Acesso de jornais vem mais do Google do que do Instagram

Assim que uma nota é publicada na coluna Bastidores, do Jornal Opção, a redação recebe uma mensagem da fonte citada: “Coloque no Instagram. Porque vai bombar e o acesso vai aumentar”.

De fato, a notícia divulgada no Instagram “bomba”. Mas isto não equivale a acesso para o jornal. Porque a rede social é um ambiente de segurança máxima: uma vez lá, o leitor dificilmente sai para verificar uma nota ou uma reportagem. A leitura e o debate se dão lá.

Os jornais devem entender seu material no Instagram como um “produto” à parte — quer dizer, praticamente um outro produto. Mas não devem esperar que acessos cheguem de lá. Por isso, há jornais que, entendendo de maneira adequada como funciona a rede, já estão produzindo material exclusivo para o Instagram e conseguem, inclusive, algum faturamento comercial.

Se o Instagram, apesar de comentar bem as produções dos jornais, não gera acesso substancial, de onde vem o acesso dos jornais, revistas e blogs?

O Facebook (e o X), se bem explorado, pode render mais acesso para a imprensa do que o Instagram. E por um motivo prosaico: o link, postado lá e acessado pelos leitores, remete diretamente às reportagens. O que não ocorre no Instagram.

Mas o maior acesso dos jornais vem dos sites de busca, como Bing e, sobretudo, Google. Em alguns casos, de 60% a 70% dos acessos são oriundos do Google. O restante advém do acesso direto no jornal. As redes sociais enviam acesso, mas não tão expressivo.

Os jornais são tão dependentes do Google, para aumentar seu acesso, que, assim que o site de busca faz mudanças no seu algoritmo, eles têm de se adaptar às novas regras. A dependência é grande, até muito grande. Talvez incontornável.

Dependendo da inadequação dos jornais ao Google, o acesso — a audiência diária — pode cair. Num mês pode-se ter 6 milhões de acessos e, no seguinte, 3 milhões. Sem que o conteúdo tenha sido modificado de maneira ampla.

A dependência do Google é tão grande que a edição do material jornalístico tem de ser feita pensando na maneira como o site de busca vai indexá-lo. Belos títulos de revista, como “O ovo da serpente”, não funcionam mais. São detalhes que chamam a atenção, porque são mais facilmente indexáveis pelo Google e, portanto, atraem a atenção dos leitores, o que pode gerar audiência.

O Google e o Facebook faturam com os jornais e, por isso, sobretudo o primeiro, operam para determinar o que tem acesso e o que não tem. Os jornais podem renunciar ao que é importante para aderir apenas àquilo que obtém grande audiência? Não.

Os jornais evidentemente têm de se preocupar com audiência — porque há competição no mercado —, mas não podem ceder inteiramente às “ordens” do Google e outras big techs. É preciso buscar o equilíbrio. É crucial investir em material de qualidade, ainda que não obtenha grande acesso. Mas não há como escapar das reportagens arrasa-quarteirões.

Há jornais que estão obtendo grande acesso com reportagens sensacionalistas sobre política, animais fofos e, também, turismo (refúgios, cachoeiras, hotéis etc). O que parecia um “nicho”, digamos assim, ganhou papel central em alguns meios de comunicação. Há uma tendência a se reduzir o espaço de política e economia — o que, do ponto de vista das necessidades reais da sociedade, do público, não é uma decisão saudável. Os indivíduos precisam ler aquilo que pode até não diverti-los — o jornalismo se tornou entretenimento —, mas é crucial para mantê-los informados sobre o mundo, seu país e sua cidade.

Editores e repórteres precisam ficar atentos ao que se disse acima. Porque diz respeito ao que estão fazendo — ou deixando de fazer — no dia a dia.

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