Com a promessa de modernizar e adequar o instituto às normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o contador e engenheiro mecatrônico Bruno D’Abadia assumiu a presidência do Ipasgo Saúde em março deste ano e, desde então, vem promovendo mudanças e correções de destaque no maior plano de saúde do estado de Goiás. Entre elas, talvez a mais visível no momento, está a retomada da cobrança de coparticipações dos beneficiários, represada desde o ano passado durante a transição do sistema de informática do Ipasgo Saúde, além do lançamento de novos planos dentro do instituto.
Esses novos produtos, regulamentados pela ANS, contam, segundo Bruno, com maior abrangência e eficácia nos tratamentos de saúde. Ele revela que, em apenas um mês, os novos planos já registraram mais de 4,5 mil pedidos de adesão. Nesta entrevista, o presidente do Ipasgo também admite a necessidade urgente de reajustar a tabela de pagamento dos prestadores de serviço do instituto, o que, segundo ele, será feito, mas com cautela. “O Ipasgo é um instituto deficitário. Ele se mantém porque o governo estadual cobre parte desse déficit, mas essa cobertura tem um limite. Nosso objetivo é tornar o Ipasgo cada vez mais sustentável”, afirma.
Bruno D’Abadia garante ainda que há um cenário mais estável no pagamento dos prestadores, que inclui um diálogo constante com médicos e demais profissionais vinculados ao plano, além de avanços na relação com os clientes, aspecto que recebeu, inclusive, novos canais de atendimento recentemente.
Ton Paulo – Em abril deste ano, o Ipasgo anunciou o retorno da cobrança de coparticipações dos beneficiários. Foi anunciado, também, um esquema de parcelamento, a depender dos valores. Como está sendo esse processo e por que houve essa retomada agora?
As coparticipações sempre foram cobradas. Trata-se de uma prática comum entre todas as operadoras de saúde, sejam elas nacionais ou locais. A coparticipação é, inclusive, um mecanismo que estimula o beneficiário a participar ativamente da gestão do seu uso do plano.
A lógica é que o beneficiário passe a refletir: “Vou realizar os procedimentos que realmente preciso, mas nada além do que eu preciso”. Esse modelo é regulamentado pela Agência Nacional de Saúde [ANS] e é perfeitamente normal. O Ipasgo, mesmo antes de estar sob a supervisão direta da ANS, já adotava a cobrança de coparticipações.
O que aconteceu foi o seguinte: durante a transição do sistema de informática responsável pela gestão assistencial do Ipasgo, ou seja, o sistema que se comunica com os prestadores, gera faturamentos e, consequentemente, as cobranças de coparticipação, infelizmente houve uma situação de insegurança quanto aos valores que seriam gerados. Diante disso, optou-se, na época, por suspender temporariamente a cobrança das coparticipações. A ideia era reprocessar corretamente todos esses meses, refaturar os procedimentos realizados e garantir que os valores cobrados fossem exatamente os devidos.

Quando assumi a presidência em março, esse trabalho já estava em andamento. Nós aceleramos o processo, priorizamos essa questão e reorganizamos a pauta para dar foco total a essa demanda, que era muito grande por parte dos nossos beneficiários.
Se você observar, até meados de março, metade das mensagens que recebíamos no Instagram do Ipasgo eram justamente pedidos como: “Cadê as coparticipações?”, “Voltem a cobrar as coparticipações”, “Está acumulando, vai gerar um saldo muito alto”. Ou seja, a principal demanda que víamos nas redes sociais era exatamente a regularização dessas cobranças.
Nosso primeiro passo foi evitar que o problema continuasse a se acumular. Focamos, então, em colocar em dia as cobranças mensais de coparticipação. Em março, conseguimos regularizar: as coparticipações de fevereiro foram processadas em março e cobradas em abril; as de março, processadas em abril e cobradas em maio. Assim, as cobranças mensais foram normalizadas.
A cobertura para situações em que você precisa de atendimento imediato, o Ipasgo oferece cobertura ampla e irrestrita. Se for necessária uma cirurgia de emergência, um medicamento de emergência ou uma internação, há garantia de leito
Faltavam, então, os valores retroativos, aqueles anteriores a janeiro deste ano. Esse foi o segundo passo. Concluímos o reprocessamento dessas cobranças no final do mês de abril e início do mês de maio. Assim, lançamos a cobrança desses valores retroativos, que correspondem a procedimentos realizados no segundo semestre do ano passado e em janeiro deste ano, todos devidamente auditados e conferidos.
