento de vazão [da água da chuva]. Isso é padrão: quando você aumenta a vazão, começam a surgir os problemas, entre eles a erosão.

Os córregos que consideramos consolidados já estão no limite, foram todos erodidos e ainda temos processos de erosão ocorrendo.

Ton Paulo – E dentro do plano de drenagem, o que pode ser feito quanto a isso?

Um dos pontos é que, nos locais onde houver expansão urbana, os córregos não passem por esse processo de erosão. Precisamos pensar no problema futuro, pois o plano de drenagem se faz pensando no futuro. Goiânia vai continuar crescendo, com previsão da Região Metropolitana chegar a quase 3 milhões de habitantes. E esse crescimento não pode trazer mais problemas do que já temos hoje.

Então, o plano basicamente faz essa questão de planejamento. E planejamento não envolve só obras, isso é uma parte dele. A cidade é estudada como um todo, cada bacia é estudada como um todo. O que se faz no ponto de uma bacia interfere no outro ponto, lá na frente.

Precisamos ter noção de que drenagem é um serviço de saneamento. Por exemplo, quem provoca aquela inundação que ocorre naquele ou no outro ponto específico? Somos nós. Minha casa, quando impermeabilizo toda a área externa, está gerando escoamento que está chegando na rua. Esse escoamento vai se acumular em um determinado ponto. Logo, o serviço de drenagem é feito para mim, para o cidadão. Todas essas obras, sejam galerias, bocas de lobo, etc., são feitas para pegar a minha água, que eu estou produzindo na minha casa. Quem provoca as cheias somos nós.

O “nós” é minha casa, é a rua por onde eu passo, é o estacionamento onde está meu carro, que é um local impermeável e que está gerando escoamento. Uma característica da drenagem nesse aspecto, diferente dos outros serviços, é que se você não fizer nada, ela vai funcionar da mesma forma, mas de um jeito que não queremos. Provocando inundação, erosão, abrindo buraco em rua. Mas a água vai sempre escoar do ponto mais alto para o ponto mais baixo. O serviço de drenagem quer fazer isso de um modo menos impactante.

Entrevista com Klebber Formiga. Foto: Gulherme Alves/ Jornal Opção

Guilherme de Andrade – E por que, na visão do senhor, não há a sensação, por parte da população, de resultados do sistema de drenagem? Por que não costumamos nos lembrar da importância disso?

A drenagem é o patinho feio que ninguém sente falta, ninguém quer saber porque a obra é enterrada. Se você fizer um serviço de drenagem perfeito, ninguém vai sentir falta, porque está tudo funcionando. É preciso fazer uma coisa para que a população não sinta falta dela. Nós temos um sistema chamado SNIS, que é o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, que começou com os dados de água e esgoto, em 2008. Os dados quanto à drenagem só passaram a ser coletados em 2017, e esses só foram publicados quase em 2019. Por que? Porque você pergunta para as prefeituras, dados específicos sobre drenagem, e elas não sabem nem o que é.

No estado de Goiás, por exemplo, mais de 30% das cidades não têm nenhuma estrutura de drenagem. Porque a nosso ‘planejamento’ de drenagem, não só em Goiânia, Goiás, mas no Brasil, é esperar a cheia, a inundação, esperar o problema para, a partir daí, atuar.

A drenagem é o patinho feio que ninguém sente falta, ninguém quer saber porque a obra é enterrada

Italo Wolff – Quando o senhor diz que não tem nenhuma estrutura de drenagem em algumas cidades, é quando não se tem nem bocas de lobo?

Nem bocas de lobo. É só a rua. Em Goiânia, uma parte significativa das ruas não tem boca de lobo, e ruas importantes. No setor Bueno, por exemplo, e outros como Jardim América, Nova Suíça. Quando foram fazer o sistema de drenagem, aparentemente não havia verba suficiente, então o que fizeram? Rua sim, rua não [com sistema de drenagem], literalmente.

A primeira boca de lobo da avenida 85 foi aberta na região do campo do Goiás. Quando foram construir o viaduto, perceberam a falha na questão da drenagem, o engenheiro questionou “Para onde vai a água” da chuva? Então, tiveram que fazer uma obra de drenagem emergencial. Você pode reparar que existem inúmeras bocas de lobo ali, naquela região.

