Crise no transporte público de Anápolis levanta debate por alto custo e falta investimento; lideranças buscam soluções

A situação do transporte público em Anápolis tem sido tema de intensos debates entre lideranças municipais e estaduais. Em uma reunião realizada na segunda-feira, 20, no gabinete do prefeito Márcio Corrêa (PL), com o vice-governador de Goiás, Daniel Vilela (MDB), o vice-presidente da Câmara Municipal, José Fernandes (MDB), destacou a precariedade do sistema na cidade em comparação com a região metropolitana de Goiânia

De acordo como o vereador, enquanto Goiânia avança com uma frota renovada, tarifas acessíveis e tecnologias modernas, como o uso de ônibus elétricos e acesso por reconhecimento facial, Anápolis enfrenta problemas como frota sucateada, passagens caras e falta de investimentos por parte da concessionária.

O encontro revelou a preocupação das autoridades e da população com a acessibilidade e qualidade do serviço. Propostas para subsidiar o sistema, como ocorre em Goiânia, foram discutidas, e a concessionária URBAN reforçou a necessidade de aportes públicos para viabilizar melhorias no transporte.

Além disso, usuários do sistema relataram dificuldades que vão desde o alto custo das tarifas até a má conservação dos veículos, evidenciando a urgência de soluções integradas e sustentáveis para o transporte público da cidade.

Durante a reunião, Fernandes expôs, segundo ele, a precariedade do sistema de transporte no município em comparação à região metropolitana de Goiânia.

“Discutimos sobre o preço da passagem na região metropolitana de Goiânia, com renovação da frota, inclusive com ônibus elétrico e acesso por FaceID, bem como reforma e construção dos terminais. Ao passo que, em Anápolis, o transporte é sucateado, a concessionária não investe e a passagem é cara”, afirmou.

Atualmente, a tarifa na região metropolitana de Goiânia é de apenas R$ 4,30. Em contrapartida, a passagem em Anápolis foi reajustada no final do ano passado, ainda sob a gestão anterior, passando a custar R$ 6,00 para pagamento em dinheiro e R$ 5,25 no cartão.

José Fernandes ressaltou que o vice-governador se comprometeu em avaliar a situação e buscar soluções junto ao Governo de Goiás para melhorar as condições do transporte em Anápolis. “Nosso papel como Legislativo é cobrar, acompanhar e propor soluções. Seguiremos firmes nessa missão de buscar avanços para Anápolis”, concluiu o vereador.

Usuários do transporte l Foto: Reprodução

Presidente da ARM destaca medidas para melhorar o transporte público de Anápolis

Robson Torres, Diretor Presidente da Agência Reguladora do Município de Anápolis (ARM), ressaltou as iniciativas tomadas desde o início da gestão do prefeito Márcio Corrêa para recuperar a eficiência e o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos 172/2015 e 173/2015, referentes à concessão do transporte público coletivo.

“Desde o início da gestão, informamos todas as medidas, iniciativas e propostas da ARM para trazer de volta a eficiência e o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão do transporte público coletivo”, afirmou Torres.

Robson Torres, diretor da ARM l Foto: ARM

Entre os principais pontos apresentados estão: a busca por subsídio ao transporte público junto ao Governo Estadual; a criação de terminais intermediários para evitar que todos os ônibus retornem à Estação Central; a contratação de uma pesquisa de origem e destino; a criação do Fundo Municipal do Transporte Público (com principal receita oriunda da área azul); e a isenção de impostos como ISS e ICMS. “A isenção do ISS, por exemplo, foi válida apenas até dezembro de 2024”, lembrou o presidente.

Torres destacou que o prefeito Márcio Corrêa tem se mostrado interessado no diagnóstico do transporte público e frequentemente questiona a ARM sobre diversas questões. “A idade média dos ônibus, contratualmente, deveria ser de até cinco anos, mas já ultrapassamos nove anos. Essa sempre foi uma preocupação da ARM, que chegou a solicitar apoio do Ministério Público para garantir o cumprimento da obrigação contratual”, explicou.

Ele reconheceu, no entanto, que o desequilíbrio econômico-financeiro tem dificultado a renovação da frota pela empresa responsável. “Mesmo com uma frota cuja idade média é de nove anos, não significa que estamos lidando com ônibus sucateados. A ARM realiza avaliações semestrais para garantir a segurança dos usuários, conforme exigido pelos contratos administrativos”, afirmou.