Todos os nossos beneficiários estão acostumados com a cobrança da coparticipação. Na verdade, em algum momento do passado, eles pagavam a coparticipação antes de fazer o procedimento. Isso, inclusive, restringia demais.
Ton Paulo – Como está funcionando hoje, desde a retomada da cobrança?
Antes, se o usuário precisasse fazer um exame hoje, mas tivesse recebido o salário há 20 dias e não tivesse mais dinheiro disponível, ele teria que dar um jeito, pegar dinheiro emprestado, por exemplo, para conseguir pagar na hora. Hoje, a situação é diferente.
Agora, o beneficiário realiza os procedimentos sem nenhuma restrição imediata e paga a coparticipação de forma consolidada no mês seguinte. Ou, na verdade, cerca de dois meses depois, devido ao prazo de processamento. É um modelo muito melhor, que está funcionando muito bem. No entanto, havia um passivo a ser regularizado.
Esse passivo parou de acumular em março, mas ainda precisava ser resolvido. No final de março, por volta do dia 20 a 25, tomamos a decisão de acelerar o reprocessamento dessas cobranças para que os valores estivessem disponíveis no início de maio. Para garantir a maior transparência possível, convocamos uma entrevista coletiva e convidamos rádio, TV e jornais, justamente para que essa informação chegasse ao maior número possível de beneficiários.
Mesmo com uma divulgação intensa, com dezenas de posts no Instagram, publicações no site, matérias em jornais, rádio e TV, percebemos que, devido à ampla distribuição geográfica dos beneficiários do Ipasgo e à diferença de acesso à informação, ainda houve muitas dúvidas. Isso acabou gerando um aumento temporário no volume de atendimentos presenciais nas nossas unidades ao longo das últimas duas semanas. Agora, felizmente, o fluxo já está normalizado, tudo está funcionando muito bem.
Quanto à cobrança dos valores retroativos, optamos por realizar o parcelamento. Se cobrássemos todo o saldo acumulado de uma vez, sendo que ele corresponde a cerca de cinco meses e meio, isso poderia pesar demais no orçamento dos beneficiários. Por isso, decidimos parcelar esses valores para facilitar o pagamento.
Ton Paulo – Mas o reprocessamento já foi concluído? Tivemos a informação de que houve um atraso.
O reprocessamento teve um atraso, mas foi concluído em 90%. Existem, ainda, alguns prestadores de serviços que não nos enviaram as suas faturas para reprocessamento, mas já não é uma pendência do Ipasgo, mas sim de alguns prestadores, bem poucos.
Para ser preciso, para não afirmar que 100% do reprocessamento acabou, pode-se dizer que ainda há um residual. Mas esse residual não tem potencial para gerar nenhum tipo de impacto.
Ton Paulo – E como está funcionando o parcelamento?
As coparticipações, o saldo foi, o extrato total foi disponibilizado no site. E mostra todos os procedimentos que foram realizados, de agosto, setembro do ano passado até janeiro desse ano.
Nós adotamos, então, um esquema de parcelamento. Qualquer beneficiário pode optar por pagar à vista, se assim desejar, e, de fato, há pessoas que escolhem quitar tudo de uma vez para ficarem logo livres da dívida. Mas, para todos os que preferirem, já existe um parcelamento automático disponível.
Esse parcelamento é totalmente sem juros, sem correção monetária, sem multa, absolutamente isento de qualquer encargo adicional. Isso porque, naturalmente, o beneficiário não teve nenhuma responsabilidade no fato de ter deixado de pagar durante esse período. Portanto, não faria sentido aplicar qualquer penalidade.
O número mínimo de parcelas é cinco. Veja: os usuários passaram cerca de cinco meses e meio sem pagar as coparticipações, e o parcelamento mínimo acompanha isso — ou seja, na média, o beneficiário pagará por mês agora o que teria pago à época.

Mas esse é apenas o mínimo. O parcelamento pode chegar a até 24 parcelas, nos casos em que o valor acumulado da coparticipação for superior a R$ 10 mil. É importante ressaltar que, dentre os 590 mil beneficiários, esse perfil representa uma parcela muito pequena, no máximo, entre 150 e 170 pessoas, ou seja, uma fração mínima. Para esses casos, estamos oferecendo a possibilidade de parcelar o valor em até dois anos.