Ton Paulo – O senhor mencionou que não são somente as obras que fazem parte do planejamento. Quais as outras medidas que podem ser adotadas na questão de drenagem?

Quando se entende que drenagem é um serviço, tenho que atuar com o contratante, com quem está demandando o serviço. A residência, o comércio, a indústria. Em Goiânia temos grandes geradores de escoamento. O Estádio Serra Dourada, por exemplo, é um grande gerador de escoamento. Mas a sua casa, seu prédio também terá geração de escoamento forte. Então, à medida que eu mando menos água para a rua, eu reduzo a vazão da água e melhoro, de certo modo, o problema. Mas a melhora é parcial.

Contudo, precisamos de várias medidas que façam com que essa vazão da água para a rua diminua. Só a casa vai resolver? Não. O pessoal costuma dizer “Vamos plantar jardins de inverno”. Isso resolve muito pouco do problema. Boa parte dessas medidas é o que chamamos de técnicas compensatórias. Elas funcionam para uma parte significativa das chuvas, mas para chuvas mais fortes, não. Porque o volume de água gerado é muito grande. É preciso uma integração dentro da cidade, com atuação nas casas, na rua, nos córregos, para reduzir o problema.

Italo Wolff – Goiânia já possui uma porcentagem obrigatória, nas casas, de área permeável, correto?

Isso, de 15% a 30%. Mas as pessoas não praticam. Costumam cimentar tudo. Ou às vezes, quando são obras maiores, impermeabilizam tudo e fazem uma compensação em outro local. Dentro disso, estamos fazendo novos planejamentos.

Entrevista com Klebber Formiga. Foto: Gulherme Alves/ Jornal Opção

Italo Wolff – O plano, em geral, evita essas más práticas. Quais são as medidas para a retenção de águas em pontos específicos? Estamos falando de grandes obras na cidade?

Começamos a partir de obras nos lotes, mas não conseguimos fazer nos locais antigos. Então, estamos analisando as opções. Imagino que para as grandes áreas há a possibilidade de moratória, em que a pessoa tem, por exemplo, cinco, 10 anos para implementar as áreas permeáveis em seu local. Já para os locais novos, é obrigatório. E quem for fazer renovações ou pedir autorizações na Prefeitura, tem que fazer essas alterações.

Uma forma com que algumas cidades estão lidando com a questão, mas aí é uma questão mais política, é com a inclusão da [taxa de] drenagem no IPTU. Então, o cidadão passa a pagar no IPTU pela educação, segurança, pelo lixo e pelo serviço de drenagem.

Ton Paulo – E parece haver um déficit no ensino superior das engenharias na questão da drenagem, correto?

Sim, é um problema da engenharia. As escolas de engenharia quase não têm mais preparo para drenagem. A única escola de engenharia em Goiânia que conta com o ensino obrigatório de drenagem é o curso de engenharia ambiental da Universidade Federal de Goiás. Já na engenharia civil, ele é optativo. Algumas outras instituições, como o Instituto Federal, também têm. Nas outras, os cursos não tem drenagem urbana. No Brasil, a situação é parecida.

Goiânia foi uma das últimas capitais a ter esse plano de drenagem. Temos algumas cidades que já estão no terceiro, nós estamos agora no primeiro

Se você olhar, por exemplo, a UnB, Universidade de Brasília: a drenagem urbana está como uma optativa da optativa dentro da outra disciplina. Nós discutimos isso nos nossos fóruns de professores. Não estamos tratando drenagem nas escolas. O pessoal, na hora de fazer o plano de drenagem, cruza os dedos para não dar problema, porque se você analisar, verá que 90% das obras nessa área tem problemas sérios de dimensionamento.

Italo Wolff – O senhor diz que o plano diretor de drenagem de Goiânia é pioneiro em alguns aspectos. Quantas cidades, aproximadamente, têm um plano de drenagem?

Goiânia foi uma das últimas capitais a ter esse plano. Temos algumas cidades que já estão no terceiro, nós estamos agora no primeiro. Quando o plano é feito, faz-se, depois, o acompanhamento e as correções. Dez anos depois de implementado, normalmente, é preciso reavaliar e fazer as correções. E são planejamentos contínuos.

Os primeiros planos não tinham, vamos dizer, muita capilaridade e continuidade. Hoje em dia, já temos mais.

