Elon Musk e Steve Bannon acenam ao sistema totalitário nazifascista contra a democracia

Philip Roth (1933-2018) escreveu um romance, “Complô Contra a América” — trata-se de ficção, é necessário ressaltar —, no qual mostra que o presidente Franklin Delano Roosevelt foi “derrotado” por um candidato de direita, Charles Lindbergh (1902-1974), o piloto de avião mais famoso dos Estados Unidos entre as décadas de 1930 e 1940.

No poder, Charles Lindbergh, com ideias próximas às dos nazistas, firmou uma parceria com o chanceler da Alemanha, Adolf Hitler. Nos Estados Unidos, judeus “foram” espancados nas ruas. O presidente-piloto se tornou uma espécie de “representante” do nazismo na América do Norte.

A imaginação poderosa de Philip Roth, ao mostrar o que os Estados Unidos poderiam ter se tornado, no caso da ascensão de um político pró-nazista a presidente da República, é útil esclarecer sobretudo àqueles que acreditam que as sociedades só avançam, rumo ao melhor. Infelizmente, não é assim.

Como nota o filósofo britânico John Gray, a história é tão cheia de avanços quanto de recuos. O nazismo é um recuo histórico tremendo. O comunismo-stalinismo, que a esquerda apresentou como avanço, representou um retardo histórico — em termos de economia, liberdade de expressão, direitos humanos e democracia.

Entretanto, para o bem da democracia, Franklin D. Roosevelt não foi derrotado por Lindbergh, que nem mesmo o enfrentou. Mas o romance é um alerta sobre a possibilidade de a extrema direita, de matiz nazifascista, assumir o poder em países fortes, como os Estados Unidos e a Alemanha.

Os que brincam com a história, subestimando o potencial da extrema direita, acabam por contribuir para “queimar” a democracia. É a (triste) realidade.

Entre os fins da década de 1920 e início da década de 1930, os comunistas alemães atacaram os socialdemocratas — tachando-os de socialfascistas — e a incompreensão da história, dos fatos em cima da hora, contribuiu para fortalecer os nazistas.

Franklin Roosevelt e Charles Lindbergh: rivais políticos | Fotos: Reproduções

No poder, Hitler perseguiu, de maneira implacável tanto comunistas quanto socialdemocratas, porque não aceitava nenhuma oposição, nem a mais leve e moderada. O regime nazista era totalitário, ou seja, excluía a participação de qualquer outra força política.

Nem toda direita é nazifascista. Por vezes, nem toda extrema direita é nazifascista. Há uma direita moderada, que ajuda no jogo de contrapesos da democracia. Porque não quer excluir a democracia. Direita e esquerda fortes podem, ao gerar equilíbrio, fortalecer o sistema democrático.

Já a extrema direita é, com frequência, uma espécie de abra-te sésamo para regimes totalitários, que planejam excluir as demais forças políticas e seus agentes.

Ao planejar matar — sim, assassinar — o presidente Lula da Silva, do PT, o vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSD, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o bolsonarismo se comportou como estrutura paramilitar e totalitária, inteiramente avessa à democracia.

Saudável na democracia é a alternância de poder, com a direita ou a esquerda — ou o centro — vencendo os pleitos. Não importa quem vença. O que importa é que o resultado, se legal, não seja questionado.

O bolsonarismo, por não aceitar a vitória de Lula da Silva, em 2022, inventou a farsa da fraude eleitoral, de urnas fraudáveis, e, por fim, decidiu operar para arrancar o petista-chefe do governo, à força — inclusive articularam seu assassinato, que felizmente não ocorreu.

Donald Trump, Elon Musk e Steve Bannon

Errol Musk e Elon Musk: pai diz que filho voltou às raízes conservadoras da família | Fotos: Reproduções

O reacionarismo está em voga não apenas no Brasil. Em dois dos países mais desenvolvidos do mundo a direita, nos Estados Unidos, e a extrema direita, na Alemanha, estão cada vez mais fortes.

Na posse do presidente Donald Trump — por enquanto, de direita, mas caminhando para a extrema direita —, o bilionário Elon Musk, dono da Tesla, da Space X e do X, fez um gesto semelhante (estendendo um braço) ao dos nazistas, que governaram a Alemanha de 1933 a 1945, com uma ditadura cruenta (mataram 6 milhões de judeus e gestaram uma guerra que ceifou a vida de 60 milhões de pessoas, ou até mais — fala-se em 80 milhões).

Os avós maternos de Elon Musk eram nazistas e francamente favoráveis ao regime do Apartheid na África do Sul. O rei das big techs tem, portanto, em que se inspirar, além de Hitler e Benito Mussolini.

Se Philip Roth, judeu, estivesse vivo certamente se assustaria com o que aconteceu num evento na quinta-feira, 20, na Conferência de Ação Política Conservadora (Cpac), em Washington. O personagem da hora é Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump. Os dois chegaram a romper, mas o “marqueteiro” sempre foi uma figura inspiradora para o presidente republicano.

Donald Trump: jogo pesado contra as instituições nos Estados Unidos | Foto: Reprodução

Ao terminar seu discurso na Cpac, Steve Bannon levantou o braço direito, estendeu-o, com a palma da mão virada para baixo. Por mais que se possa negar, trata-se de uma saudação nazista (também de agrado dos supremacistas brancos norte-americanos).

A política exige símbolos que unifiquem grupos e indivíduos. O gesto de Elon Musk e Steve Bannon é uma sugestão de que as direitas estão se unindo. Não demora, quem sabe, e Eduardo Bolsonaro, em alguma reunião pública, poderá acabar imitando os dois representantes da extrema direita conservadora. Parece que é um “sinal” global.

Steve Bannon disse que, daqui a quatro anos, Donald Trump deverá concorrer a um terceiro mandato. Constituição americana veda que um político seja presidente por mais de duas vezes. “Queremos Trump em 2028”, frisou o “marqueteiro”. O republicano terá 82 anos, mais do que Joe Biden em 2024, quando foi derrotado pelo rival direitista.

Como Donald Trump poderá ser presidente dos Estados Unidos três vezes se a lei não permite? Há dois caminhos. Primeiro, o legal, com a mudança da Constituição. Segundo, por meio de um golpe de Estado. Só que, neste caso, nem se teria eleição.

Franklin D. Roosevelt foi eleito quatro vezes consecutivas. Mas, na época, a lei permitia. Então, foram quatro vitórias democráticas e positivas para o país. Com o New Deal, o presidente democrata arrancou os Estados Unidos da depressão e recuperou a economia, fortalecendo o capitalismo no país.

Depois de Roosevelt, uma emenda mudou o jogo político, e para melhor, ou seja, um político só pode ser presidente duas vezes. O que evita a formação de oligarquias.

Steve Bannon acrescentou: “Nós tivemos uma grande vitória aqui [nos Estados Unidos] e estamos ganhando no mundo todo, certo? A próxima parada é a Alemanha. Posso pedir que a AFD (partido de direita alemão) se levante. Queremos saudá-los”. Com o braço levantado à Hitler, claro.

Políticos não “brincam” e falam sério mesmo quando contam piadas. Donald Trump — na sua versão (como) xerife global —, Elon Musk e Steve Bannon não estão brincando. O “ídolo” Hitler talvez esteja mesmo no horizonte do trio.

Mas oxalá a democracia acabe por vencer tanto nos Estados Unidos quanto na Alemanha. Aliás, em qualquer lugar.

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