Vale lembrar: essas pessoas teriam pago essas coparticipações no próprio mês da execução dos procedimentos, ou seja, em cerca de cinco meses. Em média, quem acumulou mais de R$ 10 mil teria desembolsado aproximadamente R$ 2 mil por mês no ano passado. Agora, estamos oferecendo a opção de parcelar esse valor em 24 vezes, o que resulta em pagamentos mensais um pouco superiores a R$ 400.
Portanto, o formato de pagamento foi extremamente facilitado. O que percebemos é que pode ter havido alguma dificuldade de acesso à informação para parte dos beneficiários, mas, em termos de condições de pagamento, o modelo que oferecemos foi realmente bastante acessível.
Italo Wolff – O vencimento das coparticipações foi adiado duas vezes. Os beneficiários tiveram alguma dificuldade para pagar?
As pessoas tiveram dificuldade para obter seus boletos, mais do que para pagar. O principal ponto aqui não é nem um argumento, é uma constatação: nós temos um público que, em boa medida, é idoso. Nosso público idoso é bastante expressivo.
E, de modo geral, as ferramentas digitais não atendem bem esse público. Embora os boletos estejam disponíveis no site, muitos desses beneficiários não acessam a internet com facilidade. Como resultado, eles acabam buscando atendimento presencial. Isso gerou um aumento significativo na procura pelo atendimento presencial. Batemos vários recordes históricos no Ipasgo, nunca tivemos tantos atendimentos em um único dia como vimos nas últimas semanas.
Agora, o beneficiário realiza os procedimentos sem nenhuma restrição imediata e paga a coparticipação de forma consolidada no mês seguinte. Ou, na verdade, cerca de dois meses depois, devido ao prazo de processamento. É um modelo muito melhor
Justamente para facilitar o acesso daqueles que não conseguiram baixar o boleto de forma digital, e também para reforçar a comunicação, fizemos diversas campanhas. Mas percebemos que até mesmo pessoas com bom nível de familiaridade digital – na faixa dos 30, 30 e poucos anos – às vezes não estavam baixando os boletos pelo site. Em parte, isso pode ter ocorrido por falta de informação.
Por isso, o adiamento foi decidido para dar mais tempo a quem precisava do atendimento presencial, para que pudesse buscar o boleto, e também para ampliar o alcance da informação. Essa questão da comunicação com os beneficiários hoje é uma prioridade para nós. Já começamos um trabalho nesse sentido, com o lançamento de um novo número 0800. Por quê? Porque percebemos que esse público um pouco mais idoso prefere o contato por telefone, em vez de usar canais digitais.
Com isso em mente, estamos ampliando o atendimento telefônico, vamos fortalecer ainda mais o atendimento presencial e também avançar na comunicação ativa — com envio de mensagens SMS e e-mails. Curiosamente, a faixa etária 60+ usa pouco o computador ou o navegador, mas utiliza bastante o celular.
Todo mundo usa o celular hoje. Posso citar meus próprios pais, que têm 65 e 64 anos e usam o celular intensivamente. Por isso, estamos focando em gerar mais acesso via celular e fortalecer a comunicação ativa com SMS e mensagens diretas. Isso foi uma constatação importante: ao longo dos anos, talvez o Ipasgo não tenha dado a devida atenção à sua capacidade de comunicação com os beneficiários. Agora, estamos caminhando para reforçar essa comunicação.
Ton Paulo – O Ipasgo enfrentou algumas crises nos últimos meses, desde o ano passado, envolvendo o pagamento tanto de prestadores de serviços quanto de médicos. O instituto chegou a enfrentar paralisação de médicos. Na mesma época, foi anunciada a abertura de credenciamento para novos médicos. Como está a questão do pagamento de serviços desses profissionais e dos prestadores hoje? Foi normalizado ou ainda está em negociação?
O primeiro ponto é que alguns desses pagamentos estavam represados devido à falta de processamento dos últimos meses do ano passado. À medida que concluímos esse processamento, estamos realizando os pagamentos correspondentes.
No mês passado, por exemplo, efetuamos pagamentos referentes a uma diferença de valor nas consultas. Todos os médicos que tinham direito a receber um valor maior — e que ainda não haviam recebido — foram contemplados. Fizemos esses pagamentos integralmente, direcionados a médicos e pessoas físicas.
