Lula, Pix, Sidônio, Janja e Nikolas: retrato de um tempo que a direita entende melhor do que a esquerda

A impressão que se tem é que o governo de Lula da Silva, do PT, é o primeiro a chegar atrasado.

Se o governo petista — na verdade, a gestão é de uma frente política, que inclui o União Brasil — está desconectado do mundo real, em termos de comunicação, isto não significa, por outro lado, que seja ruim. Não é.

Não se pode sugerir que o terceiro governo de Lula da Silva é excelente, mas é possível firmar que é bom, independentemente de pesquisas de opinião, que às vezes refletem mais o calor do debate político — o confronto incessante nas redes sociais, com a direita mais conectada aos tempos modernos (com uma pauta passadista, reacionária) — do que o real.

Se a classe média está ressurgindo no governo de Lula da Silva, depois de descer socialmente no governo de Jair Bolsonaro, é um sinal de que a economia está crescendo…. e de maneira estável.

Ponto positivo, pouco realçado pelo próprio PT e pelo governo de Lula da Silva, é que a pobreza está diminuindo. É um sinal de que os programas sociais do governo — que precisam ser conectados à educação (que é inclusiva) — estão funcionando. Cadê os grandes estudos do governo sobre a questão? Se existem, e devem existir, por que não “traduzi-los” para a linguagem coloquial e divulgá-los?

A inflação permanece sob relativo controle. Não há risco de uma explosão inflacionária.

Em termos fiscais, apesar do debate passional, com o mercado sempre cobrando mais — o que pode gerar a paralisia do Estado —, o governo de Lula da Silva é responsável. Não há excessos, exceto os de sempre — em decorrência do descontrole histórico dos gastos públicos, e não necessariamente do governo petista, que pegou o barco, pesado, navegando.

O que falta ao governo é uma comunicação azeitada, que saiba se dialogar com as pessoas, todas elas, independentemente (e acima) de questões ideológicas. Lula da Silva precisa falar à sociedade, não apenas aos seus eleitores e à esquerda. Quantos auxiliares do presidente mantêm redes sociais ativas e, se mantêm, o que estão dizendo aos brasileiros?

Mas não se deve pensar que o novo secretário-ministro das Comunicações, o publicitário-marqueteiro Sidônio Palmeira, vai se tornar um milagreiro. O Professor Pardal que vai “salvar” o governo Lula da Silva.

O que realmente pode “salvar” Lula da Silva — e até garantir sua reeleição, em 2026 — é um bom governo. Aquela gestão sobre a qual as pessoas — no supermercado, nas feiras e nas ruas — poderão dizer: “É boa. A nossa vida está melhor, está mais barata”. Hoje, o que se ouve é outra coisa: o custo de vista está alto. Os carrinhos nos supermercados estão mais vazios. Mas há a especulação de sempre: por que uma dúzia de banana prata custa 11 reais no Empório Prime e 6 reais no supermercado Machadão (na Nova Suíça, em Goiânia)?

Por mais competente que seja, Sidônio Palmeira não terá como “salvar” um governo “mais ou menos”. Um dos problemas da gestão de Lula da Silva — que, insistindo, não é ruim — é que, por não entender a imediatez da comunicação atual, quando tudo é para ontem e não para amanhã, deixa o desgaste se consolidar, se tornar montanha, ou seja, irremovível.

No lugar de atacar — de insistir que Jair Bolsonaro é “fascista” (o líder do PL não tem estofo nem para ser fascista e talvez nem saiba do que se trata; o que ele gostaria de ser é uma mistura de Emilio Garrastazu Médici e Brilhante Ustra) —, os petistas do e fora do governo precisam operar de maneira adequada o confronto e apresentar o contraditório tanto de maneira mais bem elaborada quando rapidamente.

Sidônio Palmeira certamente conseguirá explicar a Lula da Silva e auxiliares que o governo precisa responder à sociedade, e não necessariamente àqueles que o criticam puramente por razões políticas e ideológicas. Mas, claro, a resposta deve contemplar comentários que esclareçam por que as oposições estão dizendo isto ou aquilo.

