Da costa asiática ao Cerrado: o caminho da soja até chegar ao Brasil 

O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de soja. Na safra 2023/2024, o país produziu 147,35 milhões de toneladas, algumas dezenas de toneladas a mais do que o segundo colocado nesse ranking, os Estados Unidos. Apesar do destaque que a planta tem na economia brasileira, ela não é originária daqui e foi preciso muito trabalho de melhoramento genético para adaptar o grão ao solo tropical do país. Veja abaixo o histórico completo da soja e sua relação com o Brasil. 

Os registros mais antigos do cultivo da soja datam de quatro mil anos atrás, na China. A planta estava em sua forma selvagem e era encontrada na costa leste da Ásia, até os chineses a domesticar e dar início às primeiras culturas da planta. “A soja semeada atualmente tem a constituição genética da ancestral chinesa, mas ela é diferente tanto em aparência quanto em características morfológicas e de produção”, explicou Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja.

O livro ‘A saga da soja: de 1050 a.C. a 2050 d.C’, editado pela Embrapa Soja, mostra que a planta só se tornou relevante, em algum nível, no contexto comercial brasileiro após a década de 1940. 

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“Apesar de o primeiro cultivo comercial de soja no Brasil datar de 1914, no município de Santa Rosa (RS), foi somente a partir dos anos 40 que ela adquiriu alguma importância econômica”, o livro aponta os primeiros avanços. Antes desse ponto, entretanto, houve diversas tentativas de adaptação da planta no Brasil. 

Em 1882, uma variante vinda dos Estados Unidos chegou na Bahia e houve tentativa de implantação, entretanto, sem sucesso. Em 1891, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC-SP) fez novas experimentações para usar a planta como alimento para o gado. As primeiras conquistas, mesmo que parciais, surgiram com experimentos no Rio Grande do Sul, em 1914 e em 1924. 

O primeiro registro oficial veio em 1941, no Anuário Agrícola do RS, acusando uma área cultivada de 640 ha, com produção de 450 toneladas e rendimento de 700 kg por hectare. No mesmo ano, conforme aponta a obra, surgiu a primeira indústria processadora de soja do país, em Santa Rosa. Em 1949, o Brasil figurou pela primeira vez nas estatísticas internacionais, com produção de 25.000 toneladas.

“A limitada quantidade de soja produzida no Brasil até meados dos anos 50 era consumida como forragem, para a alimentação de bovinos de leite, ou como grãos para a engorda de suínos, nas próprias unidades produtoras”, explica a obra. 

A relevância comercial dentro do território brasileiro foi inicialmente conquistada com uma cultivares (nome dado às variedades cultivadas obtidas por técnicas de melhoramento genético) estadunidense. Conforme informado na página oficial da Embrapa, “até o final da década de 1970, os plantios comerciais de soja no mundo restringiam-se a regiões de climas temperados e subtropicais, cujas latitudes estavam próximas ou superiores aos 30º”. Dessa forma, apenas a região Sul do Brasil alcançava produção relevante. 

O livro ‘A saga da soja’ aponta que esse cenário só foi mudar na década de 1980, com o lançamento da cultivares Doko, que possibilitou o plantio da soja no Brasil Central. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) teve papel ativo nessa expansão da soja no Brasil. Em 50 anos, foram desenvolvidos cerca de 440 cultivares da soja, com maior resistência às pragas, doenças, insetos e herbicidas. 

Nas décadas seguintes, tanto a área de produção da soja no Brasil quanto a participação do país na oferta global cresceram. Com o passar do tempo, o Sul do país cedeu espaço para a região Centro-Oeste, que se tornou a maior produtora do grão em todo o país. 

Na obra editada pela Embrapa é possível ver que: “No início da década de 1980, apenas 20% da soja brasileira era produzida no Cerrado (região tropical), cujo potencial de crescimento era evidente e claramente sinalizava para uma maior participação na produção nacional a cada nova safra. Em 1990, sua participação já superava os 40% e, em 2011, foi da ordem de 60%”. 

Atualmente 

Segundo dados mais recentes, o Brasil se consolida como o maior produtor mundial do grão. O relatório mais recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de abril de 2024 estimou que a colheita brasileira atingirá 155 milhões de toneladas. Por sua vez, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou uma colheita recorde de 154,60 milhões de toneladas para a temporada 2022/23.

As projeções do USDA para a safra 2024/2025 reforça a liderança brasileira, que apresenta produção crescente. Nesta colheita, os produtores do Brasil devem alcançar a marca de 169 milhões de toneladas. Em segundo lugar vem os Estados Unidos, com produção estimada em 121,11 milhões de toneladas do grão. O terceiro lugar é ocupado pela Argentina, com 51 milhões de toneladas. 

A produção da soja se coloca como um dos carros chefes da economia de muitos estados brasileiros, como em Goiás. Em 2023, conforme aponta a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), foram plantados grãos em 421.500 hectares apenas na cidade de Rio Verde (maior polo produtor do estado) o que resultou em uma movimentação de R$ 4.485.976.000,00 (Quatro bilhões, quatrocentos e oitenta e cinco milhões, novecentos e setenta e seis mil reais). Conforme revelado, a expectativa para este ano é de superar esse valor.

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