E o que ainda temos de pendência? Existem basicamente dois tipos de pendência. Primeiro, há casos de alguns prestadores que ainda não enviaram os arquivos necessários para o reprocessamento. Infelizmente, os médicos que prestaram serviços em hospitais específicos não podem ser pagos enquanto esses hospitais não nos enviarem as faturas e toda a documentação exigida. Portanto, dependemos do envio desses documentos, e estamos em contato constante com os hospitais e clínicas para resolver essa questão.

O segundo ponto vai além da simples falta de pagamento. Hoje, não estamos acumulando novos atrasos. os pagamentos estão sendo feitos em dia, em prazos justos. Comparativamente, há operadoras que pagam em prazos bem maiores que os nossos, outras um pouco menores, mas o nosso compromisso é manter um pagamento justo e pontual. Não estamos gerando nenhum déficit adicional; estamos apenas organizando o que ficou pendente.
Porém, existe uma outra questão que, em alguns momentos da comunicação, pode gerar a percepção, por parte dos prestadores e médicos, de que há falta de pagamento. Trata-se de divergências relacionadas a glosas. Ou seja, procedimentos que foram glosados durante o segundo semestre do ano passado. Para resolver isso, reabrimos o sistema, realizamos uma revisão completa dessas glosas, e os valores devidos foram devidamente pagos.
E o que são glosas? Glosa é o seguinte: o médico, o hospital ou o prestador, seja qual for a especialidade, nos envia uma fatura.Essa fatura detalha tudo o que foi realizado. Nossos auditores então analisam essa fatura e verificam: “Espera aí, aqui tem uma cobrança em duplicidade; aqui estão cobrando por um procedimento que não foi autorizado; aqui há um procedimento que não está no rol de cobertura; aqui consta que o beneficiário ficou internado até o dia X, mas estão cobrando também pelos dias X mais 1 e X mais 2”.
Hoje, não estamos acumulando novos atrasos. os pagamentos [a prestadores] estão sendo feitos em dia, em prazos justos. Comparativamente, há operadoras que pagam em prazos bem maiores que os nossos
Ou seja, trata-se de uma conferência para garantir que se pague exatamente aquilo que é devido, avaliando a pertinência dos procedimentos realizados em relação à cobertura prevista no plano. Esse processo de auditoria é feito sobre todas as faturas. A partir dessa análise, surgem as glosas. Ou seja, valores que são contestados ou não reconhecidos como devidos.
Por exemplo: o prestador nos envia uma fatura de um milhão de reais. Após a auditoria, conclui-se que o valor efetivamente devido é de 920 mil reais. Nesse caso, houve uma glosa de 8%. A própria ANS regulamenta as glosas, as auditorias. Isso tudo é previsto, não é novidade, não é exclusivo.
Em algum momento do ano passado, e reconhecemos isso, e talvez infelizmente porque o sistema ainda não estava suficientemente maduro, houve glosas indevidas. As que foram apresentadas para o Ipasgo, ou já foram resolvidas ou estão em processo de análise.
Ton Paulo – Então não há risco, por exemplo, de uma nova paralisação por questões de pagamento?
A gente tem um contato intenso com os profissionais, especialmente com os médicos. E existe, de fato, um anseio por uma revisão e um reajuste da nossa tabela. A tabela do Ipasgo, principalmente no que diz respeito às consultas, está bastante defasada. Não há, da nossa parte, nenhuma negativa em relação a isso, muito pelo contrário. Há um entendimento claro de que, sim, a tabela está defasada, e muito em breve pretendemos apresentar uma proposta de reajuste aos prestadores. Nossa intenção é realizar esse reajuste ainda na primeira quinzena de junho.
É evidente que nem tudo depende exclusivamente de mim; há todo um processo de análise e deliberação pelo conselho, entre outros trâmites. Mas essa previsão existe, justamente para atender à demanda mais urgente, que é a defasagem no valor das consultas. A consulta é o primeiro passo. Nossa tabela contempla milhares de itens, como procedimentos, honorários, materiais, entre outros. Haverá outras atualizações, mas sempre com a seguinte premissa: o Ipasgo é um instituto deficitário. Ele se mantém porque o governo estadual cobre parte desse déficit, mas essa cobertura tem um limite. Nosso objetivo é tornar o Ipasgo cada vez mais sustentável.
