Apoio do governo deve ser propulsor, e não ‘poltrona’ para pré-candidato se acomodar

Em entrevista dada recentemente ao Jornal Opção, o Delegado Waldir Soares, presidente do Detran de Goiás e pessoa de confiança do governador Ronaldo Caiado no partido União Brasil, fez uma declaração que pode ter atrapalhado o sono de boa parte dos pré-candidatos a prefeito no estado. Segundo o ex-deputado federal, os nomes que conseguiram angariar a confiança de Caiado e hoje contam com o apoio da base governista precisam trabalhar para viabilizar seus nomes se quiserem manter esse suporte.

A fala, apesar de parecer inofensiva e até óbvia para muitos, sinaliza um cenário claro e, quiçá, preocupante para os aspirantes ao cargo de prefeito. A mensagem é uma só: o aval dado pelo governador para a disputa não representa, nem de longe, uma “bênção” eterna e irrestrita. Pelo contrário. Ao declarar apoio a um determinado nome, Caiado deixa claro que aquilo se trata de um voto de confiança para que o pré-candidato prove que é realmente viável na corrida eleitoral e tem capacidade de construir articulações sólidas e o respeito e simpatia do eleitorado. Caso não, o apoio dado pode ser, naturalmente, revisto e retirado

O governador tem, hoje, olhado para uma estrada que já se bifurca entre o foco em seu segundo mandato e a intensificação dos trabalhos para sua futura candidatura ao Palácio do Planalto. E com a experiência política que tem, Caiado sabe que cada movimento na política é uma pedra a mais no processo de pavimentação de seu caminho até 2026. Assim sendo, o apoio declarado e mantido a um nome que cai na estagnação e na inexpressividade política em pleno ano eleitoral não só não acrescenta ao projeto almejado pelo chefe do Executivo estadual, como é capaz de ser um estorvo no meio dele.

A fala de Waldir, nesse sentido, foi certeira. “Eles precisam trabalhar para se viabilizar. Você apostaria em alguém que acha que vai perder? Ninguém vai apostar em um candidato assim”. Ou seja: a partir do acordo firmado, o pré-candidato precisa usar a estrutura e as alianças propiciadas pela base governista como molas, e não como “poltronas de descanso”. Em Goiânia, ao que tudo indica, Sandro Mabel, escolhido do governador, parece estar empenhado em mostrar que entendeu o recado.

Levou tempo até que o nome de Mabel foi consagrado como o pré-candidato à Prefeitura de Goiânia pela base caiadista. Guiado pelas pesquisas qualitativas, Caiado e sua base faziam questão que o escolhido tivesse o perfil gestor aclamado pelo eleitorado goianiense. Outros nomes foram testados, entre eles um com perfil semelhante ao de Mabel – o ex-prefeito de Trindade, Jânio Darrot -, mas no final, a bola ficou mesmo com o presidente da Fieg.

Conforme apurado pelo Jornal Opção, a agenda do empresário tem sido intensa, com dezenas de encontros e reuniões com lideranças políticas, empresariais, sindicais e da indústria (outro ponto a seu favor. Afinal, como presidente de uma entidade industrial, Mabel tem acesso facilitado e natural aos diálogos com representantes da categoria e suas demandas). O empresário, desde que aceitou a “intimação” do governador para ser o pré-candidato da base, deixou claro que não queria, mas que agora que aceitou, mergulhou de cabeça nas articulações.

Há quem diga, inclusive, que Mabel não desistiu de trazer para seu lado o pré-candidato do PSD, Vanderlan Cardoso – que pode, e vai, disputar o mesmo eleitorado de Mabel. A intensidade de seus avanços na articulação demonstram que, sim: há um comprometimento com a missão a ele incumbida. Porém, a boa vontade e o puro esforço não são suficientes para manter o empresário como o pré-candidato da base. Para isso, Mabel precisará mostrar que está se viabilizando e sendo absorvido pelo gosto do eleitorado – fato que deverá ser demonstrado, por exemplo, nas próximas pesquisas de intenção de voto. Caso isso não ocorra, volta a ecoar a questão levantada por Waldir: “Você apostaria em alguém que acha que vai perder?”.

O mesmo acontece em Anápolis. Após conversas e intensas articulações, a base caiadista escolheu para apoiar a servidora e professora Eerizânia de Freitas. O nome dela foi alçado pelo prefeito anapolino Roberto Naves, que deu um exemplo prático de que o apoio da máquina costuma ficar onde o “céu é claro e limpo”.

Após perder de vez o apoio do PL – que ainda estava em negociação – e vislumbrar que também não teria o suporte do governador, o vice-prefeito Márcio Candido também ficou sem o apoio de Naves, que até então vinha bancando seu nome para a disputa à Prefeitura de Anápolis. No lugar de Candido, entrou Eerizânia, que já chegou ao jogo herdando o apoio de uma importante ala Anapolina: as lideranças evangélicas.

À pré-candidata foram dados “a faca e o queijo”. Agora, seu entorno aguarda que ela saiba usá-los para se consolidar como uma candidata capaz de superar a principal concorrência: um certo Antônio Gomide, deputado estadual e ex-prefeito e que aparece nas últimas pesquisas de intenção de voto com mais de 40% – à frente de outros nomes como Márcio Correa (pré-candidato do PL, apoiado pelo bolsonarismo) e da própria Eerizânia.

É claro, há de se levar em conta que a professora começa a jogar agora, e tem trabalhado com afinco para fazer jus à estrutura e apoio que lhe foram dados. Mas como dito, o trabalho precisa dar resultados, e rápido. Pois o tempo é curto, e a paciência também.

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