Italo Wolff – E como está o processo de elaboração do plano diretor de drenagem de Goiânia e quanto falta para ele ser, de fato, adotado?

Vai depender um pouco da Prefeitura de Goiânia. Estamos, ainda, em mudança de governo e estamos em diálogo com a nova gestão. Agora vem uma parte que é bem mais participativa do plano. Fazemos o prognóstico, previsões, consideramos cenários, daí precisamos de retorno do Poder Público. Começamos reuniões no ano passado, mas houve uma pausa por conta da mudança de pessoal nas pastas do Município. Neste ano ainda não tivemos nenhuma reunião.

Guilherme de Andrade – Mas os diálogos com a Prefeitura continuam?

Mais ou menos. O pessoal ainda está se atualizando, digamos assim. E isso envolve a Agência de Regulação [AR] e a Secretaria de Infraestrutura. Porque, de novo, a drenagem é um serviço, e quem regula esse serviço de saneamento dentro da cidade é a AR.

O prognóstico, com os últimos feedbacks que tivemos nas reuniões, devemos apresentar agora, no final do mês, para fazer o encaminhamento. Daí, depois, vem o plano de ações, com prazo inicial para meados deste ano. Penso que conseguiremos cumprir.

A gestão anterior queria apressar o plano, mas sabíamos que era difícil. Tentamos, mas sabemos que tem coisas que você faz rápido, e tem coisas que são mais complexas, porque demanda discussão.

Ton Paulo – Mas não há um prazo exato, determinado, para a implementação do plano de drenagem?

Já está sendo implementado. Alguns pontos do plano já são empregados. Vários estudos que fizemos o pessoal da Seinfra já incorporou aos processos da pasta. Os levantamentos já estão lá. Algumas medidas que a gente já discute, eles já implementam diretamente.

Embora o plano esteja em andamento, já está sendo absorvido.

Ton Paulo – O senhor poderia citar quais são esses pontos do plano que estão sendo já absorvidos?

Nós terminamos o diagnóstico, fizemos levantamento da cidade toda, de todos os córregos de Goiânia. Isso conta com uma topografia, um detalhamento que literalmente não tem em nenhuma cidade do Brasil. O nível de detalhamento que temos em topografia, ninguém tem.

Isso já foi colocado em programas de computador para simular onde, em Goiânia, temos pontos de cheia, por exemplo.

Entrevista com Klebber Formiga. Foto: Gulherme Alves/ Jornal Opção

Ton Paulo – Como podemos definir a microdrenagem, e é possível afirmar se Goiânia tem estrutura e informações sobre essa área da drenagem?

Goiânia não tem conhecimento de microdrenagem, nenhum. Microdrenagem é, como exemplo, a boca de lobo que joga a água na galeria, a tubulação que passa no meio da rua e que possui os postos de visita que estão distribuídos na cidade.

Recentemente, os técnicos da Prefeitura fizeram levantamento à parte dos pontos de microdrenagem, pois viram a necessidade disso. Nós chegamos a apresentar um programa de mapeamento dos pontos de microdrenagem, e ele está em uso. Quando a Seinfra faz alguma obra hoje, eles contam com esses dados.

Como tínhamos as cartas de drenagem, com as informações dos pontos de microdrenagem, digitalizamos todas elas, ajustamos, fizemos um levantamento de rua por rua, fizemos os desenhos gerais. Temos as cartas de profundidade, é um quebra-cabeça, um mapa em três dimensões.

Italo Wolff – Essas galerias que o senhor mencionou são interligadas?

Elas foram sendo feitas conforme a cidade foi crescendo. Teoricamente, elas são planejadas. Ela é interligada, mas a rede de drenagem é bem mais isolada do que uma rede de água, por exemplo. A rede de água conta com um setor que a espalha para a cidade.

A rede de drenagem, não. Ela tem os pontos de lançamento. Em Goiânia, se não me engano, são mais de 300 pontos de lançamento, que normalmente acontecem nos córregos.

Nós temos mais de 400 quilômetros de córregos. E são córregos menores. Na parte mais adensada é bem fácil ver os córregos mais conhecidos. Areião, Capim Puba, Serrinha, Caveirinha, Vaca Braba, Botafogo. Esses, a cidade cresce em volta deles. Mas nas regiões mais periféricas temos vários córregos que nem sabemos o nome, mas que são alguns que podem ocasionar inundação.