Tenho algo divergente a dizer a respeito da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja. Pegá-la para, digamos, “Cristo” é esquecer de que mais importante é avaliar o resultado das ações dos ministros do governo Lula da Silva. Alguns estão abaixo da crítica, mas o presidente os mantém não se sabe exatamente por quê. Talvez por causa da eleição de 2026, que será realizada daqui a um ano e oito meses. Um pulinho.

O problema do governo Lula da Silva não é Janja. Talvez seja o próprio presidente, que, embora seja grande comunicador, está comunicando mal. Possivelmente porque está desconectado, em termos de comunicação direta, com os tempos e indivíduos atuais. É mais fácil criticar a primeira-dama do que o petista-chefe — um ícone dos reds.

O caso Pix e Nikolas Ferreira

Não há a menor dúvida de que o deputado federal Nikolas Ferreira, como político, é um dos mais lídimos representantes da vanguarda do atraso. O fato de despontar no Congresso é um sintoma da queda de qualidade da política patropi.

Na questão do Pix, o bisonho Nikolas Ferreira “roubou” a pauta do governo de Lula da Silva e a devolveu como uma bomba atômica em cima da gestão do petista.

Professor da Universidade de São Paulo, Pablo Ortellado escreveu, em “O Globo”, uma das melhores análises sobre o confronto do “pequeno” Nikolas Ferreira que, com mestria, soube “apequenar” o governo de Lula da Silva. O artigo, com o título de “Esquerda quer ganhar no tapetão após perder guerra política do Pix”, foi publicado no sábado, 18.

A Receita Federal decidiu que iria monitorar as transações feitas por meio do Pix — o que certamente revelaria o movimento da economia “real”. Seria uma forma de “vigiar” e “punir” a sonegação. Em nenhum momento se falou em taxação.

Como timing perfeito, Nikolas Ferreira divulgou um vídeo criticando a decisão do governo federal. Espertamente, para não ser desmentido, não disse que a Receita Federal iria taxar o Pix. Mas sugeriu que, adiante, poderia fazê-lo (com isto, o estrago estava feito). Frisou também que a fiscalização das transações iria colocar o trabalhador informal sob escrutínio da Receita Federal.

Pablo Ortellado frisa, com razão, que Nikolas Ferreira deu um golpe de mestre no governo do PT. Tanto que o vídeo foi visto mais de 300 milhões de vezes. Viralizou.

É óbvio que, ao criticar a ação do governo federal, Nikolas Ferreira quer desqualificar e, portanto, enfraquecer Lula da Silva. Afinal, a eleição de 2026 está quase batendo à porta. Entretanto, como assinala Pablo Ortellado, “seja lá o que pensemos do mérito do argumento de Nikolas Ferreira, seu vídeo foi obviamente eficaz. E foi um argumento estritamente político, dentro das regras do jogo democrático”.

Pablo Ortellado finaliza o artigo com um comentário pertinente: “Às vezes, parece que a esquerda abandonou o jogo de disputar a opinião pública e agora quer sempre vencer a política no tapetão”.

Será que Sidônio Palmeira terá a frieza e a competência necessárias para “recuperar” a comunicação do governo Lula da Silva tornando-a mais racional e contemporânea dos brasileiros atuais? Uma das coisas que precisa ajustar — mais do que o micropoder de Janja — é o discurso do presidente, que parece defasado até nos gestuais. Fica-se com a impressão de que, quando fala, o petista-chefe não é o presidente, e sim um agressivo político da oposição. Parece que não “fala”, e sim está sempre a fazer discursos.

O publicitário-marqueteiro conseguirá fazer Lula da Silva falar com mais calma e racionalidade sobre o governo a todos os brasileiros? Sidônio Palmeira terá a paciência e a força (sim, força política) necessária para “consertar” o discurso do petista-chefe e, em seguida, “consertar” o discurso do governo federal?

Lula da Silva precisa ser mais um homem de Estado do que um mero político do PT. O presidente é um craque, mas está se comportando, no “campo”, como Dunga.

O post Lula, Pix, Sidônio, Janja e Nikolas: retrato de um tempo que a direita entende melhor do que a esquerda apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.