Hoje, o déficit gira em torno de 21 a 22 milhões de reais, e quem realiza esse aporte é o governo do Estado. É importante destacar que esse aporte cobre o déficit gerado pelo atendimento aos servidores estaduais, que representam cerca de metade dos beneficiários do Ipasgo. No entanto, o instituto atende mais de 100 municípios. Para esses demais atendimentos, há um cálculo diferente de capital de risco.
Resumindo: o governo cobre o déficit, e a partir disso o Ipasgo equilibra suas contas. Mas é importante refletirmos: o governo terá condições de cobrir, indefinidamente, qualquer valor de déficit? Não. Todo orçamento público é restrito e baseado em escolhas. A cada 50 ou 100 milhões de reais adicionais que o governo precise aportar, esse recurso terá que ser retirado de outras áreas.
Portanto, há uma responsabilidade e um compromisso do Ipasgo em manter o menor déficit possível, ao mesmo tempo em que remunera adequadamente os prestadores e garante um serviço de qualidade para os beneficiários. É claro que algumas demandas dos prestadores são extremamente urgentes, em especial, a questão do valor das consultas. Além disso, precisamos tornar nossa tabela mais competitiva para atrair profissionais de especialidades que hoje são mais difíceis de encontrar, como neuropediatras e gastropediatras, por exemplo, que são mais raras.
Ton Paulo – Como está a questão da telemedicina, que foi disponibilizada pelo Ipasgo recentemente? Está funcionando, tendo boa adesão?
Nossa telemedicina foi contratada recentemente e começou a funcionar em fevereiro, inicialmente em um formato que eu classificaria quase como piloto, para entendermos melhor como ela funcionaria. Os resultados têm sido muito positivos, principalmente porque a telemedicina consegue oferecer algo que é difícil de viabilizar na rede própria: a disponibilização de especialidades raras. Isso acontece porque o médico não precisa estar vinculado diretamente ao Ipasgo nem estar presencialmente em Goiânia.
Isso é importante porque algumas especialidades são muito raras, e os profissionais podem atender de forma remota, oferecendo seus serviços ao Ipasgo sob demanda. Por isso, a telemedicina tem sido bastante procurada justamente por essas especialidades que são mais difíceis de encontrar ou que possuem um tempo de espera maior aqui na rede física, como endocrinologia, nutrição e psicologia.
No caso da psicologia, por exemplo, há uma demanda constante. Muitas pessoas precisam fazer sessões de terapia, muitas vezes com encaminhamento de psiquiatras ou outros médicos, mas nem sempre têm tempo ou querem se deslocar até um consultório ou clínica. A telemedicina, nesse contexto, facilita muito, pois permite que as sessões sejam feitas no conforto da casa do paciente, aumentando a adesão ao tratamento. Com isso, temos observado uma aceitação muito grande da telemedicina. É claro que ainda podemos avançar, e com certeza avançaremos.

Agora, já no terceiro mês de operação desse modelo, estamos coletando dados para entender melhor como seguir adiante. Isso inclui possivelmente revisar contratos e modelos, não para favorecer, mas para otimizar o uso da telemedicina, valorizando aquilo que ela faz de melhor e evitando gastos em áreas em que o seu impacto seja menor.
Italo Wolff – Recentemente, o instituto abriu novos planos para atender a uma exigência da ANS. Que exigência foi essa?
No momento em que o Ipasg recebeu seu registro junto à ANS, passou a ser obrigado a comercializar apenas planos regulamentados. A lei que instituiu o Ipasgo SSA garantiu a todos os beneficiários dos planos antigos, chamados básico e especial, o direito adquirido de permanecer nesses planos. Isso não era uma obrigação, pois, conforme a legislação nacional e as regulamentações da ANS, a lei local poderia ter determinado a migração compulsória para os planos regulamentados. Contudo, essa não foi a opção adotada na época, o que considero uma decisão muito acertada, pois assegurou o direito daqueles que já estavam vinculados aos planos anteriores.
No entanto, esses planos antigos não são regulamentados. Portanto, uma vez que o Ipasgo obteve o registro da ANS, ficou proibido de comercializar esses planos antigos, ou seja, não é mais permitido que novos beneficiários ingressem nesses planos. Novos beneficiários só podem aderir aos planos regulamentados. Assim, esses planos foram aprovados pela ANS e, para que pudessem ser operacionalizados, foi necessário firmar um convênio com o Estado.
