Sidônio Palmeira dará conta de “restaurar” a credibilidade do governo Lula?

O repórter Daniel Pereira, da revista “Veja”, escreveu ótima reportagem sobre as duas crises da hora: a do governo Lula da Silva em si e a de sua (falta de) comunicação. O Jornal Opção havia discutido a questão no domingo, 19 (confira link no final do texto).

O governo de Lula da Silva não é ruim, mas sua imagem não é positiva. Seus experts não conseguem mostrar que a economia, apesar de todos os percalços, está crescendo (sempre surpreendendo economistas e a imprensa) e que a inflação atual não é nenhuma besta-fera. Ademais, a pobreza está caindo e a classe média está ressurgindo. A democracia permanece intacta. O respeito às instituições é, por assim dizer, “cláusula pétrea”.

Porém, a reportagem e gente do próprio governo insistem que a gestão não é “positiva”. Na verdade, considerando praticamente todos os parâmetros, a administração de Lula da Silva é melhor do que a do ex-presidente Jair Bolsonaro. De fato, o governo não é excelente e precisa melhorar — até para gerar entusiasmo produtivo na sociedade e no mercado. Torcer contra o governo Lula da Silva é torcer contra o país. Dizer isto não significa sugerir que a gestão não deve ser criticada. Deve. É positivo até para a administração do petista.

Lula da Silva com Claudia Sheinbaum, presidente do México: possível aliança é recado incisivo para Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos | Foto: Agência Brasil

O governo Lula da Silva parece que não consegue nem mesmo listar o que fez de positivo em dois anos e um mês — ou seja, em tão pouco tempo. A estabilidade tanto da economia quanto da democracia é praticamente inexplorada.

Ah, dirão os profetas do caos: “Ninguém come democracia e falta comida no prato das pessoas”. Sim, há pobres no país, o que é um problema histórico, mas o governo assiste-os da melhor maneira possível (ressalvo que precisa ampliar o apoio à educação). Mas no prato da maioria das pessoas, apesar da inflação, certamente não está faltando arroz, feijão, carne e verduras. Há dinheiro para comprar pão e leite de manhã. Frise-se: a estabilidade do país é um fato, mas o governo de Lula da Silva não consegue transformar isto em comunicação. A sensação de crise é “maior” do que a (suposta) crise.

O “problema” de Lula da Silva não é a idade, 79 anos, nem a primeira-dama Janja. Os dois vivem um caso de amor e isto é bom para o país. Aqueles que amam, que têm tesão, operam por um mundo mais ativo e melhor. No geral, claro.

O “problema” é que, embora seja um comunicador nato — o Silvio Santos da política misturado à astúcia mefistofélica de Roberto Marinho —, Lula da Silva não está conseguindo se comunicar com os brasileiros atuais (nem mesmo com os políticos de sua base). Perdeu sintonia com os indivíduos. Quando fala parece um tio brabo dando broncas num público invisível e alheio.

Marcio Pochmann, economista e presidente do IBGE: queda à vista? | Foto: Agência Brasil

Exibir Lula da Silva de bermudas, circulando pela área externa do Palácio Alvorada, como se fosse um ancião aposentado, não é uma boa ideia. O que se deve mostrar é ele circulando pelo país, verificando o que o governo federal está fazendo ou colhendo ideias para gerir melhor.

Na semana passada, o Lula da Silva que apareceu no vídeo, com uma imagem mais serena, sem chapéu e com a barba bem cuidada, parecia outro homem. O país quer vê-lo assim: mais proativo e atento às cousas do mundo. Sua conversa com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, é uma crítica indireta (e inteligente) ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Governo Lula e a recuperação da credibilidade

Postas as “ressalvas”, recorramos à reportagem da “Veja”, publicada com o título “De olho em 2026, Lula investe em mudança radical na comunicação do governo”. Daniel Pereira recolhe uma fala do presidente dizendo que 2026 já começou. Quem não percebeu isto é candidato a defunto político.

O marqueteiro (ficção inventada por publicitários que atuam no campo político-eleitoral) Sidônio Palmeira percebeu de cara que, como disse Darcy Ribeiro, o óbvio precisa ser dito, e repetidas vezes. O governo Lula da Silva precisa “recuperar” a credibilidade. O que não será nada fácil. Porque recebe um combate sistemático da direita, que é mais eficiente do que a esquerda nos conflontos das redes sociais. Há uma inteligência originária da astúcia — e bem menos do conhecimento intelectual — na “argumentação” da direita atuante no Instagram, no X, no Facebook, no Telegram e outros. Sua crítica é eficiente e não lida apenas com fake news (apoia-se, no mais das vezes, nos equívocos do governo).