Ton Paulo – E quais são os pontos de córregos, na capital, que demandam mais atenção?

Temos a Bacia do Cascavel, Bacia do Botafogo. O Macambira, o Anicuns, que é o que pega todos os córregos. O Anicuns é o grande córrego, podemos dizer, em termos de população. Cerca de 70% da população de Goiânia mora na região desse córrego. O córrego Anicuns não tem tanta cheia, mas todos os outros caem nele.

Ainda na questão de drenagem, a de Goiânia é ruim para o padrão ideal. Mas quando comparamos com outros lugares do Brasil, ela é ok. Há lugares piores. São Paulo tem um problema muito maior, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza. São cidades que têm planos de drenagem há mais tempo, mas problemas mais complicados.

Aqui, os morros não são tão ocupados. Não vemos, por exemplo, muitos deslizamentos. Nesse aspecto é um pouco mais tranquilo. Mas temos alguns pontos críticos, mais fortes, que são aqueles que chamamos de “calha”. Como exemplo, a Vila Roriz, na capital. Ela está na ponta do córrego Anicuns. Ali é uma zona de inundação. Tem soluções e soluções para isso, mas tem um custo. A questão é discutir isso.

Guilherme de Andrade – Finalizado, o plano de drenagem será acoplado ao plano diretor da cidade ou será um plano distinto?

É um plano separado. Teoricamente, o plano diretor seria feito em cima dos planos setoriais. Ele interfere no plano diretor. O plano de drenagem vai dar sugestões que pode ser feito.

Guilherme de Andrade – E os problemas que vislumbramos na drenagem, como o senhor disse, não são locais, mas sim nacionais, correto?

Temos um problema no Brasil, porque boa parte do sistema é mal dimensionado. Porque os engenheiros não aprendem nas faculdades de engenharia a fazer drenagem urbana, o fazem sem planejamento. Boa parte das prefeituras e órgãos que fazem as normas também não entendem de drenagem. Falta engenharia.

Nós, aqui na UFG, temos uma formação muito boa. Se olharmos por volta do ano de 2005, quando a universidade só tinha engenharia civil, ela era responsável pela formação de metade dos engenheiros de Goiás. Então, tem-se uma formação sólida. Hoje, nós formamos menos de 10%. Logo, você vai ter formados de todos os tipos. Tem faculdades particulares melhores, tem faculdades não tão boas. Você terá de vários níveis, mas tem algumas com nível bem aquém. Tem faculdade, por exemplo, que o aluno faz on-line, por 200 reais por mês, e de vez em quando faz uma prova.

Entrevista com Klebber Formiga. Foto: Gulherme Alves/ Jornal Opção

Como a gente não tem uma regulamentação geral, estão se formando um monte de pessoas que tem um diploma, tem atribuição, mas não sabe fazer. E nisso, vamos pagar um certo custo na frente. E aqui estou falando da engenharia civil. Quando falamos de drenagem, que, como dito, é o patinho feio, é pior. Muitas vezes temos normas da Prefeitura que, quem faz a norma, não tem noção, não tem informação.

Temos um problema no Brasil, porque boa parte do sistema é mal dimensionado. Porque os engenheiros não aprendem nas faculdades de engenharia a fazer drenagem urbana

Se você olhar nossos livros, dimensionamento de boca de lobo é um assunto que ninguém toca. Então como fazemos? Norma americana. Não temos norma no Brasil. O último livro que tocava nessa questão de formação de boca de lobo é de 1985.

Guilherme de Andrade – Goiânia tem um plano de drenagem que cobria parcialmente a cidade, que é o Macambira-Anicuns. Qual a diferença dele para o que está sendo elaborado?

O plano do Macambira Anicuns foi um plano financiado pelo Banco Mundial para a região do Macambira e pegou o córrego Anicuns. Ele está sendo implementado até hoje, foi um plano importante porque deu o arcabouço do que poderia ser feito. Algumas medidas adequadas, outras nem tanto.

Ele foi feito em 2007, mas foi implementado até 2013. Ele atuou basicamente em proporção de obras e infraestrutura na região do Macambira com isso. Não atuou na parte de legislação, retenção de fontes, nada disso. Ele era basicamente para fazer obras, e boa parte das obras eram pontes. Aumento de pontes, alteração, canalização.