Outro ponto enfatizado foi a diferença entre a tarifa pública e a tarifa técnica. “Quando a tarifa pública não segue as regras da tarifa técnica, isso compromete o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Esse desequilíbrio afeta a idade média da frota, a implantação de novas linhas, mais horários e outras melhorias”, explicou Torres.

O presidente da ARM acredita que um subsídio do Governo Estadual ao transporte coletivo de Anápolis, semelhante ao concedido à Região Metropolitana de Goiânia, poderia transformar o sistema. “Se o Governo Estadual investir no transporte coletivo de Anápolis, como faz em Goiânia, que recebeu mais de 200 milhões em 2024, certamente teremos um sistema mais fortalecido e com inúmeras melhorias para os usuários”, afirmou.

Robson enfatiza que o transporte público em Anápolis conta com um subsídio de 50% para estudantes, uma realidade diferente da Região Metropolitana, que oferece 100% de gratuidade. Segundo Robson Torres, essa diferença impacta diretamente no valor das tarifas cobradas na cidade.

Coletivo de Anápolis l Foto: ARM

“Esses outros 50% impactam no valor da tarifa, que poderia até ser mais barata. E, por incrível que pareça, volta verba mesmo com 50% de gratuidade. Então, por que não se eleva logo para o valor da verba que retorna?”, questionou Torres.

O representante afirmou ainda que este é um dos apontamentos encaminhados ao prefeito Márcio Correa para análise e tratativas com o Governo Estadual.

Torres também defendeu o valor da passagem em Anápolis, destacando que a cidade realiza um trabalho eficiente, considerando a estrutura operacional. “Com 160 ônibus em operação, atendendo 102 linhas e mais de mil horários diários, somando cerca de 25.000 km por dia, Anápolis tem uma das menores tarifas do Brasil. Isso, mesmo com uma demanda de aproximadamente 850.000 usuários pagantes, o que é o principal fator que impacta o valor tarifário, seguido pelo preço do óleo diesel e pelas despesas com salários dos funcionários”, concluiu.

URBAN vê a necessidade de subsídios para o transporte público em Anápolis

Carlos Leão, diretor jurídico da URBAN – Mobilidade Urbana de Anápolis, reforçou que a concessionária não participou da recente reunião entre representantes do município e o Governo Estadual. No entanto, revelou que a empresa se reuniu anteriormente com o prefeito de Anápolis e sua equipe para apresentar um diagnóstico do Sistema de Transporte Público de Anápolis (STPA).

“Na ocasião, apresentamos aos gestores públicos o diagnóstico do STPA, destacando a inviabilidade da operação sem subsídios públicos, pois Anápolis ainda não conta com subsídios ou subvenções públicas ao transporte”, disse Carlos Leão.

De acordo com Leão, a reunião com o novo gestor municipal foi produtiva e demonstrou preocupação com a situação do STPA. “O prefeito se comprometeu a buscar subsídios públicos, assim como ocorre em Goiânia e Região, onde a tarifa técnica dos serviços supera o valor de R$ 10,00 por passageiro transportado. Sem o subsídio, a tarifa em Goiânia seria mais cara do que em Anápolis”, afirmou.

Frota da URBAN l Foto: Reprodução

Ele também destacou a importância de uma política pública que combine acessibilidade com sustentabilidade financeira. “A política pública ideal é definir uma tarifa módica aos usuários – a chamada tarifa pública – para garantir o acesso ao serviço, enquanto o poder público complementa a diferença através da tarifa técnica. É o mesmo princípio de um restaurante social: o povo paga barato para almoçar, e o poder público complementa o valor, cumprindo seu papel social”, comparou Leão.

Ele lembrou que o direito ao transporte está previsto no artigo 6º da Constituição Federal. “É dever do Estado garantir o transporte como um direito social”, enfatizou.

Projetos de melhorias para o STPA
Leão destacou ainda que a URBAN apresentou diversos projetos de melhoria para o STPA ao prefeito de Anápolis. “Certamente esses projetos foram levados por ele à reunião com os representantes do Governo Estadual”, disse.

Sobre as condições da frota, Leão refutou a ideia de que os veículos estariam sucateados. “Por certo, há a necessidade de equilibrar o STPA para garantir reinvestimentos no sistema, o que inclui a atualização da frota”, afirmou.