Esse convênio foi concluído no final de abril, e desde então as adesões e migrações para os novos planos estão abertas.
Isso não significa apenas uma obrigação para com a ANS, mas também uma necessidade urgente, pois milhares de servidores do Estado estavam sem cobertura desde meados do ano passado, quando a ANS determinou que os planos antigos seriam congelados a partir daquela data.
Assim, servidores comissionados e efetivos que ingressaram no Estado ficaram sem planos de saúde. Por isso, estamos registrando um ritmo muito acelerado de pedidos de adesão. Em apenas 30 dias, já recebemos quase 4,5 mil solicitações, das quais mais de 2 mil já foram efetivadas, um processo que depende da conferência e complementação de informações, já que muitos cadastros apresentam dados incompletos. Portanto, a adesão está sendo bastante expressiva, motivada principalmente pela busca desses servidores por cobertura de saúde, já que estavam desassistidos.
Ton Paulo – Há reclamações quanto ao atendimento pelo 0800 do Ipasgo. Muitos beneficiários reclamam que não conseguem ser atendidos por lá. O instituto corrigiu as falhas deste canal? Como está hoje?
O 0800 foi, de fato, um problema ao longo das últimas semanas. E isso ocorreu por um motivo simples: um motivo técnico. Havia, sim, um número 0800 disponível, mas esses contratos de prestação de serviço preveem um número máximo de ligações a serem atendidas. Ou seja, você contrata o serviço para até um determinado volume de chamadas.
No caso do Ipasgo, operando no regime anterior, com dúvidas consideradas normais, o número contratado – um contrato mais antigo, inclusive – era suficiente pra demanda existente. Com as novas demandas, decorrentes dos novos planos, da coparticipação e de outras mudanças, o volume de ligações ultrapassou o limite contratado. Além disso, também superou a nossa capacidade de disponibilizar atendentes suficientes para absorver esse aumento. Em alguns casos, mesmo que tivéssemos mais licenças disponíveis, não teríamos atendentes em número adequado para realizar o atendimento.
Há um entendimento claro de que, sim, a tabela está defasada, e muito em breve pretendemos apresentar uma proposta de reajuste aos prestadores. Nossa intenção é realizar esse reajuste ainda na primeira quinzena de junho
Diante disso, o que fizemos? É claro, o contrato em vigor não podia ser alterado, ele já estava em execução, sem possibilidade de ampliação imediata da sua capacidade. Por isso, buscamos um novo número, que já foi disponibilizado. Esse novo número complementa o anterior. Agora, temos dois números em funcionamento, o que significa que a capacidade de atendimento foi dobrada. Além disso, também ampliamos a equipe de atendentes.
A criação desse novo número teve justamente esse objetivo. É evidente que gostaríamos que ele estivesse ativo já na semana retrasada, ou até antes. Porém, a formalização de um novo contrato, a instalação do sistema e o treinamento da equipe levam algum tempo. Vale destacar que o treinamento dos atendentes da nova plataforma foi realizado em tempo recorde. Não conheço nenhuma empresa que tenha implementado um novo 0800 com tanta agilidade.
Portanto, a medida adotada foi de ampliação da capacidade de atendimento, com mais ligações disponíveis e mais atendentes. Não se trata de uma substituição, mas de um acréscimo. Hoje, temos dois números em operação. Se um estiver ocupado, é possível tentar o outro, pois haverá disponibilidade.
Italo Wolff – Qual é o principal motivo de judicialização hoje do Ipasgo?
Em geral, o principal motivo de judicialização é a garantia de atendimento daquilo que não está presente no rol de cobertura. Então, há, talvez, uma não compreensão, ou alguma complexidade, no entendimento do que é ou não é coberto pelo plano.
Inclusive, o STF está, neste momento, com pauta para discutir o rol da ANS: o quão taxativo ele é ou o quão exemplificativo pode ser. Portanto, não se trata de um tema restrito ao nível básico. Compreender a abrangência do rol de cobertura e até onde vai ou não vai a obrigação de cobertura é uma questão de relevância nacional, atualmente em debate no Supremo Tribunal Federal. De modo geral, esse é o principal fator de judicialização na área da saúde.