O que a gente muda dentro do nosso plano é a forma de dimensionar, a forma pensar. O primeiro plano lidava com a drenagem de um modo maior, já tinha modelagem, considerava as obras interligadas, mas não tinha o caráter de fazer planejamento. Era basicamente um apanhado de obras para se fazer na região.

Italo Wolff – O plano para Goiânia que está em elaboração, sendo implementado, deve passar quando por uma revisão?

As revisões, geralmente, são feitas a cada 10 anos. Porque se você faz antes, fez o plano errado. A cada 10 anos é um prazo razoável.

E existe um pouco de desinformação nessa parte. A questão da drenagem não se resolve tão rápida e facilmente. Vi, recentemente, o representante de uma cidade dizendo que resolveria esse problema em três anos. Não é assim. Temos cidades que já estão no terceiro plano de drenagem e a impressão é que só piora. Belo Horizonte, por exemplo. Tem um plano relativamente bem construído, mas a cidade sempre tem problemas nessa área. Por quê? Porque a cidade é muito mais complicada que a nossa.

Mas temos problemas complexos aqui também. Há vários fatores que impactam. Para exemplificar: foi feito o asfaltamento de várias ruas de Goiânia. E como eu disse, o primeiro ponto de drenagem da cidade é a rua. E o que eles estão fazendo? Asfaltando por cima do asfalto já existente, reduzindo a vazão das bocas de lobo, devido ao aumento do nível do asfalto. Estão, literalmente, soterrando as bocas de lobo.

Aquela tampa que fica no meio da rua, que são os postos de visita, estão passando o asfalto por cima. Como é que vai fazer a inspeção da rede assim? E estão fazendo a rua plana. Se você faz a rua plana, teremos o escoamento no meio dela. Se tem um escoamento no meio, você vai ter buraco na rua. Tudo isso é interligado. E isso tudo não foi lá da época da gestão do Iris Rezende, foi no ano passado.

O que seria o ideal no caso do asfalto? Fazer o que é feito no mundo: tirar o asfalto anterior e fazer outro, em vez de fazer um por cima. No resto do mundo, você faz uma escavação, tira o asfalto e só depois se coloca o novo. Aqui não, só jogam o asfalto novo em cima do antigo. Daqui a pouco não teremos nem calçada, porque o asfalto estará no nível da calçada.

Guilherme de Andrade – Um material da Defesa Civil, divulgado recentemente, apontou zonas de risco de desastres em Goiânia, como deslizamentos e inundações. A situação deixa os moradores dessas regiões, inclusive, com a possibilidade de terem que desocupar suas casas. Qual é, exatamente, o nível desse risco?

A Defesa Civil está fazendo, na verdade, um plano de risco da cidade contratado pelo governo federal. Esse plano envolve situações um pouco distintas daquelas do nosso planejamento. O nosso inclui toda a área, aquelas que correm risco e aquelas que não correm.

O risco de integridade é risco de morte, literalmente. Em termos de deslizamento, nós temos poucos riscos aqui. Boa parte dos riscos que temos são riscos associados com inundação. Mesmo o risco geológico é normalmente associado com inundação. Por exemplo: na região da Unip, atrás da universidade, passa o córrego Barreiro. Na saída do córrego, tem uma erosão gigante que pegava três residências. Fizeram um gabião para resolver o problema, mas isso entrava como risco geológico. Mas se a erosão continuasse, iria ter deslizamento e a água do córrego pegaria as casas.

Temos riscos secundários que são bem sérios, no córrego Botafogo, Cascavel. Que onde temos uma escavação que pega pista. Ali você não tem uma estrutura. Se tiver um carro ou moto passando, um buraco pode se abrir e o veículo cair dentro dele. Também temos as pontes, que causam boa parte das mortes. É uma estrutura que, em inundações, a água passa por cima. Podem ter casas sem moradores, mas também motoqueiros passando, então há o risco de pessoas nessas estruturas de passagem.

Vila Roriz tem inúmeras famílias, por exemplo. Tem uma região que a água passa literalmente no meio dela. Sobre a urgência de desocupação das áreas de risco que você mencionou, a desocupação é uma possível solução, mas você pode ter outras soluções, soluções de engenharia. Como o dique. Basicamente, se eu estou dentro de uma área de inundação, preciso fazer dique, que é uma estrutura própria para a contenção de água.

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