Para alcançar esse equilíbrio, ele reforçou a necessidade de aportes públicos. “O STPA precisa de recursos públicos, subsídios, desonerações e subvenções – como ocorre em Goiânia e Região Metropolitana. Estamos convictos de que o poder público, seja municipal ou estadual, buscará meios para subsidiar o STPA e trazer melhorias a todos, sobretudo aos usuários do sistema público de transporte”, concluiu.

Superintendência de Políticas para Transportes e Mobilidades do Estado de Goiás

Cassiano Brito, superintendente de Políticas para Transportes e Mobilidades do Estado de Goiás, destacou que, apesar de Anápolis não fazer parte da região metropolitana, existem projetos em andamento para a concessão de subsídios, como uma possível desoneração do diesel. Essa medida pode reduzir o preço da tarifa, que, segundo ele, é a maior demanda dos usuários.

Cassiano explicou que, em Goiânia, o valor da tarifa é de R$ 4,30 devido à existência de um consórcio envolvendo toda a região metropolitana, no qual as prefeituras contribuem para manter uma tarifa acessível. “Se não fosse o subsídio, o preço com certeza seria igual ou até superior ao de Anápolis”, afirmou.

Cassiano Brito, superintendente de Políticas para Transportes e Mobilidades do Estado de Goiás l Foto: Arquivo pessoal

Atualmente, o subsídio público é responsável por 82% dos pagamentos do sistema público de ônibus na capital.

O superintendente frisou que foi compartilhado com a prefeitura um projeto de Plano de Mobilidade para Anápolis, que é um pré-requisito para acessar recursos do Ministério das Cidades destinados ao transporte público. “É fundamental que esse trabalho seja realizado em Anápolis”, pontuou.

Ele também relatou que a pasta está trabalhando em parceria com a prefeitura para obter um diagnóstico preciso da situação e tomar medidas eficazes. “Todo o nosso trabalho é baseado em diagnósticos sólidos, como pesquisas com a população para entender as reais demandas de quem utiliza o sistema”, observou.

Além disso, Cassiano informou que há projetos em andamento para melhorar o transporte semiurbano entre Goiânia e Anápolis, incluindo a renovação da frota com ônibus mais confortáveis, equipados com ar-condicionado. “Precisamos melhorar esses ônibus, pois ainda há veículos circulando sem ar-condicionado, por exemplo”, destacou.

Avaliação dos usuários

Maria Cristina, de 20 anos, estagiária de comunicação e marketing, utiliza o transporte público diariamente e considera o valor da tarifa absurdo. “O preço está longe de ser justo. Não temos nenhum conforto”, afirmou.

Maria Cristina: “É difícil depender de um transporte com horários limitados para certos bairros e tarifas tão altas”, Foto: Arquivo pessoal

Maria ressaltou a necessidade de melhorias na estrutura, nos horários e na redução da tarifa. “É difícil depender de um transporte com horários limitados para certos bairros e tarifas tão altas”, lamentou.

Débora Virtuosa, de 17 anos, menor aprendiz, também criticou o custo do transporte público em Anápolis, afirmando que o valor pesa no orçamento dos trabalhadores. “Os ônibus são sujos e frequentemente têm lixo, o que não justifica a tarifa cobrada”, comentou.

Débora Virtuosa: “Precisamos de mais ônibus para reduzir o tempo de espera”, l Foto: Arquivo pessoal

Débora destacou que, embora os ônibus que atendem o Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA) sejam de melhor qualidade, os que circulam pelos bairros deixam muito a desejar em termos de conforto. Ela reforçou a necessidade de mais rotas e horários disponíveis. “Precisamos de mais ônibus para reduzir o tempo de espera”, disse.

Dalva Borges, aposentada de 72 anos, também criticou o preço elevado da tarifa e apontou problemas de higiene nos veículos. “O preço é muito alto, e os ônibus são nojentos. Uma vez, ao me sentar, percebi uma barata subindo em mim”, relatou.

Dalva Borges: “O preço é muito alto, e os ônibus são nojentos”, l Foto: Arquivo pessoal

Dalva enfatizou a importância de melhorias na limpeza dos ônibus, já que utiliza o transporte público diariamente.

A reportagem entrou em contato com o prefeito, Márcio Corrêa, mas não obteve resposta. O espaço permanece aberto.

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