Em essência, trata-se de pedidos de cobertura para procedimentos que, em tese, não estão previstos no contrato, mas que o beneficiário e seu prestador de serviços acreditam que deveriam ser incluídos. Essa discussão envolve uma série de direitos, entre eles, obviamente, o direito à saúde e à vida, e, ao mesmo tempo, levanta o desafio da sustentabilidade financeira dos planos. Afinal, se um plano for obrigado a cobrir todos e quaisquer procedimentos, independentemente de sua natureza ou complexidade, ele se tornará financeiramente inviável.
Italo Wolff – Quais as vantagens dos novos planos do Ipasgo? Eles têm tido boa adesão?
A adesão tem sido boa. Em um mês, já tivemos 4,5 mil pedidos. Muitas pessoas estão buscando o plano. É uma situação interessante: de um lado, quem já está dentro às vezes acha que a autorização está demorando ou que a cobrança da coparticipação foi confusa. Mas, por outro lado, quem está de fora quer entrar. E por que querem entrar? Porque o Ipasgo é o maior plano de saúde de Goiás, é 50% maior que a Unimed, que ocupa o segundo lugar.
O institto é muito grande e, por isso, sua rede de atendimento também é muito ampla. Já os planos privados, em geral, possuem redes bem menores. Isso acontece porque eles têm menos beneficiários e, portanto, negociam com uma rede mais limitada: um hospital de referência aqui, uma clínica ali. O Ipasgo, por sua vez, tem uma rede bastante aberta. Há prestadores de serviço em praticamente todos os municípios que possuem beneficiários. No mínimo, existe um posto de coleta de exames laboratoriais. A amplitude da rede é realmente grande.

A cobertura para eventos de urgência, emergência e internações é excelente. É curioso observar que, quando se trata de procedimentos eletivos, como consultas, há algum nível de crítica, por exemplo, a pessoa tentando marcar uma consulta com determinada especialidade e enfrentando demora. Mas, no que se refere ao que em outros países é conhecido como seguro de saúde. Ou seja, a cobertura para situações em que você precisa de atendimento imediato, o Ipasgo oferece cobertura ampla e irrestrita. Se for necessária uma cirurgia de emergência, um medicamento de emergência ou uma internação, há garantia de leito. Se o hospital onde a pessoa foi atendida não tiver leito disponível, o instituto, em conjunto com o prestador, busca vaga em outro hospital e providencia a ambulância para realizar a transferência.
Assim, quando pensamos no plano apenas como acesso a consultas, há, sim, espaço para avançar. Mas, se pensamos no Ipasgo como um seguro de saúde, o atendimento é amplo e irrestrito. E as pessoas percebem isso. É claro que elas desejam fazer consultas e exames pelo plano, mas o que as deixa mais seguras é saber que, se ocorrer algo grave, a cobertura estará garantida — assim como acontece com um seguro de carro. Por isso, temos muito a melhorar, mas, no que diz respeito a pronto atendimento, emergência e urgência, o Ipasgo oferece hoje uma cobertura sem precedentes em Goiás, com um custo menor do que qualquer outro plano comercializado no Estado.
Além disso, os novos planos incluem mais de 1,9 mil procedimentos adicionais em comparação com os antigos. Por exemplo, a colocação e acompanhamento de DIU, que tem grande demanda e não era coberta nos planos antigos, agora está incluída. A aplicação de vitaminas injetáveis, como vitamina D, que é muito procurada, uma vez que hoje temos menos exposição ao sol, também passou a ser coberta. Cirurgias refrativas, que não eram cobertas nos planos antigos, agora estão incluídas.
Em relação ao custo, para algumas faixas etárias, principalmente as mais avançadas, o valor é um pouco mais alto. Já nas faixas mais jovens, de zero a dezoito anos, até vinte e cinco, até trinta anos, o plano chega a ser mais barato que os antigos, especialmente devido ao subsídio de cem reais que o governo do Estado concede. Na média, o custo sobe um pouco em algumas faixas etárias, mas o que o plano oferece a mais compensa muito. A cobertura de medicamentos oncológicos complexos e modernos no novo plano, por exemplo, é significativamente maior.
O post Bruno D’Abadia: “A tabela do Ipasgo é bastante defasada. Vamos levar uma proposta de reajuste para os prestadores de serviço” apareceu primeiro em Jornal Opção.