Não é um pouco tarde para a esquerda começar a estudar comunicação?

As eleições de 2026 no Brasil prometem repetir a polarização que marcou as últimas disputas entre esquerda e direita. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se prepara para tentar a reeleição, o campo da direita busca reorganizar suas forças em torno de novos nomes, já que Jair Bolsonaro permanece inelegível até 2030. Entre os nomes cogitados estão Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e figuras menos convencionais, como Gusttavo Lima, Pablo Marçal ou algum parente de Bolsonaro. Neste cenário, a comunicação será um fator decisivo para a consolidação de lideranças e o resultado final.

Durante uma reunião ministerial recente, o novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, apresentou um plano de 90 dias para centralizar e aprimorar a divulgação das ações do governo. O objetivo é claro: melhorar a popularidade de Lula e consolidar sua base de apoio. No entanto, a urgência dessa iniciativa revela um ponto crítico: a esquerda ainda não domina plenamente as estratégias de comunicação política em um ambiente dominado pelas redes sociais e pela guerra de narrativas.

Enquanto a extrema-direita brasileira consolidou sua presença nas plataformas digitais, criando uma comunicação direta e emocional (por mais mentirosa que seja) com seus apoiadores, a esquerda parece estar correndo contra o tempo para corrigir erros passados. O amadorismo em relação à comunicação não é um problema exclusivo da política, mas é especialmente danoso nesse campo, onde a percepção pública define não apenas mandatos, mas o futuro de projetos ideológicos.

Diferença entre Eleições Majoritárias e o impacto da Comunicação

Nas eleições majoritárias, como as de presidente, governador e prefeito, vence o candidato que obtém a maioria dos votos. Esse sistema amplifica a importância da comunicação direta com o eleitorado, pois a decisão é personalizada e focada em lideranças individuais. Diferente das eleições proporcionais, onde a legenda partidária desempenha um papel maior, aqui é o carisma, a narrativa e a capacidade de engajamento que frequentemente definem o resultado.

A fragmentação da direita é um cenário que pode beneficiar a esquerda, mas isso não deve ser encarado como garantia de sucesso. Os nomes que emergem no campo da direita têm perfis variados, mas compartilham um ponto em comum: a competência em utilizar a comunicação como arma. Se a esquerda não aprimorar rapidamente sua capacidade de mobilizar as massas, a narrativa pode novamente escapar de suas mãos.

O papel das redes sociais e da emoção

Nas últimas décadas, vimos uma mudança drástica na forma como as campanhas políticas são conduzidas. As redes sociais transformaram o eleitor em um receptor ativo, bombardeado por informações em tempo real. Nessa arena, quem domina a linguagem emocional e os algoritmos está à frente.

A esquerda, historicamente mais associada a discursos racionais e programáticos, precisa adotar uma abordagem mais equilibrada. O eleitor não se conecta apenas com ideias; ele precisa sentir que faz parte de algo maior. Construir narrativas que engajem emocionalmente, sem abrir mão da consistência, é essencial para superar a estratégia de polarização utilizada pela extrema-direita.

O amadorismo em comunicação é um problema que transcende a esfera governamental e atinge também as relações interpessoais e institucionais. Saber ouvir, dialogar e transmitir mensagens claras são habilidades fundamentais, mas frequentemente negligenciadas. Na política, essa falha pode custar eleições e legitimar discursos que ameaçam a democracia.

É verdade que nunca é tarde para aprender, mas o tempo é curto. Com as eleições de 2026 se aproximando, a esquerda precisa abandonar o amadorismo e adotar uma estratégia robusta de comunicação. O plano apresentado pela Secom é um passo inicial, mas deve ser complementado por ações mais amplas e profundas, que envolvam desde a formação de quadros comunicativos até o fortalecimento da presença digital.

Se a esquerda não aprender a se comunicar com eficiência e empatia, corre o risco de repetir erros do passado, permitindo que narrativas da extrema-direita dominem novamente o debate. E, nesse cenário, quem perde é a democracia e, consequentemente, a população.

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