A coluna “Radar”, da “Veja”, informa que Sidônio Palmeira quer — ou quis — proibir ministros e demais auxiliares de Lula da Silva de falar em “off” com jornalistas. Se isto for mesmo verdadeiro, o marqueteiro sugere que entende pouco de política e de jornalismo. A medida, se efetivada, não seria obedecida. Na verdade, o jornalismo, o bom jornalismo, existe em função do “off”. O que se diz em “on”, ao menos no geral, beira ao release.

O governo Lula da Silva é composto de uma frente política, com diferentes interesses. Então, seus membros continuarão falando em “off” com jornalistas. Perderão espaço aqueles que decidirem falar tão-somente em “on”.

Numa questão, Sidônio Palmeira está certo: começou a centralizar a comunicação oficial, “tendo a palavra final sobre temas diversos, de licitações para contratação de agências de publicidade à escolha de temas que merecerão atenção especial dos ministérios”. O objetivo é criar uma “marca” para o governo e fortalecer a imagem de Lula da Silva como um gestor que resolve problemas e apresenta resultados para melhorar o país e a vida das pessoas. O que é uma ponte: um monte de concreto? É mais do que isto. É um meio para melhorar a vida das pessoas… mas isto precisa ser dito e “reprisado”.

Espera-se, porém, que a centralização não amplie a burocracia e trave ainda mais o governo.

Como Sidônio Palmeira vai “distribuir” os recursos publicitários do governo federal? Vai continuar privilegiando os meios de comunicação de São Paulo e Rio de Janeiro — esquecendo que o Brasil é uma federação que inclui quase 30 Estados, como Goiás, Tocantins, Ceará, Pernambuco, Maranhão, Amazonas, entre outros?

Que ninguém se iluda: há um embate pelas verbas publicitárias do governo federal e, como se existisse uma política colonial, Estados como São Paulo e Rio de Janeiro se comportam como metrópoles, insinuando que os demais Estados são colônias.

Com a internet, todos os jornais se tornaram nacionais. Portanto, não se deve mais falar em mídias regionais. Porém, o governo de Lula da Silva ainda opera nesta vibe defasada — acreditando que “nacionais” são apenas jornais e emissoras de rádio e televisão do Rio de Janeiro e de São Paulo e os demais são “regionais”.

Sidônio Palmeira planeja operar para criar uma marca para o governo Lula da Silva. Qual será? Por enquanto, não explicitou. O marqueteiro sabe que, para ganhar eleição, não se deve adotar uma opção preferencial unicamente pelos pobres. O discurso presidencial segue muito esta linha. É crucial atrair a classe média, que é, por assim dizer, o “centrão” das classes sociais. O próximo presidente da República tende a ser aquele que conseguir conquistar parte significativa do centro político e do centro social (as classes médias).

O marqueteiro planeja “pautar” o debate nas redes sociais, colocando o governo mais na ofensiva e menos reativo. Governo que só reage, que não chega primeiro, acaba perdendo o debate, em tempos tão rápidos e, também, superficiais. A “mídia do governo, até agora, é burocrática, sem qualquer “malícia” (no bom sentido). Espera-se que Sidônio Palmeira a torne tão “audaz” e “esperta” quanto um personagem de Jorge Amado.

Então, quando sugere que o governo precisa ser mais proativo, e menos reativo, Sidônio Palmeira está certo. Com apenas dois anos, o governo de Lula da Silva tem cara de fim de mandato.

As mãos de Sidônio Palmeira devem operar notadamente em duas áreas — saúde e segurança. A ministra Nísia Trindade é ótima, decente, mas o governo federal está patinando na guerra contra a dengue. Parece que sempre chega atrasado e que suas intenções são melhores do que os resultados.

Na segurança pública, o governo vai muito mal, com um ministro da Justiça lento, de fala pomposa e quase em câmera lenta. Fica-se com a impressão de que, nesta área, o governo fala muito para fazer quase nada. Ricardo Lewandowski é um homem sério, mas não parece talhado para o governo, sobretudo para um governo que precisa apresentar resultados imediatos contra o crime organizado.

Lula da Silva vai permitir que o governo continue “sangrando” para “salvar” Marcio Pochmann na presidência do IBGE?

Sidônio Palmeira tem uma tarefa de Hércules pela frente. Oxalá não tentem derrubá-lo antes que firme suas ideias.

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