Igreja Católica deveria deixar a política e dedicar-se à missão de divulgar as palavras de Cristo

O muçulmano está em harmonia com a sua religião. O evangélico também. O católico não está. — J. R. Guzzo

Na edição de “O Estado de S. Paulo” de domingo, 11, o jornalista J. R. Guzzo inseriu a melhor análise do desempenho da Igreja Católica entre tantos textos que, ao ensejo da eleição do papa Leão XIV, foram publicados. O jornalista colocou o dedo na ferida ao mostrar ter a Igreja Católica perdido o foco.

Com o título, “Perda de Foco”, Guzzo aponta ter Igreja Católica se desviado da sua missão que deve ser a de cuidar do lado espiritual dos fiéis. Ele argumenta, respeitando a importância da eleição do Papa, mas critica as análises por falta de objetividade. Ele mostra a razão ao dizer: “O que interessa, mesmo, não é bem o que vai acontecer no Vaticano, e, sim, o que está acontecendo com os católicos”.

O que está acontecendo com os católicos?

A Igreja Católica, desde a Rerum Novarum, de Leão XIII, vem em busca da preferência das classes menos favorecidas, mudando a sua ação de orientadora espiritual para uma mundana — a disputa política.

O resultado tem sido a perda de fiéis, pois “o muçulmano está em harmonia com a sua religião. O evangélico também. O católico não está”.

A Igreja Católica, apesar e talvez por suas divisões, como a Teologia da Libertação e o populismo do falecido papa Francisco, vem perdendo importância no mundo.

Os católicos estão caindo de participação no universo religioso para os muçulmanos, evangélicos no mundo desenvolvido. O catolicismo só cresce nas áreas pobres do mundo, a África e a Ásia. O que a torna dependente da pobreza para sobreviver.

A recente troca de comando da Igreja, diante dos resultados, em vez de insistir na ação política, deveria ensejar uma volta aos princípios primeiros do catolicismo — a orientação espiritual. A Igreja, como uma ordem religiosa, deveria deixar a política aos políticos e dedicar-se à sua missão original de divulgar as palavras de Cristo.

Cristo respondendo aos fariseus, no versículo do evangelho, ao ser inquirido se era legítimo pagar impostos ao imperador, sacou uma moeda e, mostrando suas duas faces, disse: “Dá a Deus o que é de Deus e a César o que de César”.

Dar o que é de Deus, na orientação da Igreja Católica, é ter como foco a orientação espiritual, deixando aos políticos a política.

Sobrevivência milenar da Igreja Católica

Com um histórico de mais de 2000 anos, a Igreja Católica mostrou-se de uma resiliência ímpar. Não há outro caso tão eivado de erros, a desafiar a sobrevivência, como o dos católicos. 

Sofreu da incredulidade dos judeus no seu início; foi perseguida e teve martirizados os seus adeptos; conviveu por séculos com papas corruptos; fez guerras de conquista para assegurar a sua influência e poder territorial; foi responsável por duzentos anos pelas atrocidades da Santa Inquisição; explorou escravos no Novo Mundo; ignorou o genocídio nazista dos judeus; dá cobertura à equivocada Teologia da Libertação — sem deixar em branco os escândalos de pedofilia.

É surpreendente que uma instituição humana, com uma história lamentável sob o aspecto humano, resista à prova do tempo.

Nem as feministas ousaram enfrentar o machismo de uma instituição que as trata como uma segunda classe. A elas, que são a base da transmissão do catolicismo aos filhos, não é reconhecido o direito da igualdade com os homens nos ofícios religiosos.

Não é menos surpreendente o fato de a Igreja pregar a caridade e criticar o regime capitalista, quando é a primeira a não fazer caridade com o seu patrimônio, mesmo possuindo a maior riqueza entre todas as empresas do mundo e ser a mais capitalista de todas as suas congêneres. O que é uma hipocrisia.

O que esperar do novo papa Leão XIV?

A nomeação do papa Leão XIV remete à questão principal:  irá voltar a Igreja à sua missão original de ser a guia espiritual dos homens ou manter-se-á voltada para o materialismo? Ele irá harmonizar os católicos com a sua religião ou manterá a linha política?

Nota — Por questão ética, devo esclarecer ser agnóstico, um descrente de todas as religiões. Fui educado na religião católica, tendo inclusive cumprido  o voto agostiniano, o que me assegurou o direito ao Céu.

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